A participação da PM da Paraíba no combate à intentona Comunista de 1935 em Natal

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A participação da PM da Paraíba no combate à Intentona Comunista de 1935 em Natal foi de vital importância para reprimir esse movimento. Como emprego de cercada de 230 homens, comandados pelo Tenente Coronel Elias Fernandes, e com a importante participação do Tenente Manoel Benício, a tropa paraibana prendeu os líderes do movimento e apreendeu os bens que eles tinham saqueado do comércio de Natal. Neste trabalho vamos fazer o relato sucinto desses acontecimentos.

  1. A origem da Intentona Comunista

A quebra da bolsa de Nova York, ocorrida em 1929, assinalou o início de uma grave crise no Capitalismo de todo mundo. Enquanto isso, no decorrer da década de 1920, registrou-se a consolidação do Comunismo, principalmente na Rússia.

Por conta da expansão Comunista no continente Europeu, pressionando o Capitalismo, surgiram os movimentos Nazista e Fascista, respectivamente na Alemanha e na Itália. Ambos os movimentos defendiam o enfraquecimento do Parlamentarismo e a implantação de Governos Totalitários, como forma de manutenção do Capitalismo. Aos poucos o Comunismo e o Nazi-Fascismo foram se disseminando em outros países.

No Brasil, as primeiras Organizações de um Partido Comunista, datam de 1922. Porém, só a partir de 1931, com a adesão de Luiz Carlos Prestes ao Comunismo, e sua viagem para Moscou, a fim de estudar tal doutrina, é que foi possível a obtenção de resultados mais concretos, por essa organização.

O Fascismo chegou ao Brasil em 1932, através da criação do Movimento Integralista Brasileiro, que, pelo fato de se insurgir contra o Comunismo e defender princípios como Deus, Pátria e Família, valores próprios da Cultura Nacional, angariou a simpatia e adesão dos Militares.

A Internacional Comunista (IC) órgão destinado a expandir o Comunismo em todo mundo, foi pressionada por Luiz Carlos Prestes, para investir em uma Revolução no Brasil, que se destinasse a tomada do Poder. Prestes se encontrava na Rússia, onde tinha adquirido grande prestígio junto ao Órgão máximo da organização comunista. Em 1934, diversos agentes da Internacional Comunista, vieram ao Brasil, clandestinamente, para sob a direção de Prestes, que retornava ao país, prepararem uma revolução.

Encontrando dificuldades de penetração nas massas populares e rejeição de ordem legal, o Partido Comunista do Brasil criou, em 1934, um movimento denominado Aliança Nacional Libertadora (ANL), destinada a consagrar o operariado e a classe camponesa, bases para os propósitos revolucionários.

 O clima político da época era favorável aos objetivos da ANL, uma vez que havia um grande descontentamento da massa popular com o Governo Revolucionário, que não conseguia resolver as grandes questões sociais.

Pelo fato do Partido Comunista e da Aliança Nacional Libertadora serem dirigidas por Prestes, receberam muitas adesões de Militares insatisfeitos com o governo de Vargas. A estratégia para o movimento era a preparação do povo, através da ANL e a infiltração nos meios militares.

A ANL passou a promover intrigas regionais, pregando o separatismo no Rio Grande do Sul e São Paulo, além de expressar ideias contrárias no Rio de Janeiro. No Norte e Nordeste pregava-se a luta contra os privilégios do sul. Era dividir para conquistar. Percebendo a manobra, e pressionado pelo Movimento Integralista, que era anticomunista, o Governo fechou, em junho de 1935, a ANL. Na clandestinidade geral, Prestes perdeu espaços.

A Internacional Comunista, que só a partir de então passou a se interessar pelo Brasil, exigiu de Prestes a continuidade do movimento. Com bases formadas por civis e militares, no Rio Grande do Norte, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, Prestes planejou, para o mês de novembro de 1935, um movimento que partindo dos Quartéis encontraria, na avaliação de Prestes, fácil apoio do povo.

Tomando conhecimento dos planos, através de agentes infiltrados nos movimentos, o Governo se preparou e conseguiu, com certo esforço, debelar o movimento, que ficou conhecido como Intentona Comunista. Foram registradas muitas lutas em Natal, Recife, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

2.  A deflagração do movimento

No dia 23 de novembro, um sábado, aproveitando-se da ausência da maior quantidade de Oficiais no Quartel, as Praças do 21º Batalhão de Caçadores (BC), em Natal, liderados pelo funcionário civil Lauro Cortez Lago, prenderam o Oficial de Dia e apoderaram-se do Quartel.

O Coronel José Otaviano Pinto, Comandante do 21º BC, sem condições de reação, dirigiu-se ao Quartel do Comando da Polícia Militar, de onde, juntamente com o Major Luiz Júlio, Comandante daquela Corporação, organizou heroica resistência aos rebeldes. O tiroteio entre os rebeldes e a Polícia Militar que começou no início da noite do dia 23, prolongou-se até a manhã seguinte, com a rendição da Tropa Legal, e prisão de todos os Oficiais.

O Governador do Rio Grande do Norte, Rafael Fernandes e seus auxiliares, ao tomar conhecimento do movimento se refugiam no Consulado da China, naquela Capital.

Cessada a resistência legal, os amotinados constituíram uma Junta para exercer o Governo do Estado, sendo composta da seguinte forma:

Ministro do Interior Funcionário Lauro Cortez
Ministro da Defesa Sargento Quintino Clementino
Ministro do Abastecimento Sapateiro José Praxedes
Ministro das Finanças Funcionário dos Correios e Telégrafos - José Macedo
Ministro da Viação Estudante João Batista Galvão
Comandante da Guarnição Federal Sargento Elizial Diniz Henrique
Comandante do 21º BC Cabo Estevão

Em seguida, foram saqueados o Banco do Brasil, e outras Reparti­ções, apreendidos caminhões públicos e particulares, e praticadas muitas desordens na cidade. Durante três dias, a população viveu um clima de terror.

Todas as ligações de Natal com o resto do País foram cortadas. Tomada a Capital, os revolucionários formaram três Colunas e se dirigiram ao interior daquele Estado, ocupando as cidades de Ceará-Mirim, Baixa-Verde, São João de Malibu, Santa Cruz e Canguaretama.

Nos planos de Prestes o início do movimento seria no dia 27, porém através de um radiograma forjado pelo serviço de informações do Governo, a ação em Natal foi antecipada. A pretensão do Governo era precipitar as ações para facilitar a sua debelação.

Ao tomar conhecimento do movimento de Natal, logo no dia 24 daquele mês, grupos liderados pelo Tenente Lamartine Coutinho, iniciaram a revolta no Quartel do 29º BC, em Socorro, nas proximidades de Recife. Presos os Oficiais que não aderiram ao movimento e tomado o Quartel, os rebeldes marcharam para o centro do Recife.

A resistência em Recife foi iniciada com a parte da Tropa Federal que se mantinha leal ao Governo e a Polícia Militar de Pernambuco. No dia seguinte, seguiram para Recife o 22º BC de João Pessoa, e o 20º BC de Alagoas. No dia 26 de novembro, o movimento de Recife tinha sido controlado, com a vitória do Governo.

No Rio de Janeiro, o movimento que ocorreu em diversos Quartéis, foi iniciado no dia 26, dele participando muitos Oficiais. Como o início do movimento no Rio de Janeiro, ocorreu dentro do programado, e o Governo estava preparado, a luta foi das mais sangrentas.

3.  A  participação da PM da

  3.1. A preparação

Enquanto se desenrolavam as lutas em Recife e no Rio de Janeiro, pouco se sabia a respeito da situação de Natal. Ao tomar conhecimento do movimento do Recife e da suspeita de que o mesmo ocorria em Natal, o Governador da Paraíba, Argemiro de Figueiredo, começou a mobilizar a Força Pública, denominação da Polícia Militar na época, objetivando guarnecer a Capital e as fronteiras da Paraíba com o Rio Grande do Norte.

No dia 24 de novembro, chegou a João Pessoa, vindo de Campina Grande, um efetivo de 70 homens da Polícia Militar. Os Destacamentos do Sertão foram deslocados para Campina Grande.

Atendendo a um pedido do Governador Argemiro de Figueiredo, o Deputado Américo Maia, percorreu as cidades fronteiras com o Rio Grande do Norte, conclamando as autoridades locais, a iniciarem preparativos para resistência.

Por ordem do Governador, ainda no dia 24, o Capitão Manuel Benício, concentrou os Destacamentos do Brejo, na cidade de Caiçara, proximidades de Nova Cruz, que se achava ocupada pelos rebeldes.

Grupos de civis armados sob a liderança de políticos e os Destacamentos locais, sob o Comando de Oficiais, tomaram posição nos principais pontos dos limites com o Rio Grande do Norte. Em Pombal, o Capitão Jacob Frantz contava com um efetivo de 200 homens para seguir para Caicó. Por sua vez, o Tenente João Alves de Lira aprontou 300 homens em Santa Luzia.

 Em Patos, o Prefeito Adalgísio Olyntho e o Tenente Vicente Chaves, contavam com 200 homens armados, prontos para invadir Barreiras-RN. Em Picuí, o Tenente Severino Lins, dispunha de 300 homens. Em Brejo do Cruz foi formado um efetivo de 100 homens pelas lideranças locais.

Outros grupos começaram a se formar em Sousa e Malta. Esses grupos, formados de Militares e Civis, aguardavam ordem para entrar em ação. O governo aguardava a chegada das Tropas Federais vindas de Fortaleza, Alagoas, Pernambuco e Bahia.

Tropa Comandada pelo Capitão Jacob Frantz, invadiu Caicó, e grupos liderados por Adalgísio Olyntho, invadiram Parelhas, porém constataram clima de normalidade, e de lá regressaram, sem necessidade de lutas.

3.2  Deslocamento de Tropas e suas ações.

No dia 26 daquele mês, circulou em João Pessoa a notícia de que um grupo armado, vindo de Gramame, ao sul da cidade, iria invadir a Capital Paraibana. Um Destacamento da PM composta por 70 homens, sob o Comando do Capitão João Pereira Diniz, deslocou-se até Gramame, onde constatou a existência de um grupo de Caboclos, que tinha sequestrado um proprietário local, conhecido por Major Alves. Sem oferecer resistência, o grupo foi disperso nas matas ali existentes.

O Tenente Coronel Elias Fernandes, na época Delegada de São João do Cariri, foi convocado para Comandar uma Companhia que seguiria para Natal. Na tarde do dia 26 de novembro, o Tenente Coronel Elias Fernandes, manteve audiência com o Governador e o Coronel Delmiro Pereira, Comandante da Força Pública.

Às 19 horas daquele dia, o Tenente Coronel Elias Fernandes, se dirigiu à Natal, juntamente com um efetivo de 130 homens. A tropa, que viajava de caminhão, pernoitou em Mamanguape, de onde saiu às 11 horas do dia seguinte, ingressando em território rio-grandense aproximadamente às 13 horas, onde pernoitou acantonada em Canguaretama.

No dia 26 de novembro, o Capitão Manuel Benício partiu de Caiçara e ocupou Nova Cruz, onde ocorreu um confronto com os rebeldes, resultando na prisão de cinco e na morte de dois deles. No dia seguinte, o Prefeito e o Delegado da cidade, que haviam se ausentado com a chegada dos rebeldes, a ela retornaram e ocuparam as suas funções, com a proteção da tropa do Capitão Benício.

De Nova Cruz, o Destacamento do Capitão Benício, formado por 112 homens, marchou em direção a Vila Nova, naquele Estado, em perseguição aos grupos rebeldes. Nesse percurso foram efetuadas várias prisões e apreendido veículos, armas, munições e dinheiro em poder dos rebeldes presos. Ainda em marcha, esse Destacamento travou luta com os rebeldes em Baixio e Santo Antônio. Em Vila Nova a ordem foi restabelecida, com as autoridades constituídas retornando as suas funções.

De Vila Nova, o Capitão Benício e seu Destacamento seguiram ao encontro do Destacamento do Tenente Coronel Elias Fernandes, a quem se apresentou no dia 28 de novembro em Canguaretama.

Com a junção desses dois efetivos, o Tenente Coronel Elias Fernandes deu nova organização a tropa que recebeu a denominação de 2º Batalhão de Infantaria, formado por duas Companhias, a 1ª Comandada pelo Capitão Antônio Pereira Diniz e mais 110 homens, e a 2ª sob o Comando do 2º Tenente Antônio Benício, também composta por 110 homens. O Capitão Benício passou à função de Subcomandante do Batalhão.

Assim organizado o 2º Batalhão de Infantaria, reiniciou no dia 29 daquele mês a viagem, agora de trem, com destino a Natal. Nesse percurso foram registradas paradas em Goianinha e São José de Mapibu, onde foram embarcados rebeldes presos.

Na estação de Cajupiranga o Batalhão esperou pelo Major José Andrade Farias, Comandante do 20º BC de Alagoas, que viajava de trole para fazer contatos com o Comandante da Tropa Paraibana. Depois de entendimento dessas autoridades, o Batalhão seguiu viagem.

Ao chegar a Natal, o 2º Batalhão da Paraíba foi recebido por autoridades locais e alojado no Regimento de Cavalaria no Bairro do Tyrol, naquela Capital.

No dia 30 de novembro foi destacado um reforço do 2º Batalhão para a cidade de Nova Cruz. A missão do 2º Batalhão foi efetuar a Guarda da cadeia, onde havia muitos presos políticos, Quartel da PM, o Banco do Brasil, e o Policiamento da Cidade.

Uma patrulha formada por 42 homens dessa Unidade foi enviada ao Recife, a bordo do navio BUTI, escoltando presos políticos, saindo de Natal no dia 12 de dezembro e retornando no dia 15 do mesmo mês.

Depois de bastante homenageada pelas autoridades norte-rio-grandenses, o 2º Batalhão de Infantaria retornou a Capital Paraibana no dia 23 de dezembro, onde foi recebida com muitas honras. Na ocasião foi efetuado um desfile da Estação Ferroviária até o Quartel na Praça Pedro Américo.

Naquela data, a Corporação ganhava nova denominação, passando de Força Pública para Polícia Militar. Mas, em 1940 voltou a ser Força Pública, para finalmente em 1946, receber sua atual denominação.

    Veja também   A Campanha de Princesa: O nego, a morte de João Pessoa, o nome da cidade e a bandeira.     A participação da PM da Paraíba na revolução de 1930   A participação da PM da Paraíba nas lutas contra a Revolução Paulista de 1932   A PM da Paraíba nas lutas contra a Coluna Prestes

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