A participação da PM da Paraíba na revolução de 1930

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Em 1922 ocorreu no Rio de Janeiro, um levante armado em diversos Quartéis do Exército motivado por sentimentos contrários à política governamental. Era o resultado de descontentamentos dos militares desde o término de Guerra do Paraguai. Nos dois anos seguintes se deram outros movimentos com características parecidas no Rio Grande do Sul e em São Paulo, respectivamente, todos vencidos pelo Governo. Dos dois últimos surgiu a Coluna Prestes, que também era contrária ao Governo.

Em 1930 esses sentimentos se fortaleceram com a adesão de seguimentos políticos. As ações conspiratórias para uma revolução em todo país, que já estavam em andamentos, foram intensificadas a partir de então. Juarez Távora, Capitão, desertor e foragido do Exército, agindo na clandestinidade, foi o principal responsável pela articulação desse movimento no norte e nordeste. Nessa atividade Juarez esteve muitas vezes na Paraíba, onde fazia contatos com políticos e com os muitos militares sediados neste Estado, sempre secretamente. O assassinato de João Pessoa, um ícone de oposição ao Governo Federal, ocorrido em 26 de julho de 1930, foi explorado, em todo país, como propaganda revolucionária, o que deu novo alento ao movimento.

Depois que João Pessoa rompeu politicamente com o Presidente Washington Luís, ato que ficou conhecido como “o nego”, o Governo Federal passou a exercer represálias à Paraíba. Nesse sentido, Washington Luís apoiou o movimento armado ocorrido em Princesa, liderado por José Pereira e que pretendia obter uma intervenção federal na Paraíba. Para intimidar o Presidente João Pessoa, o Governo Federal instalou diversas Unidades Militares no Estado. Além do 22º Batalhão de Caçadores (22º BC), atual 15º RIMotz, que já existia, foram instalados no Estado o 24º BC e o 25º BC, na Capital; o 21º BC em Campina; o 20º BC em Santa Luzia  e o 23º BC em Souza. Muitos Oficiais que integravam essas Tropas, já aliciados por Juarez Távora, eram simpatizantes da Revolução. Por esse motivo a revolução no norte e nordeste teve origem na Paraíba.

O Comando Militar do Nordeste foi temporariamente transferido para a Capital da Paraíba e o General Lavanére Wanderley instalou o seu Posto de Comando no 22º BC.  Exceto o 22º BC e o  23º BC, instalados na Capital e em  Souza respectivamente, que eram Comandados por  Coronéis, os demais eram Comandados por Capitão ou Tenente, o que leva a crer que na verdade eram Companhias.

Os Batalhões sediados na Capital do Estado, já com o nome de João Pessoa, faziam revezamento de prontidão com o efetivo de uma Companhia.  Do dia 3 para o dia 4 de outubro a prontidão era do 22º BC e a Companhia escalda era a Comandada pelo Tenente Juracy Magalhães, que era adepto das articulações de um movimento revolucionário que estava em andamento. O Oficial de dia ao Batalhão era Agildo Barata, também revolucionário. Encontravam-se presentes ao Quartel naquela noite os Tenentes Jurandir Mamede, Paulo Cordeiro e José Arnaldo Cabral de Vasconcelos, todos aliados à revolução. Além desses também se achavam presentes os Tenentes Paulo Lobo, Silvio Silveira e Raul Reis que não eram revolucionários.

        Na madrugada do dia 4 de outubro de 1930, 70 dias após a morte de João Pessoa, eclodiu a revolução em Porto Alegre e na Paraíba. O Quartel do 22º BC, em Cruz das Armas, foi invadido por um grupo de civis e oficiais ligados ao movimento revolucionário.

 O Tenente Agildo Ribeiro, pai do atual humorista com o mesmo nome, era o Oficial de Dia, o que facilitou a invasão. O grupo de civis era formado por 21 jovens entre os quais se encontravam vultos que depois se tornaram conhecidos na política da Paraíba, tais como: Rui Carneiro, Argemiro de Figueiredo, Odon Bezerra, Antenor Navarro. Além desse integraram o grupo: José Mariz, Ernesto da Silveira, Artur Sobreira, Bazileu Gomes, Cipriano Galvão, Antônio Primo Viana, Francisco Cícero de Melo, José Minervino, Antônio Ramos Duarte, José de Barros, Acrísio Toscano, Antônio Pontes, José de Lima, Ricardo Barros, Caetano Júlio, Isaias de Brito e Virgíneo Cordeiro.  Depois desses fatos Antônio Pontes e Caetano Júlio ingressaram na PM aonde chegaram ao posto de Coronel. Argemiro de Figueiredo, Antenor Navarro e Rui Carneiro Governaram a Paraíba na condição de Interventores.

Nessa invasão ao Quartel do 22º BC houve troca de tiros que resultaram na morte do General Lavanére Wanderley, e mais os Tenentes Paulo Lobo, Silvio Silveira e Raul Reis e dois Soldados. O Comandante do Batalhão, o Coronel Maurício José Cardoso ficou gravemente ferido.  Os demais militares da Unidade, já aliciados, aderiram ao movimento. A essa altura toda Policia Militar da Paraíba estava de prontidão e, com a orientação de Elísio Sobreira, que havia se articulado previamente com Juarez Távora, também aderiu à revolução. A partir desse momento, saíram do 22º BC tropas para forçar a adesão dos outros Batalhões sediados na Capital, obtendo sucesso, sem derramamento de sangue.

Tão logo ocorreu a adesão do 22º BC, os 25º e 24º BC que estavam instalados, de forma improvisada, no Edifício dos Correios e Telégrafos, sob o Comando do Capitão Lemos Cunha e do Tenente Dutra, respectivamente, aderiram ao movimento conforme tinham combinado com Juarez Távora. Uma parte do 24º BC estava aquartelada em Cabedelo sob o Comando do Tenente Anacleto Tavares também aderiu ao movimento.

Agildo Barata, Anacleto Tavares e José Arnaldo Cabral de Vasconcelos, que tiveram importante participação nesses acontecimentos, comandaram a PM da Paraíba, por curtos períodos no decorrer das décadas de 1930 e 1940.

 O 21º BC, que estava em Campina Grande, Comandado pelo Tenente Aluízio Moura, também aderiu à revolução ainda na madrugada de 4 de outubro, e juntamente com 22º BC, Sob o Comando dos Tenentes Barata Ribeiro e Paulo Cordeiro, seguiram para Recife, onde alcançaram  a adesão das tropas ali sediadas.  Um efetivo da PM e muitos civis voluntários acompanharam essa tropa até o Recife.  Enquanto isso o 20º BC Comandado pelo Capitão Abelardo Costa, que estava em Santa Luzia, se aliou ao movimento no mesmo dia e seguiu para Natal pressionar adesão das Unidades Militares daquela capital, o que foi obtido sem luta.

Em Souza, 23º BC sob o Comando de Coronel Ângelo Correia tendo o Major Cesar Castro como Subcomandante resistiu ao movimento e houve luta. Como parte do plano traçado pelo Coronel Elísio Sobreira, Comandante da PM, naquela cidade estava concentrado um grande efetivo dessa Corporação Comandado pelo Capitão Antenor Salgado. Na noite de 3 de outubro tinham chegado em Souza os Tenentes do Exército, Carlos Cordeiro, Ari Correia e Júlio Vera, juntamente como Sargento Pinho, todos com o objetivo de fazer o Batalhão aderir ao movimento. Com apoio do efetivo da PM sob o Comando do Major Antenor Salgado e dos Sargentos Dias Novo e Renovato iniciaram a ação. Os Oficias do Batalhão estavam hospedados em um Hotel da cidade. Esse prédio foi cercado e foram presos; Capitãs Paulo Aguiar, Liberato Barroso e Leônidas Botelho e os Tenentes Almir, Salvador, Sampaio, Ladislau, Costa e Vássio Brígida.  Em seguida o grupo partiu para tomar o Posto de Comando do Batalhão. O Comandante e o Subcomandante resistiram, e depois de muita troca de tiros, o grupo invadiu o local e encontrou mortos o Coronel Ângelo Correia e o Major Cesar Castro. Os demais integrantes do Batalhão aderiram e no mesmo dia, com apoio de um grande efetivo da PM, sob o Comando do Major Antenor Salgado, o 23º Batalhão se deslocou para Fortaleza onde conseguiu adesão das tropas federais ali sediadas.

     Incentivados por esses acontecimentos a revolução foi se alastrando por todo país, até a vitória final.

Assim, podemos perceber que a PM da Paraíba, na época com a denominação de Força Pública teve significativa participação na Revolução de 1930, conforme sintetizamos a seguir.

  • Durante as articulações que o Capitão Juarez Távora fazia, na clandestinidade, para organizar a revolução de 1930, no norte e nordeste, foram feitos contatos com muitos auxiliares do Governo da Paraíba, inclusive Oficiais da Força Pública, denominação da Polícia Militar na época. Abordado de forma sutil por seus auxiliares imediatos, João Pessoa se mostrava contrário ao movimento. Ex-Ministro do Superior Tribunal da Justiça Militar, tendo inclusive participado de julgamentos de diversos motins militares, sempre com postura firme contras os acusados, era natural esse posicionamento de João Pessoa.
  • Com o assassinato de João Pessoa, os ânimos revolucionários foram revigorados na Paraíba e alguns Oficiais, como o Coronel Elísio Sobreira e o Major Antônio Salgado, passaram a integrar o processo de mobilização dos diversos setores do movimento revolucionário distribuídos no interior do Estado, conduzindo mensagens de Juarez Távora.
  • Naquela época a Força Pública tinha concentrado, em Patos e Piancó, uma tropa com cerca de 800 homens. Era o efetivo que tinha lutado em Princesa, do começo de março ao fim de julho, contra os grupos armados de José Pereira. A Tropa de Piancó era Comandada pelos Capitães Irineu Rangel e Emerson Benjamim e os Tenentes José Guedes e Antônio Pereira. Em Patos o efetivo estava sob o Comando do Capitão José Maurício. Outra parte do efetivo que lutou em Princesa estava aquartelada na Capital, Comandada pelo Capitão João Costa.
  • Quando ocorreu a invasão do Quartel do Exército, em Cruz das Armas, toda Força Pública estava mobilizada para aderir ao movimento e, nessa mesma noite, ocupou as estradas que davam acesso à Capital para evitar a entrada de tropas que pudessem vir de Recife ou Natal.
  • Uma Tropa da Força Pública integrou o efetivo do 22º BC que no dia 4 de outubro pressionou as outras Unidades do Exército sediadas na Capital da Paraíba, a aderir à revolução. Outro grupo da PM se deslocou para Recife, também com o 22º BC, onde teve a mesma atuação junto às Unidades Militares daquela cidade e alcançou os mesmo resultados.
  • Quando os Batalhões do Exército que estavam sediados em Campina Grande e Santa Luzia se deslocaram para Natal e Recife, para pressionar à adesão das tropas federais ali sediadas, contou com a participação de efetivos da Força Pública da Paraíba.
  • A partir de então diversos contingentes da Força Pública foram mobilizados para apoiar ações do Exército em outros Estados. O Major Falcone Comandou Tropas em Alagoas. O Capitão João Costa e os Tenentes José Guedes e Antônio Pereira, em ações distintas, atuaram no Comando de tropas no sertão de Pernambuco. O Coronel Manuel Viegas, o Major José Maurício e o Capitão Acendino Feitosa foram até a Bahia e o Major Antônio Salgado foi para o Ceará, todos comandando tropas. Como essas ações eram integradas às Tropas Federais, onde todos os seus detalhes foram registrados nos Boletins de cada Unidade, e no final das lutas todos esses documentos foram arquivados no 22º BC, onde foram destruídos em um incêndio ocorrido em 1948. Mas os Boletins da Polícia Militar e os arquivos do Jornal A União contêm dados que permitiram o resgate desses fatos, como forma de homenagear esses Oficiais e as praças que com eles lutaram.

                        OFICIAIS DO 22º BATALHÃO  DE CAÇADORES  EM 1930

Nomes dos oficiais da foto

 

Quartel do 15º BIMtz, antigo 22º Batalhão de Caçadores - Invadido por civis durante a revolução de 1930

   

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