Tenente Valério: Um policial militar exemplar

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      O Tenente Valério foi um policial militar exemplar, mesmo tendo falecido aos 29 anos de idade no Posto de Segundo Tenente.  Aqui vamos narrar um pouco da história desse valoroso policial com fundamentos nos registros consignados nos seus assentamentos funcionais. É o que passamos a fazer.

  1. Ingresso na Polícia Militar

        A idade mínima para ingresso na Polícia Militar da Paraíba sempre foi 18 anos.  Com isso os jovens com interesse de se tornarem policiais militares e que ainda não tinham essa idade precisavam adiar a realização dos seus sonhos.

      Em 1936 o jovem José Valério de Sousa, então com 17 anos de idade, oriundo de Teixeira, no sertão paraibano, sentindo-se vocacionado para as atividades policias militares, resolveu seguir o procedimento adotado por muitos outros jovens, que era tirar uma certidão de nascimento onde se constava uma data de nascimento anterior à real.

     De forma que com esse registro ele passava a ter  idade superior a 18 anos e assim poderia se inscrever para ingressar na PM.  Esse procedimento foi utilizado por muito tempo na corporação. Encontramos fatos dessa natureza pelo menos até o decorrer da década de 1960.

    Assim, mesmo tendo nascido em 9 de novembro de 1919, mas com a certidão constando como nascido em  de 9 de maio de 1916,  José Valério de Sousa, ingressou na Polícia Militar da Paraiba no dia 14 de maio de 1936, portanto com menos de 17 anos.

   Posteriormente, já como Oficial, Valério pediu que sua data de nascimento constante nos seus registros fosse alterada para a real, ou seja, 9 de novembro de 1919.

  1. O Praça

    Como Soldado Valério, que demonstrava ter um nível de escolaridade acima da média dos seus companheiros do Curso de Formação, passou a prestar serviço como auxiliar de escrita, uma função burocrática que exigia habilidades específicas dos seus executores. Pouco depois ele foi classificado como Telefonista função que também exigia certa escolaridade.

     Em abril de 1937, ainda como Soldado, Valério foi elogiado em Boletim por duas vezes pela sua postura durante desfiles militares. Em agosto de mesmo ano ele, após aprovação em seleção, iniciou o Curso de Formação de Cabos, que foi concluído em dezembro.

   Como Cabo Valério passou a prestar serviços na Secretaria do Comando Gera como Auxiliar de Escrita, onde ainda em dezembro de 1937, foi elogiado, em Boletim, pelo seu Chefe imediato.

     Em agosto de 1938, Valério foi mais uma vez elogiado, dessa feita pelo Coronel Delmiro Pereira de Andrade, Comandante da Corporação. No mês seguinte ele passou a prestar serviço no Setor de Material Bélico onde começo a sua paixão por armas automática.

     Valério era atleta de pedestrianismo e nessa condição participou da Corrida do Fogo, em novembro de 1938, quando foi elogiado por ter alcançado o primeiro lugar na competição. Naquela época, essa corrida era o evento mais importante dessa modalidade de esporte no Estado.

     O Coronel José Arnaldo Cabral de Vasconcelos, por ocasião de sua despedida do Comando, em fevereiro de 1939, registrou elogios ao Cabo José Valério, pelo seu desempenho com auxiliar de escrita.

     No dia 11 de fevereiro de 1939 Valério foi aprovado no Concurso de Sargento e foi promovido a Terceiro Sargento no dia 20 de abril daquele ano.

    Como Sargento, no decorrer de 1939 e 1940, ele prestou serviço na Cantina da Corporação e foi Subdelegado de Belém de Caiçara, no Distrito de Capiaoba.

    Tendo obtido autorização para contrair casamento civil, o que, na época, era exigência da legislação da PM, Valério se casou com Rosa de Luxerburgo  no dia 9 de novembro de 1939   em cartório na Cidade de João Pessoa.

     Com aptidão para atividades como instrutor, Valério foi aprovado em primeiro lugar para ser monitor dos Cursos de Soldados e de Cabos, em março de 1940.

    Com o intuito de se aprimorar como profissional, Valério frequentou, durante o mês de abril de 1944, de um treinamento de Aperfeiçoamento de Sargento, no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, em um Quartel do Exército em Recife.

  1. O Oficial

    Ao voltar desse treinamento, Valério ingressou no Curso Preparatório para seleção ao CFO, tendo ao final sido aprovado em terceiro lugar, sendo, por conseguinte, matriculado no segundo Curso de Formação de Oficiais a funcionar da Paraíba e que teve início no dia 5 de janeiro de 1945.

     O CFO foi concluído no dia 12 de março de 1946, sendo Valério o segundo lugar de uma turma de dez. No dia 24 daquele mês ele foi Declarado Aspirante Oficial e no dia 9 de outubro do mesmo ano foi promovido ao Posto de  Segundo Tenente.

     Como Segundo Tenente José Valério Comandou Companhias, em caráter interino, foi Chefe do Setor de Educação Física da Corporação, Instrutor do Curso de Formação de Cabos, Delegado de Polícia em Alagoa Grande, Secretário do Primeiro Batalhão, Integrou o Conselho de Justiça de Auditoria Militar e Superintendente do Policiamento da Região polarizada por  Bananeiras, durante as eleições de 1947, ocasião em que foi elogiado pelo Interventor Federal por sua postura.

     Mas a função com a qual o Tenente Valério melhor se identificou, e que exerceu durante mais tempo, foi a de Comandante do Pelotão de Metralhadoras, em razão da sua habilidade no manuseio com armas automáticas, o que foi adquirido no período em que prestou serviço no Setor de Material Bélico.

     No dia 7 de setembro de 1947 o Tenente Valério participou do desfile militar como Comandante de Pelotão de Metralhadoras, e nessa ocasião foi elogiado pelo Comandante Geral.

  1. O falecimento

   A paixão de Valério por armas automáticas levou o Comandante a encaminhá-lo para fazer um estágio na Polícia Militar de São Paulo a fim de se aperfeiçoar nesse tema. Com esse objetivo ele viajou para aquele Estado no dia 23 de outubro de 1948.

   Pouco depois de iniciadas essas atividades, Valério se sentiu mal e baixou à Enfermaria do Hospital daquela Corporação no dia 12 de novembro de 1948.

    O Comandante de Polícia Militar da Paraíba recebeu no dia 26 de novembro de 1948 um Radiograma encaminhado pelo Comandante da Polícia Militar de São Paulo, comunicando o falecimento do Tenente José Valério de Sousa, ocorrido no  Hospital daquela Corporação no dia 25 daquele mês, as 13 horas e 15 minutos.

   O corpo do Oficial foi embalsamado e transportado por via aérea para a capital paraibana, acompanhado da sua esposa, a Senhora Rosa de Luxerburgo Sabadelhe, e de um irmão do falecido, além do Capitão  Clodoaldo Passos Fialho, designado para  coordenar a execução dessas medidas.

     O Governador de São Paulo, Ademar de Barros, oficiou ao Governador da Paraíba, Osvaldo Trigueiro, expressando votos de pesar à família do Tenente Valério.

     Os Deputados João Agripino e Ernani Sátiro, que estavam no Rio de Janeiro, se deslocaram para São Paulo onde,  externaram condolências aos familiares do Oficial falecido.

    Esses atos expressam a repercussão que esse acontecimento alcançou e  o grau de prestígio que o Tenente Valeria gozava junto ao alto escalão do Governo.

     As notas publicadas nos Boletins da PM/PB não esclarecem a causa da morte de Valério. Uma notícia publicada no Jornal a União menciona que o Tenente foi submetido a uma “melindrosa” intervenção cirúrgica, mas não acrescenta mais detalhes.

      Nos assentamentos das atividades funcionais do Tenente Valério estão registradas diversas baixas à enfermaria com dispensas médicas de oito ou de quinze dias, mas também não indicam os motivos dessas baixas.

    Dessa forma, não conseguimos identificar o motivo que levou esse valoroso Oficial à intervenção cirúrgica que resultou na sua morte.

   Nos Boletins da Polícia Militar estão consignados diversos elogios a José Valério de Sousa, como Praça e como Oficial, alguns deles já aqui mencionados. Esses elogios foram efetuados por Elias Fernandes, Delmiro Pereira de Andrada, José Arnaldo Cabral de Vasconcelos, Ivo Borges e Mario Solon, todos eles Comandantes da Corporação durante o período em que Valério prestou serviço.

      Na essência os motivos desses elogios eram referentes à qualidade dos serviços prestados por Valério, como burocrata, no esmero de sua postura nas formaturas e na atividades operacionais.

     Vê-se, dessa forma, que mesmo tendo prestado serviço por um curto período, o Tenente José Valério de Sousa era portador de qualidades que lhe tornaram um policial militar exemplar e modelo a ser seguido por todos os integrantes dessa Corporação.

     José Valério de Sousa era pai de Edmar Sabadelhe, Edmundo Sabadelhe, Ednaldo Sabadelhe e Magnólia Sabadelhe.

   
EXCLUSÃO DO TENENTE VALÉRIO
 
Telegrama de Ademar de Barros
Telegrama de João Agripino Telegrama de João Agripino  
Nota publicada no Jornal A União
 
Requerimento de ingresso
 
Ficha funcional
Edmar Sabadelhe (Centro,) filho do Tenente José Valério, Ladeando Sabadelhe estão seus dois filhos, policiais militares.
  Veja também Histórico da formação profissional na PM da Paraíba.  

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JOSÉ DE aRIMATÉA ALBUQUERQUE
JOSÉ DE aRIMATÉA ALBUQUERQUE
4 anos atrás

Recordo os idos de 1958 quando incorporei no Decimo Quinto Regimento de Infantaria para prestar o Serviço militar obrigatório com Edmundo Valério Sebadelhe e fizemos o Curso de Formação de Graduados, existente naquela época quando terminávamos eramos promovidos a Cabo, obedecendo os critérios de Núcleo Básico, para quem pretendia engajar e Núcleo Variável destinado aos praças que queriam apenas cumprir o Serviço Obrigatório, assim ocorreu com o Edmundo Valério SEBADELHE, porque fazia Universidade e desejava concluir o seu Curso na UFPB a custo de muito sacrifício, embora tivesse o desejo latente ser um autentico Militar, porque ele muito se orgulhava… Leia Mais »