A PM da Paraíba nas lutas contra a Coluna Prestes

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       A Coluna Prestes foi a denominação de um grupo de revolucionários desertores do Exército, que sob o Comando do Major Carlos Prestes, desafiou o  Governo Federal, percorrendo vários Estados, durante todo o período do Governo de Artur Bernardes.  A Paraíba foi um dos Estados  por onde a Coluna Prestes passou e recebeu resistência da Polícia Militar.  Neste trabalho vamos abordar esse tema, de forma mais especifica sobre as lutas desse grupo com a PM da Paraíba

 

1. A Formação da Coluna

a)    A Revolta de 1922

 
Desde o término da Guerra do Paraguai que segmentos do Exército pugnavam junto a hostes políticas, por maior atenção e fortalecimento da Instituição, pleiteando seu reaparelhamento e modernização. A indiferença e, às vezes, até a discriminação, demonstrada pela classe política a essa causa, fez nascer um sentimento de insatisfação dentro do Exército, que foi pouco a pouco se acentuando.
Em 1910, a campanha sucessória a Presidente da República, disputada pelo Marechal Hermes da Fonseca e Rui Barbosa, foi polariza­da em duas correntes: a dos Militaristas, seguidores de Hermes da Fonseca e dos Civilistas, partidários de Rui Barbosa.
Hermes da Fonseca foi eleito, mas não pode desenvolver seu plano de apoio e modernização das Forças Armadas, em razão de pressões políticas.
Em 1922, ocorreu a sucessão de Epitácio Pessoa, que tinha introduzido sensíveis melhoramentos nas Forças Armadas, com a reforma do Exército, o convite de uma missão francesa para orientar novos processos de Instrução e Combate, e a construção de muitos Quartéis.
Disputava a Presidência, apoiado por Epitácio Pessoa, Artur Bernardes, Governador de Minas Gerais. Pela oposição candidatou-se Nilo Peçanha, que foi Presidente de 1906 a 1910, período em que foi criado o Serviço Militar, o que conferia a esse candidato a simpatia dos integrantes das Forças Armadas.
Durante a campanha foi publicado em um jornal do Rio de Janeiro, uma carta, atribuída a Artur Bernardes, fazendo sérias críticas aos Militares.
Esse fato acirrou os ânimos entre os integran­tes das Forças Armadas e os partidários do candidato do Governo. Na troca de críticas, resultou na prisão do Marechal Hermes da Fonseca, decretada por Epitácio Pessoa. A prisão do maior líder dos Militares agitou ainda os ânimos.
Começou então a se cogitar um movimento armado entre os Militares. Tropas foram concentradas na Fortaleza de Copacabana, de onde no dia 05 de julho de 1922, foram feitos disparos em direção ao Quartel, onde o Marechal Hermes fora preso.
Os insurretos contavam com o apoio de Tropas sediadas na Vila Militar e em Realengo. Nesses locais a revolta foi sufocada. Houve, então luta contra os amotinados na Fortaleza de Copacabana, resultando a prisão de seus líderes, com o desfecho da famosa caminhada dos 18 do Forte, pelas calçadas de Copacabana.Estava sufocado o movimento, mas as ideias Revolucionárias permaneceram.

b)    A Revolta Gaúcha de 1923 e a revolta de 1924

Borges de Medeiros governava o Rio Grande do Sul desde 1899. Em 1922 tentava nova reeleição. Pela Constituição da República, situação como essa não podia acontecer, mas a Carta Gaúcha permitia o que gerava grande insatisfa­ção do povo e da classe política daquele Estado. Em 1922, a oposição indicou um velho político para as disputas. Era Assis Brasil.
A Campanha foi desenvolvida em clima tenso. Borges de Medeiros foi eleito, mas a oposição alegou fraude.
Borges de Medeiros toma posse, e em todo Estado teve início em 1923, uma luta armada para sua deposição. Por intermediação de Artur Bernardes, chegou-se ao fim da luta com a promessa de Borges de Medeiros não mais disputar o Governo na próxima eleição. Os ânimos serenaram, porém restaram ressentimen­tos. Com a vitória de Artur Bernardes, alguns segmentos da oposição passaram a conspirar em São Paulo.
O General Izidro Dias Lopes, amigo de Nilo Peçanha, liderou um movimento militar que contou com a participação do Capitão Juarez Távora, Major Miguel Costa e Tenente Siqueira Campos, este atuando em clandestinidade, por ter participado da Revolta do Forte de Copacaba­na, em 1922.
Em poucos dias os Revolucionários tomaram a Capital de São Paulo. Porém, o Governo, arregimentando Tropas sediadas em outros Estados, e contando com a participação de algumas Polícias Militares, cercou os Revolucionários.
Sem condições de enfrentar os legalistas, os Revolucionários, sob o Comando do General Izidro Dias Lopes, se dirigiram ao Paraná. Do Paraná, o General Izidro Lopes enviou Juarez Távora e Siqueira Campos, para tentar insuflar Tropas no Rio Grande do Sul, onde conseguiram muitos adeptos, ainda ressentidos com o resultado das lutas ocorridas no ano anterior naquele Estado.
O principal articulador dos Revolucionários Gaúchos era o Capitão Luiz Carlos Prestes. De imediato, Tropas do Governo partiram no encalço dos Comandados de Prestes, que foram obrigados a se dirigir para o Paraná, onde se encontraram com o grupo do General Izidro Lopes.
Os 800 homens vindos de São Paulo, e os 700 vindos do Rio Grande do Sul, se uniram formando um só grupo, que com a saída do General Izidro, que ficou exilado no Paraguai, passou a ser Chefiado pelo Major Miguel Costa, ficando conhecida como a Coluna Prestes.
Perseguida por Tropas Legalistas, e disposta a não se entregar e a não dar sossego ao Governo, enquanto Artur Bernardes permanecera no poder, a Coluna Prestes percorre quase todo o Território Nacional.  Necessitando, permanentemente de mantimentos, a Coluna se abastecia de saques que praticava nas cidades por onde passava.
Para evitar que o Governo concentrasse Tropas suficientes para lhe combater, a estratégia da Coluna era a velocidade de marcha e a constante mudança de direção, que impedia o confronto direto com os legalistas. Em todos os Estados por onde a Coluna passava, os Governos desenvolviam esforços para combatê-la.
Em fevereiro de 1926, a Coluna Prestes, vinda do Sertão do Ceará e do Rio Grande do Norte, passou pela Paraíba, ocasião em que travou lutas com a Polícia Militar, na época com a denominação de Força Pública.

2. Preparação da Defesa

 
Com as notícias da possibilidade da Coluna Prestes invadir o território paraibano, o Presidente do Estado João Suassuna convocou o Comandante da Polícia Militar, o Tenente Coronel Elísio Sobreira, para, juntos, elaborarem o plano de defesa.
Nessa época, a Corporação era denominada de Força Pública.
A estratégia montada consistia, basicamente, nos seguintes pon­tos: a) deslocamento de um grande efetivo para a área de fronteira, onde era mais provável o ingresso da Coluna; b) Preparação de emboscadas à Coluna, principalmente nos boqueirão afastados das Áreas urbanas; e c) Reforço dos Destacamentos das principais cidades por onde a Coluna poderia passar.
Para a realização dessa estratégia, o Governo contava com o apoio de muitos civis agrupados e armados por lideranças políticas locais, organizações civis voluntárias de outros Estados, Forças Regulares do Exército e de outras Polícias Militares.
Pela direção que a Coluna tomava, diante dos combates que recebia nos Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, o local mais provável de seu ingresso na Paraíba seria a cidade de Belém, no Alto Sertão.
Inicialmente, um contingente de aproximadamente 200 homens, Comandados pelo Capitão Manuel Viegas, deslocou-se da Capital do Estado para Cajazeiras, aonde chegou a 20 de janeiro de 1926. Desse efetivo fazia parte os Tenentes Elias Fernandes, João Costa e Ascendino Feitosa.
No dia 29 daquele mês, o Tenente Coronel Elísio Sobreira, chegou a Cajazeiras, com mais efetivo recrutado em diversos pontos do Estado, e juntamente com Voluntários completa um total de 400 homens. Esse efetivo foi deslocado para a cidade de Belém, com a finalidade de impedir a entrada da Coluna na Paraíba. O Tenente Coronel Sobreira se instalou em São João do Rio do Peixe, de onde Comandava toda Operação.
Na cidade de Pombal, a defesa foi organizada pelo chefe político José Queiroga, com o apoio do Deputado José Pereira, vindo de Princesa Isabel para tal fim, a pedido do Presidente Suassuna. 
A cidade dispunha de cerca de 100 civis armados para a luta. Entre os diversos grupos existentes, achava-se um chefiado por João Parente, figura muito conhecida naquela região. Em Patos, sede do 2º Batalhão, instalado no ano anterior, o Capitão Irineu Rangel, Comandante daquela Unidade contava com um efetivo de 40 homens aproximadamente e maior número de civis, organizados pelo líder político da região, Miguel Sátyro.
No dia 28 de fevereiro, o Tenente José Maurício partiu da Capital com 100 homens em direção ao Sertão. No embarque dessa Tropa houve muitas manifestações de civismo, que contou inclusive com a presença do Presidente Suassuna.
No dia seguinte, o Tenente Maurício deixou 50 homens do seu efetivo para fazer a defesa de Pombal e seguiu com o restante para São João do Rio do Peixe, se juntando com o Tenente  Coronel Sobreira, que já contava com mais 45 homens. A cidade de Catolé do Rocha estava guarnecida também por um grupo de 40 civis organizados por Anacleto Suassuna. Piancó teve seu Destacamento reforçado no dia 4 de fevereiro.
O Destacamento que era Comandado pelo Sargento Arruda, e contava com mais cinco Soldados recebeu o Tenente Antônio Benício e mais 10 Soldados, totalizando 17 homens. Em Sousa, Haroldo Nazaré, chefe político, tinha organizado 50 homens para lutar contra a Coluna.

3. A Luta

 
Informada de que a Tropa do Capitão Viegas tinha tomado posição em Belém, para impedir seu ingresso na Paraíba, a Coluna desviou a rota e entrou no Estado, entre Belém e São João do Rio do Peixe, tomando o rumo de Sousa, no dia 5 de fevereiro.
Ao tomar conhecimento desse fato, o Tenente Coronel Sobreira deslocou 20 dos seus homens para Sousa e determinou a José Pereira, que para lá deslocasse mais 30 dos seus homens que defendiam Pombal.
O Tenente José Guedes que Comandava o Destacamento de Princesa Isabel, tinha recebido ordens para se deslocar para Sousa, o que foi feito a pé.
No dia 8 de fevereiro, a Coluna se aproximou de Sousa e se dividiu em duas partes. Uma frente de aproximadamente 100 homens, sob o Comando do Capitão José Alberto seguiu em direção a Pombal e outra constituindo o grosso da tropa com mais de 600 homens, seguiu rumo a Coremas.
A retaguarda da Coluna era defendida por Tropa Comandada por Siqueira Campos, e no grosso da Tropa seguiam o General Miguel Costa e o Coronel Carlos Prestes, patentes estas de caráter apenas revolucionário.
A Tropa do Capitão Viegas saiu de Belém em perseguição a Coluna. Em Rio do Peixe o Tenente Coronel Sobreira recebeu, ainda no dia 8, um reforço de 200 Voluntários civis, vindos do Ceará, enviando-os para Sousa.
Esse grupo saiu fazendo emboscada à retaguarda da Coluna, da cidade de Lastro até Coremas.
Grupos Comandados por José Pereira iniciaram a realização de emboscada ao grosso da Coluna que seguia rumo a Coremas. Nesse percurso, a Coluna sequestrou o fazendeiro Manoel Queiroga, irmão do chefe político de Sousa, José Queiroga.
Esse fato determinou a suspensão das emboscadas por se temer que se elas continuassem, a vida do fazendeiro estaria em perigo.
A Patrulha do Tenente Guedes, que vinha de Princesa Isabel a pé, não foi avisada da decisão de não mais efetuarem emboscadas. Dessa forma, nas proximidades de São Francisco, em Sousa, ocorreu um encontro entre a patrulha do Tenente Guedes e a retaguarda da Coluna, ocasião em que foram registradas várias baixas na Tropa Revolucionária.
Com a passagem do grosso da Coluna por Sousa, toda a Tropa ali instalada seguiu em perseguição aos Revolucionários.
Na tarde daquele dia, a cidade de Coremas foi ocupada pelos Revolucionários. Nessa mesma data, a parte da Coluna Comandada por João Alberto, denominada de Flanco Esquerdo, passou por fora de Pombal.
A essa altura o Tenente Benício tinha saído de Patos para levar arma e munição para a Tropa de Pombal. Eram 40 fuzis e 3.600 cartuchos. No caminho entre Patos e Pombal, o Tenente Bonifácio, que viajava em um caminhão, apenas com o motorista e um Sargento, foi surpreendido pela Tropa de João Alberto.
Sem poder resistir, o Tenente Benício foi preso e o caminhão incendiado.
Com a demora de comunicação do Tenente Benício com o 2º Batalhão, o Comandante daquela Unidade, Capitão Irineu Rangel, sabendo da possibilida­de do encontro daquele Oficial com a Tropa inimiga, preparou um efetivo e saiu a sua procura. 
Próximo a localidade de URTIGA em Malta, ocorreu um encontro entre as tropas de Rangel e de João Alberto, resultando o recuo dos Revolucionários. Grupos de civis comandados por João Parente saíram de Pombal para fazer emboscadas às Tropas inimigas na localidade de Paraty e Barreto, nas proximidades de Patos.
Na noite do dia 8 de fevereiro, a Coluna de João Alberto acantonou em Santa Gertrudes, proximidades de Patos.
A Tropa de Irineu Rangel, contornando Santa Gertrudes, voltou para Patos e ainda de madrugada organizou a defesa da cidade, construindo trincheiras com auxílio da população. Pela manhã, a cidade achava-se fortificada e pronta para a luta. Nesse mesmo dia, chegou a Patos, pelo trem, um contingente da Policia Militar do Ceará, para apoiar os legalistas. João Alberto desistiu da invasão e seguiu rumo a Catingueira, naquela mesma manhã.
Ainda na madrugada do dia 9, o Tenente Manoel Marinho partiu de Patos com um reforço de 10 Soldados para Piancó, aonde chegou às primeiras horas da manhã. Completava-se, assim um efetivo de 27 homens para a defesa naquela cidade.
A notícia da ocupação de Coremas pelas Tropas Revolucionárias chegou a Piancó no início da noite do dia 8, fazendo com que a população fugisse da cidade.

A chacina de Piancó

 
O Padre Aristides, líder político de Piancó, se dispôs a auxiliar a defesa da cidade com a ajuda de um grupo de amigos fortemente armado. A defesa da cidade foi organizada com a construção de piquetes nos seus diversos pontos de acesso.
O Tenente Manoel Marinho acabava de chegar e estava distribuindo munição nos piquetes quando teve início o tiroteio. Era aproximadamen­te 7 horas da manhã.
A Coluna ingressava na cidade tendo a frente o Capitão Luiz Farias, a cavalo, e trajando vistoso uniforme. Alguns escritos sobre os fatos indicam que a Coluna iniciou o tiroteio. Outros afirmam que o primeiro tiro foi dado pela defesa.
O fato é que o Capitão Luiz Farias foi morto instantaneamente, provocando grande revolta do restante da Coluna, que passou a atuar de forma selvagem.
Aproximadamente às doze horas, reconhecendo a desvantagem, sobre tudo numérica, o Destacamento recuou, deixando a cidade.
O Padre Aristides e seus amigos continuaram lutando, até acabar a munição.
Utilizando-se de granada de gás uma patrulha Revolucionária ingressou na casa paroquial, onde se achava entrincheirado o Padre Aristides e seus amigos, efetuando a prisão de todos, exceto uma mulher que tinha sido convocada pelo Padre Aristides para fazer comida.
Todos os prisioneiros foram sangrados e jogados em um barreiro de lama. Morreram 23 civis e dois soldados. Dos soldados que conseguiram sair da cidade, três ficaram feridos. Em seguida, foi efetuado violento saque na cidade, com queima de prédios públicos, inclusive a Prefeitura, a Coletoria e o cartório. As casas comerciais foram arrombadas e delas retiradas tudo que era possível. O que não podia ser levado era destruído. Só na manhã seguinte deixaram a cidade rumo a Tavares e Princesa Isabel.

A Coluna segue a marcha

 
A Tropa do Capitão Viegas, que perseguiu o grosso da Coluna desde Belém, já contando com o apoio das Tropas que estavam estacionadas em Sousa, seguiu os Revolucionários, travando diversos combates com a sua retaguarda. Quando a Coluna deixou Coremas em direção a Piancó, armou diversas emboscadas para a Tropa de Viegas a fim de reduzir sua velocidade de marcha. Dessas emboscadas resultou gravemente ferido o Oficial Revolucionário, conhecido por Capitão Preto. Esses combates não permitiram a Tropa Legalista chegar a Piancó, em tempo de impedir a chacina.
Na manhã do dia 10 de fevereiro, a Tropa do Capitão Viegas entrou em Piancó. No mesmo dia a Tropa Revolucionária de João Alberto, vinda de Catingueira, tentou invadir Piancó, mas foi rechaçada pelo Destacamen­to do Capitão Viegas. Contornando a cidade a Tropa inimiga seguiu na direção de Pernambuco. Ainda no dia 10, o grosso da Coluna efetuou a prisão, em Tavares, de um grupo de homens que ia para Piancó se juntar ao Padre Aristides.
Nessa ocasião, faleceu o Capitão Preto, Oficial desertor da Polícia Militar de São Paulo, tendo se juntado a Coluna, e que havia sido ferido nos combates de emboscadas de Coremas. Em represália a esse fato, a Coluna executou os prisioneiros. Entre os prisioneiros estava o motorista do Juiz de Pombal, Dr. Irineu Alves. Em meio ao tiroteio de execução, o motorista foi ferido e se fez de morto dentre os cadáveres dos outros presos, escapando depois da retirada da Coluna.
No dia 17 de fevereiro, o Tenente Coronel Sobreira chegou a Piancó, acompanhado de uma Tropa da Polícia Militar de São Paulo, que havia chegado a Cajazeiras no dia 9 daquele mês, para apoiar a Polícia da Paraíba. Nesse mesmo dia o fazendeiro Manoel Queiroga passou em Piancó depois de liberado pela Coluna. O Tenente Benício também tinha sido liberado pela Coluna desde o dia 10, Próximo a Catingueira.
Com a chegada do Tenente Coronel Sobreira em Piancó, o Capitão Viegas e sua Tropa, foram deslocados para a área de Princesa, para prevenir um possível retorno da Coluna, que já se encontrava em lutas com a Polícia Militar de Pernambuco, naquele Estado.
No dia 27 de fevereiro, a Tropa de Voluntários Civis do Ceará, formada de aproximadamente 200 homens, que desde o dia 8 se juntara as Tropas Paraibanas, seguindo o Destacamento do Capitão Viegas até Piancó, retornou ao seu Estado.
  A tropa de São Paulo, que veio com o Tenente Coronel Sobreira desde Cajazeiras, também regressou de Piancó.
Ainda nessa data, passou por Conceição, vindo do Ceará com destino a Pernambuco, uma Tropa formada por 400 homens da Brigada Militar do Rio Grande do Sul e 150 da Polícia Militar do Piauí, que ia combater os Revolucionários em Pernambuco.
Em seguida, o Tenente Coronel Sobreira seguiu para Patos de onde Comandou a desativação do esquema de defesa, retornando a seguir para a Capital do Estado, reassumindo o Comando da Força Pública, que nesse período foi assumido interinamente, pelo Major Adolfo Atayde.

A Intentona de Cruz das Armas

Ao mesmo tempo em que ocorreu a invasão ao território paraibano, pela Coluna Prestes, no Alto Sertão, aconteceu em Cruz das Armas, Capital do Estado, um importante acontecimento, intimamente relaciona­do com o movimento revolucionário.
Dois Oficiais desertores do Exército, juntamente com um grupo de Marinheiros, também desertores, tentaram organizar um movimento armado de apoio a Coluna Prestes e de desafio ao Governo.
Para esse fim, tentaram atrair Oficiais da Força Pública. Na madrugada do dia 5 de fevereiro de 1926, simulando simpáticos ao movimento, em plano adredemente preparado, os Tenentes Manoel Benício e João Francelino, a frente de uma patrulha de 42 praças, se dirigiram ao encontro do grupo revolucionário para prendê-lo. Houve reação e tiroteio, porém, todos foram presos. 
O Presidente João Suassuna, esteve presente ao local, acompanhado do Dr. Severino Procópio, Chefe de Polícia.
Os Oficiais presos foram o Capitão Serpa Malta e o Tenente Aristóteles de Souza Dantas, que juntamente com os demais presos, foram enviados a Região Militar, em Recife, onde foram processados.
Em 1931, depois de anistiados, o Tenente Aristóteles de Souza Dantas, já como Capitão, Comandou a Polícia Militar, a convite do Ministro da Aviação e Obras Públicas, o Dr. José Américo.
Em 1932, quando já tinha deixado o Comando da Polícia Militar, na época denominada de Brigada Policial, o Capitão Aristóteles de Souza Dantas, comandou um dos Batalhões da Paraíba que foi a São Paulo combater a Revolução Constitucionalista.

Outras Tropas

Enquanto esses acontecimentos se desenvolveram no interior do Estado, diversos Corpos de Tropas do Exército e de outras Forças Públicas trafegavam pelo litoral do Nordeste estudando o momento e o local de desembarque que lhes colocassem em melhor posição de confronto com a Coluna Revolucionária.
Alguns desses continentes chegaram a se alojar em Campina Grande durante pequenos períodos. Um Batalhão do Exército, vindo do Rio Grande do Sul, sob o Comando do Coronel Dracon Barreto chegou a Campina Grande no dia 11 de fevereiro de 1926. Outro grande contingente, formado por efetivo das Polícias Milita­res do Rio de Janeiro e de Alagoas, também esteve instalado em Campina Grande na mesma época. Porém essas Tropas não chegaram a entrar em combate. No dia 15 daquele mês, todos já haviam se retirado.

Comunicação

Na época dessas lutas, alguns Destacamentos da Força Pública possuíam serviço de rádio telégrafo. Existia também esse serviço nas Coletorias, denominadas de mesas de rondas, nos Postos de Serviço de Obras Contra as Secas e nas Estações Ferroviárias.
Existia uma linha férrea que ligava o Ceará à Paraíba, através de São João do Rio do Peixe. Dessa cidade partia linha até a Capital, o que facilitava o deslocamento de tropa e a comunicação telegráfica.
Era por esses meios que os Comandantes das Tropas se comunicavam entre si e com o Presidente João Suassuna. Esses telegramas foram publicados no Jornal a União do dia 20 de janeiro até o dia 30 de março de 1926.

Lampião e a Coluna Prestes

A cidade de Juazeiro, sob a liderança do Padre Cícero Romão Batista, era uma das bases de resistência às ações da Coluna Prestes. Depois de passar pela Paraíba, a Coluna foi até a Bahia e retornou em direção ao sertão do Ceará até as proximidades de Juazeiro. Nessa época, o bando de Lampião foi chamado à Juazeiro, pelo Padre Cícero, para ajudar os legalistas na luta contra os revolucionários.
Por ordem do Padre Cícero, um funcionário do Ministério da Agricultura, de nome Pedro de Albuquerque Uchôa, redigiu um documento nomeando, os cangaceiros, Lampião, Antônio Ferreira e Sabino Barbosa, a Capitão, 1º Tenente e 2º Tenente, respectivamente, para nesses postos se incorporarem as Tropas Legais. O documento, sem nenhum valor legal, tinha a seguinte redação:
Nomeio, ao posto de Capitão, o cidadão Virgulino Ferreira da Silva, a Primeiro Tenente, Antônio Ferreira da Silva e, o Segundo Tenente, Sabino Barbosa de Melo, que deverão entrar no exercício de suas funções, logo que deste documento se apossarem.
 
Publique-se e cumpra-se.
 
Dado e passado no Quartel General das Forças Legais em Juazeiro, 12 de abril de 1926.
 
(a)   Pedro de Albuquerque Uchôa.
 
Merece destacar que Lampião nunca chegou a se defrontar com a Coluna Prestes.
 
 
 
                    Pontos de concentração de tropas da PM
 
                 Percurso  da Coluna Preste na Paraíba
 
 
                          Percurso da Coluna no Brasil
   
 
Transcrevo a seguir matéria publicada no Site do Tavinho em que são registrados importantes relatos sobre os acontecimentos aqui narrados. A marcha desencadeada de 1924 ao inicio de 1927, que percorreu 24 mil km e teve como denominação Coluna Prestes, constituiu-se na maior da historia, mais extensa ate que o movimento do tipo, promovido por Mão Zedong nos primórdios da revolução comunista chinesa. A Coluna Prestes formada, em sua maioria, por dissidentes do Exército e comandada pelo tenente Luiz Carlos Prestes, pretendia derrubar o poder constituído, arregimentando seguidores em todas as regiões brasileiras, com conflitos registrados nos Estados de Pernambuco, Bahia, Piauí, Ceará, Maranhão, entre outros. O descaso da Administração do Presidente Washington Luiz para com os nordestinos era a bandeira de luta dos revoltosos. O grupo rebelde utilizava-se de forças para conseguir a sua manutenção. Tomava alimento se outros pertences das comunidades, notadamente onde não encontrava resistência policial, apregoando tal atitude como um direito de sobrevivência. Esse comportamento revoltava os saqueados e provocava o abandono das casas de famílias incluídas na rota dos seguidores Prestistas, como passaram a ser conhecidos. Na Paraíba a penetração do grupo revolucionário foi pacifica a exceção de sua chegada em Piancó, que ocorreu no dia 09 de fevereiro de 1926. Antes, porém, quando do acampamento em Coremas, coube ao Capitão Pires fazer o reconhecimento da aproxima cidade que, de acordo com informações previas, não obstacularia a passagem da marcha. Acabou sendo surpreendido em um piquete coordenado pelo Sargento Arruda, alvejado com tiros de rifles, saindo ferido  e presenciado a morte de seu cavalo. Esse fato provocou a ira do Q. G. acampado que de pronto decidiu por uma varredura completa, sem piedade contra a localidade em evidencia. Piancó dispunha apenas de 12 praças um cabo, um sargento, 30  paisanos e 2 oficiais ( Manuel Marinho e Antônio Benicio). O governador do Estado João Suassuna, solicitou ao deputado Pe Aristides, chefe político do município, que convocasse a população e se unisse às forças policias, na defesa do lugar. Em telegrama enviado ao parlamentar, o Chefe do Executivo Estadual informou que o grupo dos rebeldes era reduzido, faminto, sem munição suficiente e que um grande reforço policial estava sendo encaminhado ao Vale para se unir a resistência. Um dia antes do ataque o Padre dividiu as forças disponíveis  em quatro grupos instalado sem pontos estratégicos. Sobre o clima vivido na referida data, o historiador João Francisco, faz a seguinte citação: “ Era anoitecer do dia 08 de fevereiro de 1926   em Piancó. Quase cessando o movimento de pessoas nas ruas da Vila. Duvida e apreensão  absoluta pairava na mente de todos. Ao longe os cães latiam como que estivessem anunciando a chegada de uma pessoa estranha ou a partida de seu dono. Na Sala Principal da casa, residência do Padre e Família,  os mosquitos circulavam as lâmpadas que iluminava o ambiente tenso. Sentados em circulo, o prefeito João Lacerda, seu filho Osvaldo Lacerda, Manoel Clementino ( escrivão do então distrito do Aguiar), Hostilio Gambarra ( distribuidor em juízo), Pedro Inácio Liberalino, José Ferreira e o Padre Aristides Ferreira da Cruz. Falava-se pouco, sempre conversas entrecortadas, nunca um dialogo demorado. Entra na sala uma senhora, de aspecto servil e em silencio, distribui café e chá   aos presentes. Era dona Quita, senhora do padre e mãe dos seus quatros filhos então adolescentes: Jorge, Sebastião, Aristides e Joanita. Novamente a sós, o silencio imperava. Aqui, acolá uma frase curta. Todos sabiam do risco de continuar na cidade. O mais sensato seria procurar sair em busca de proteção, mas longe de tentar convencer o padre dessa ideia. Logo um alvoroço, uma agitação e entra alguém informando a chegada do cachorro de estimação  do senhor José Maria, irmão de D. Quita, e que residia em Coremas. Todos quiseram saber quem o cachorro acompanha. O temor aumentou quando s e soube que este havia aparecido sozinho. Alguém devia estar chegando do visinho município, por onde a coluna dos revoltosos passado naquela manha. As horas avançavam feito chamas. Logo Chegaria o momento da despedida, das recomendações e do adeus. Estava já acertado. Dona Quita, e os filhos e o s empregados deixariam a casa logo mais, permaneceriam o padre mais alguns amigos. Na manhã seguinte, outros que também resistiram, estavam sendo aguardados. Em meio a agitação gerada em torno da chegada do cachorro, surge a porta, um jovem, apressado, e pede a presença do padre. Uma vez atendido, o mensageiro se identificou e entregou-lhe um papel meio amassado e úmido de suor, com um escrito que dizia: “ Não tente resistir, é uma ideia absurda. Passa de mil homens com armamento a disposição alguns até com aparente falta de  disciplina. Desde a manha de hoje Coremas foi invadida por um exercito de guerrilheiros desalmados,  cruéis¨. A sala se encheu rapidamente, todos apreensivos fitavam o padre, no seu rosto um a nítida expressão de tristeza. Ele sabia, todos mais  uma    vez tentariam  convence-lo a deixar a cidade, agora com argumento mais sensatos. A aflição do padre poderia ser notada também no semblante desolado de D. Quita e dos filhos. Todos temiam o pior. O Padre estava dominado por uma sensação de impotência. A ideia d e abandonar a cidade não era nada horroroso para  um chefe político na sua envergadura. Dúvida   cruel. Enquanto o seu orgulho de homem público e de defensor do povo e da cidade, forçavam-no a ficar, uma porção de medo de perder Quita e os filhos, levava-o na possibilidade de fugir. Os amigos foram unânimes. O Padre  devia sair com a família, deixasse um grupo de homens   de confiança protegendo a cidade. E instantes depois o Padre consentiu em acompanhar os seus familiares a uma fazenda distante, até os revoltosos saírem de Piancó. O temor da separação deu lugar a agitação da arrumação dos objetos que levariam  na viagem. Já havia alegria entre os presentes na casa grande. As carroças e os animais que seriam usados no transporte da família foram conduzidos ate a porta da frente. Um levava, outro trazia, um outro escutava, mas, o Padre continuava pensativo, distante dali,  alheio ao que se falava na vasta sala, pelas janelas fronteiriças seu olhar vagueava mundo a fora. O “ tigre¨ acuado em sua própria   morada. Recordou o eca tombe de1922, fazia quatro anos, teve que fugir e buscar junto ao Presidente Epitácio Pessoa, seu chefe, proteção para voltar a assumir o poder do município, foi a mais cruenta e desastrosa contenda coma família Leite. Agora teria que fugir de novo. E   o  telegrama do governador João Suassuna?. Era a oportunidade ideal de conquistar a simpatia do governante, que por sua vez demos trava mas aproximação com os seus inimigos políticos. Não podia também decepcionar  a população local, deixando que os seus bens fossem saqueados e destruídos. Há instantes da partida votou atrás e mudou de ideia. Bateu o pé e não saiu além da calçada para despedir-se da família. Era esperada uma reação de descontentamento dos amigos o que se deu certamente, mas não convenceu e o Padre ficou. O inevitável cerco aconteceu por volta das 08:00 horas da manha. Mais de mil homens revoltosos, conduzidos em cavalos recebiam a ordem para avançar contra todos os legalistas. Dois deles bem trajados e armados partem na frente e são recebido as bala pelo Sargento Manuel Arruda, que em um tiro certeiro faz um deles tombar sem vida. Estava desencadeado o maior confronto de todos os tempos, que minutos após já computavam 56 feridos de ambos os lados. A desigualdade era eminente e a ação da fuzilaria que mais parecia um rolo compressor  conseguiu espantar os que ainda resistia na cidade. Completado o piquete as famílias haviam fugido   e grande partes dos voluntários da luta, desertada. Somente os que ainda  se encontravam na casa do Padre Aristides resistiam enquanto o cerco aumentava em proporções assustadoras, chegando a quase cem por um. O sacerdote comandava a operação  quase perdida disposto a queimar o último dos seus cartuchos. Ao lado de doze companheiros fieis empunhava uma pistola na mão direita, vestido de branco. Era mais ou menos 15:00 horas quando as esperanças começavam a dar sinais de fragilidade. Nesse momento a tentativa de atear fogo na residência utilizando gasolina era abortada com a morte do Sargento Laudelino, atingido com um abala na cabeça. Era também o instante de encarar a falta de munição para enfrentar os foras da lei. Duas bombas de gás asfixiante foram lançadas no interior da casa,  provocando desmaio em Ana Maria d e Lima a senhora convidada pelo Padre para fazer a comida do povo,  que a essas alturas já era tomado pó ruma enorme dor de cabeça. A invasão do recinto já estava consolidada com centenas de rebeldes arrombando as portas e janelas, se precipitando casa adentro e cumprindo a ordem de pegar a unhas o líder e seus companheiros. Começava  então a “ Via Crucis¨ contra o prefeito João Lacerda e seu filho Osvaldo Lacerda; o funcionário Público Manuel Clementino e seu filho Antônio; Rufino Soares, Joaquim Ferreira, José Lourenço, Antônio Leopoldo,  Juvino Raimundo, Hostilio Túlio Gambarra, Vicente Mororó e o Padre e deputado Aristides que pedi apara todos garantia de vida, o que só foi concordado até a entrega das armas pelo grupo solicitado. Os dominados são conduzidos para perto da cidade, a uma distancia de duzentos metros onde existia um barreiro, escolhido como o palco da matança. A Sequência do sacrifício é anunciada para  as centenas de Prestistas que compõem  o enorme cerco. Primeiro os mais humildes, depois os comerciantes, em seguida o prefeito e pôr ultimo o Padre. Todos foram sangrados e os seus corpos jogados no pequeno depósito natural de água. Padre Aristides no entanto, antes do golpe final na goela foi esmurrado no rosto, apunhalado nas costas, no peito, em partes intimas e em pleno martírio conseguiu reafirmar  a sua crença de religioso, dizendo-se um apóstolo de Deus. O Poder destruidor da Coluna Prestes não poupou o patrimônio de Piancó. As casas foram saqueadas, os prédios públicos destruídos e incendiados com a  utilização de milho seco do senhor  Paizinho Azevedo, moveis do Conselho Municipal e papeis da agencia dos correios. O comercio passou por um completo processo  de destruição. A população conseguiu salvar apenas a roupa do corpo. Os prejuízos foram calculado sem mais de dois mil contos. Dona Antônia César foi a única a mulher que ficou em Piancó no dia da chacina. Durante depoimento contou que após a tragédia se dirigiu ao local para ver o padre morto. “ Tinha um buraco medonho na goela. Metade do corpo dentro d´agua metade de fora. Quando eu reparava no corpo dele, um “ cangaceiro arrebatou o candeeiro da mão ederr4amou gás na cara do padre. Queria queimar o pobrezinho. Eu tomei o candeeiro das mãos dele. Não deixei que tocassem fogo.¨ Pedro Inácio foi um dos sobreviventes da chacina. Estava dentro da casa do Padre quando começou o tiroteio e viu a morte no caminho. Acabou sendo o único sobrevivente pela sorte de ter conseguido fugir sem ser notado. Foi ele o responsável pelo sepultamento dos mortos no dia seguinte.
 
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