Comemorações de vitorias eleitorais no interior da Paraíba

Compartilhe!


        Durante as comemorações de vitorias eleitorais no interior da Paraíba, como nos demais Estados do nosso país, os eleitores ficam eufóricos e às vezes os ânimos se exaltam, passando a provocar os adversários políticos, o que enseja conflitos.

       Quase sempre situações desse tipo exigem a intervenção da Polícia Militar, que é orientada a agir com imparcialidade e com a devida moderação. Nem sempre, entretanto, a atuação da polícia é compreendida e acatada pelos envolvidos nessas situações, o que, por vezes, resulta em confrontos.

      No caso que aqui vamos narrar, uma intervenção policial em uma ocorrência dessa natureza resultou em uma tragédia que não foi maior graças a intervenção de um respeitável e esclarecido cidadão.  É o que passamos a expor.

     No dia 19 de janeiro de 1947 ocorreram as eleições para Governador, Senador e Deputados Estaduais na Paraíba. Fazia dezenove anos que não tinha eleição direta para Governador. Era grande a expectativa do eleitorado.

      A disputa foi polarizada entre a União Democrática Nacional (UDN – Partido de Oposição) e o Partido Social Democrática (PSD). José Américo de Almeida e Osvaldo Trigueiro de Albuquerque, ambos da UDN, foram eleitos, respectivamente Senador e Governador. Das 37 vagas de Deputado, 21 foram ocupadas por candidatos da UDN, inclusive por Jacob Guilherme Frantz, Major da Reserva da PM/PB. Esse partido já contava com sete Deputados Federais, dos dez existentes, além de dois Senadores.

      Portanto, ficou demonstrado que o poder da UDN era arrasador.

    A apuração dos votos foi muito demorada, como era comum naquela época, de forma que só no dia 12 de fevereiro os vitoriosos puderam comemorar a estrondosa vitória eleitoral.

     Na manhã daquele dia, São João do Rio do Peixe, alto sertão paraibano, área de atuação de Jacob Frantz, estava tomada por partidários da UDN, vindos de diversos pontos da zona rural.  Era grande a empolgação do povo. A festa começaria às doze horas, após a missa.

       Houve denúncias de que foram atiradas bombas nas calçadas e no interior das casas de alguns adversários. O clima foi ficando tenso.

     Em frente a um Bar um grupo de pessoas conversava quando chegou uma garotinha acompanhada de adultos, e colocou uma fita nos ombros do um senhor de nome José Florentino, com o objetivo de recolher donativos para a festa. O sentido desse ato era convidar a pessoa escolhida pela colocação da fita, a fazer uma doação. Normalmente as pessoas doavam um cruzeiro.

     José Florentino, que estava meio embriagado, fez uma doação de cinquenta centavos e a menina não quis receber. José Florentino disse que só poderia doar aquele valor ou uma facada na menina, fazendo menção de que sacaria uma arma.

    Naquele momento os Cabos Manuel Olegário de Andrade e Antônio Medeiros Pontes, do Destacamento local, transitavam naquelas proximidades e resolveram intervir.

    O Cabo Olegário se dirigiu a José Florentino e o aborda de forma debochada, dizendo: “Fure aqui a minha barriga. Venha fure...”

    Florentino, que estava desarmado, disse que o que fez com a menina foi  só uma brincadeira e não resistiu à busca pessoal.

    A ação policial chamou a atenção dos udenistas João Feliz de Abreu e Antônio Sesinando, que estavam alcoolizados nas proximidades e resolveram agir em defesa do Florentino. Aproximaram-se e começaram interpelar os policiais em tom agressivo. O Cabo Olegário sacou uma arma e conteve o ímpeto dos agressores. Florentino aproveitou a confusão e correu do local.

      Nisso outro civil de nome Pedro Alexandrino, chegou por traz a atacou Olegário tentando lhe tomar a arma. Olegário se agarrou com ele e os dois rolaram no chão. Vários outros civis se aproximaram e começaram a agredir Olegário com chutes. Mesmo caído Olegário faz diversos disparos tentando afugentar seus agressores. Um desses tiros atingiu de leve a perna de uma criança que estava nas proximidades.

     Enquanto isso, outro grupo de civis atacou o Cabo Antônio Pontes, tomando-lhe a arma, os óculos e a carteira de cédulas, além de espanca-lo.

      O restante do destacamento que estava na Delegacia foi avisado desses fatos e correu para o local, fazendo disparos de fuzil para o ar, provocando desesperos e correrias na rua. Os agressores dos Cabos ficaram apavorados e fugiram.

     Quando o Cabo Olegário se viu livre dos seus agressores, se levantou, empunhou a arma e se preparou para reação. Nesse instante vai chegando ao local o civil José Guerra Dantas, que corria com medo dos tiros do Destacamento. José Guerra estava com um paletó muito parecido com o de José Florentino, com quem a confusão começou. O Cabo Olegário pensado que era Florentino efetuou um disparo que lhe atingiu nas costas e lhe causou a morte.

      Os Cabos agredidos e os demais integrantes do Destacamento se recolheram à Delegacia. A cidade ficou toda revoltada.

       O Deputado eleito Jacob Frantz, que residia na cidade,  reunido com um grupo de civis resolveu atacar o Destacamento e quando para lá se dirigiam foi aconselhado por senhor conhecido por José Alexandre a abortar aquela ação, pois estavam em desvantagem uma vez que os policiais estavam entrincheirados na Delegacia e bem armados, o que poderia resultar em muitas mortes e talvez até acarretasse a perda do mandado do Deputado.

     A festa da UDN foi substituída por um enterro.

    O Cabo Olegário foi processado e, por segurança, ficou preso em Campina Grande. Em 1949 o réu foi julgado e absolvido em Cajazeira, em razão de ter havido o desaforamento do júri.

     Esses fatos foram objetos de um minucioso artigo de autoria de Antônio Nogueira da Nóbrega, publicado no blog “Um olhar sobre São João do Rio do Peixe.” ( www.umolharsobresaojoao.blogspot.com )

  VEJA TAMBÉM       Major Jacob Guilherme Frantz: O Policial Militar e o Político     A representação política da PM da Paraíba através da história

Compartilhe!


Deixe um comentário

Seja o Primeiro a Comentar!

Notificação de
avatar