Durante o Governo de Flávio Ribeiro (1956 a 1961) a PM da Paraíba teve  treze Comandantes

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Durante o Governo de Flávio Ribeiro (1956 a 1961) a PM da Paraíba teve  treze Comandantes,  o que constitui um fato inédito na história dessa Corporação. Para melhor se entender esse fenômeno é necessário se ter uma visão, mesmo que de forma sintética dos fatos políticos que  ensejaram essa instabilidade do Comando, o  que também ocorreu em outros órgãos da administração Estadual.  São esses acontecimentos que vamos aqui abordar.

  1. O quadro político da época

De janeiro de 1956 a janeiro de 1961 a PM da Paraíba teve 13 períodos de Comando, o que expressa a instabilidade política do Governo naquela época.  Essa situação resultou de uma frustrada aliança política entre a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD), os dois maiores partidos políticos da Paraíba, que até então eram ferrenhos adversários.

Essa aliança foi articulada em 1955, pelo Governador José Américo de Almeida, e consistia no seguinte acordo.

O Deputado Estadual Flavio Ribeiro Coutinho, da UDN, saiu candidato a Governador e Pedro Moreno Gondim, também Deputado Estadual, do PSD, foi o Candidato a Vice-governador, na mesma chapa.

Ficou acertado no acordo que cada um desses partidos teria direito a determinada quantidade de cargos no Governo. Essa chapa foi vencedora com a obtenção de mais de 90% dos votos.

Vitorioso, Flávio Ribeiro Coutinho assumiu o Governo no dia 31 de janeiro de 1956 e logo na formação do Secretariado começaram a surgir insatisfações dos integrantes de cada partido querendo cada um obter maior participação no Governo. Com o passar do tempo essas insatisfações foram crescendo cada vez mais.  Mas, em princípio, quem estava no poder era a UDN.

Em janeiro de 1958 Flávio Ribeiro se afastou do Governo para tratamento de saúde, e não voltou mais ao poder, e exonerou todo o Secretariado, exceto o Comandante da PM, o Coronel Renato Ribeiro. Dessa forma, Pedro Gondim assumiu o Governo e todo o secretariado foi composto por integrantes do PSD. Assim, houve mudança na linha política do Governo.

Em março de 1960, Pedro Gondim renunciou ao Governo para ser candidato nas eleições daquele ano, e por essa razão o Deputado do PSD,  José Fernandes de Lima, Presidente da Assembleia, assumiu o Governo.  Mesmo sendo do PSD, José Fernandes promoveu mudanças no Secretariado, inclusive no Comando da PM.

Foi nesse cenário político que toda administração pública Estadual passou por constantes  mudanças, inclusive a Polícia Militar, que teve 13 diferentes períodos de Comandos.

- O Tenente Coronel Manuel Coriolano Ramalho, que era o Oficial mais antigo da PM naquela época, foi Comandante Interino por seis períodos.

- Sebastião Calisto de Araújo, Tenente Coronel, também da PM, foi Comandante Interino uma vez.

- Edson Amâncio Ramalho, Tenente Coronel do Exército, Comissionado Coronel da PM, Comandou durante 11 meses e dias.

- Renato Ribeiro de Morais, Tenente Coronel, Comissionado Coronel da PM, também do Exercito, foi Comandante por 2 anos e 2 meses.

- José de Sá Serrão, Major do Exército, Comissionado Coronel da PM, exerceu essa função por 3 meses.

- O Capitão do Exército Ozanan de Lima Barros, Comissionado no posto de Coronel da PM,  foi Comandante por 3 meses. Ozanan voltou a Comandar essa Corporação no Governo de Pedro Gondim ( 1966 A 1971)

- O Coronel Reformado da PM, José Maurício da Costa, foi Comandante durante dois períodos sendo um de 5 meses e outro de 7 meses.

   Períodos de Comandos ocorridos entre Janeiro de 1956 a Janeiro de 1961

Como se percebe, exceto o período do Coronel Renato Ribeiro de Morais, foram comandos que tiveram menos de um ano de duração, pelo que pouco se tem a relatar de cada um deles. Mas, vamos focar a nossa atenção nos três Comandos mais duradouros. Começaremos pelo Coronel Edson Amâncio Ramalho.

 
  1. O Comando do Coronel Edson Amâncio Ramalho
Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=JflPdjLY4M8

Edson Amacio Ramalho, paraibano de Bananeiras, nasceu no dia 8 de outubro de 1912 e ingressou no Colégio Militar de Fortaleza em 1927. Frequentou a Academia Militar de Realengo aonde concluiu o Curso em 1931.

No decorrer da década de 1930 Edson Ramalho foi promovida aos Postos de  Segundo e a Primeiro Tenente, enquanto prestava serviços  em Unidade do Exercito sediadas no Rio de Janeiro. Em 1942 ele foi promovido a Capitão e transferido para a Guarnição Federal de Pernambuco.

No Posto de Capitão Edson Ramalho Comandou uma Companhia de Infantaria durante a Segunda Guerra Mundial, participando da tomada de Monte Castelo, uma das mais importantes vitórias da FEB em campos da Itália.

Em 1949, Edson Ramalho fez o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, findo o qual foi transferido para o 15º Batalhão de Infantaria, sediado em João Pessoa. Nessa Unidade ele foi promovido a Major, em 1952 e a Tenente Coronel em 1955.

Por ato do Governador Flávio Ribeiro Coutinho, Edson Ramalho foi Comissionado no Posto de Coronel da Polícia Militar e nomeado para Comandar essa Corporação, no dia 16 de fevereiro de 1956.

Dentro do acordo firmado entre a UDN e o PSD, essa função era da cota do PSD.

Mesmo curto esse Comando foi profícuo conforme se depreende das suas principais realizações que passamos a sintetizar.

Foi reativado o Centro de Instrução, que passou a funcionar em antigas instalações onde, entre 1940 e 1945, esteve sediado o Esquadrão de Cavalaria, localizado na Fazenda Simão, no Bairro do Roger. Nesse Centro passaram a ser realizados Cursos de Soldados, Cabos e Sargentos além de treinamentos especializados. Essas atividades muito contribuíram para a melhoria da qualificação profissional da tropa.

Foi iniciado o quarto Curso de Formação de Oficiais, com uma turma de 40 alunos, a maior até então formada, e com a inovação de admitir candidatos civis. Esse curso foi concluído em 1958, na gestão do Coronel Renato Ribeiro de Morais. Os integrantes dessa turma ocuparam as mais importantes funções da Corporação no decorrer das décadas de 1970 e 1980.

 O Serviço de Comunicações, setor estratégico da Corporação, foi ampliado. Até então só existiam 5 estações de Rádios assim distribuídas: Palácio da Redenção, Comando Geral,   Batalhão de Campina Grande, Companhia de Patos e Companhia de Cajazeiras.  Foram instalados Rádios nos Destacamentos de Guarabira, Monteiro, Souza, Catolé do Rocha e Itaporanga. Dessa forma, as atividades dos Destacamentos passaram a ser melhor fiscalizadas e produtivas.  Para incentivar as atividades do Radio Telegrafistas foi implantada um gratificação especial para esses policiais.

Foi iniciada a atividade de fornecimento de alimentação dos policiais em serviço, com a implantação de uma gratificação denominada de etapa de alimentação.

Graças ao prestígio do Coronel Edson Ramalho junto ao Alto Comando do Exercito, a PM foi autorizada a usar metralhadora de mão em suas atividades operacionais.  Assim, foram adquiridas 100 Metralhadoras INA, o que representou um grande avanço no armamento da Corporação.

 A medida que mais impactou as atividades Operacionais da Corporação, em particular nos dois maiores centros urbanos do Estado, foi a implantação do serviço que ficou conhecido por Cosme e Damião. Eram duplas de policiais em bicicletas, que circulavam na cidade durante toda a noite. O serviço foi implantado em João Pessoa e Campina Grande.

Como o Estado não tinha dotação para compra de bicicletas, foi feita uma campanha no comércio dessas cidades, o que resultou na doação de 80 bicicletas, sendo 30 em Campina Grande e 50 em João Pessoa. Os policiais que passaram a executar esse serviço receberam um treinamento especial e recebiam uma gratificação por cada turno de ser serviço, que era das 8 horas da noite às 4 horas da manhã.

Esse serviço teve uma grade aceitação da sociedade, dos empresários e da imprensa, que viam nessas atividades uma forma objetivas de prevenir os crimes, principalmente os contra o patrimônio.

No final de 1956, Edson Ramalho, que era Tenente Coronel do Exercito completou 30 anos de serviço e por esse motivo foi promovida a Coronel, e como tinha participado da Segunda Guerra, passou para a reserva no Posto de General de Brigada.

Nessa condição ele não poderia continuar no Comando da PM e por esse motivo, no dia 12 de janeiro de 1957, foi exonerado a pedido.

Nessa mesma data o General Edson Ramalho foi nomeado Chefe de Polícia, aonde permaneceu até janeiro de 1958.

Em 1963 ele foi Secretário de Fazenda na Paraíba, e no ano seguinte exerceu essa mesma função no Estado do Ceará.

No começo de 1965, Edson Ramalho assumiu a Direção do Banco do Estado da Paraíba.  Quando ainda estava no exercício dessa função, ele faleceu, no dia 12 de setembro de 1965, no Rio de Janeiro, e foi sepultado no Cemitério Senhor da Boa Sentença, em João Pessoa.

Por ocasião do sepultamento desse ilustre militar, o Governador Pedro Gondim, em um comovente discurso, afirmou que colocaria o nome de Edson Ramalho no hospital que ele iria iniciar a construção, o que, posteriormente veio a se concretizar.

  3. O Coronel Renato Ribeiro e a invasão ao Jornal A União

O Coronel Edson Ramalho foi substituído interinamente pelo Coronel Manuel Coriolano Ramalho, que permaneceu nessa função até o dia 26 de março daquele ano, quando foi substituído pelo Tenente Coronel do Exército Renato Ribeiro de Morais, que foi Comissionado no Posto de Coronel da PM e nomeado para o exercício dessa função.

  Vídeo  https://www.youtube.com/watch?v=mEusaRTs1zA&t=120s

A nomeação de Renato Ribeiro foi feita pelo Governador Flávio Ribeiro, que era da UDN, mas essa função era da cota do PSD, conforme o acordo firmado entre esses partidos na aliança para disputar a eleição de 1955. O vice-governador era Pedro Gondim, do PSD, que foi quem indicou Renato Ribeiro para o Comando da PM. Essa circunstância teve um desdobramento que mais adiante vamos narrar.

Passamos a relatar, de maneira breve, alguns fatos marcantes desse comando na forma a seguir:

 - Desde 1942 funcionava, de forma precária, um Hospital da Polícia Militar, em um prédio anexo ao Hospital Santa Isabel. Desde o início da década de 1950, uma das grandes preocupações do Comando da Corporação era ampliar aquelas instalações e dota-las de melhores condições para cumprimento dos seus fins.   Com esse objetivo Renato Ribeiro fez gestões junto ao Governador que providenciou a aquisição de um amplo terreno, aonde, anos depois, teve início a construção do atual Hospital Edson Ramalho.

- Através de proposta apresentada por Renato Ribeiro, o Governador Flavio Ribeiro, no dia 20 de agosto de 1957, assinou o decreto estabelecendo que o Coronel Elísio Sobreira, falecido em 1942, passava a ser o Patrono da Polícia Militar. Flávio Ribeiro conhecia toda a trajetória profissional e pessoal de Elísio Sobreira com quem conviveu durante o Governo de João Suassuna (1924\1928). Naquela época Flávio Ribeiro era vice-presidente do Estado e Elísio Sobreira era o Comandante da PM.

- No dia 25 de janeiro de 1958 ocorreu a declaração de Aspirantes a Oficial, com uma garbosa solenidade realizada em frente ao Palácio do Governo. Foi o quarto CFO realizado na Corporação e teve 38 concluintes. Essa turma de Oficiais representou um grande avanço na qualificação profissional dos integrantes da Corporação.

- O Curso de Alfabetização de Adultos que desde a década de 1910 existia no Quartel, foi extinto, sob a alegação de ter se tornado desnecessário, e foi criado um Curso Ginasial, que era ministrado por Oficiais que eram gratificados para esse fim.

- No Quadro de Músicos da Corporação as graduações de Praças eram denominadas de Músicos de Primeira, Segunda e Terceira Classes, que foram transformadas em Primeiro, Segundo e Terceiros Sargentos. Essa era uma antiga reivindicação desses profissionais que viam as designações anteriores como tratamentos pejorativas.

- Para atender a uma grande demanda de assistência jurídica aos policiais militares, foi contratado o Advogado Mário da Gama e Melo, que passou a realizar esses atendimentos em uma sala no interior do Quartel.

 Na noite do dia 2 de janeiro de 1958  Flávio  Ribeiro assinou o pedido de afastamento do Governo para tratamento de saúde e não voltou mais ao poder. A essa altura todos os ocupantes do primeiro e do segundo escalões do Governo que foram indicados pelo PSD tinham sido substituídos por partidários da UDN.  Nessas condições Flávio Ribeiro resolveu exonerou todo Secretariado para evitar que essas exonerações fossem feitas por Pedro Gondim, o que seria uma humilhação para o partido. Todos os Secretários pediram exoneração exceto o Comandante da PM, o Coronel Renato Ribeiro Coutinho. Esses pedidos de exoneração foram aceitos e formalizado em ato assinado por Flávio Ribeiro já em alto grau de enfermidade.

No dia 3 daquele mês o Dr. Joacil de Brito Pereira, Secretário da Casa Civil, foi encarregado de providenciar a publicação desse e de outros atos, inclusive o pedido de afastamento do Governo encaminhado à Assembleia. A pose de Pedro Gondim estava marcada para o dia seguinte às dez horas.

- Aproximadamente às dezoito horas daquele dia, o Dr. Joacil chegou ao Jornal a União, que na época era no prédio que foi demolido para construção da atual Assembleia Legislativa. Ali era editado o Diário Oficial. Os atos para publicação foram entregues ao Diretor do Jornal e o Dr. Joacil saiu para fazer um lanche em um restaurante no Ponto de Cem Reis, aonde encontrou com um grupo de amigos.

 Joacil narrou a missão que estava cumprindo e revelou que estava apreensivo com a possibilidade de encontrar resistência por parte de adversários políticos.   Solidários à essas preocupações seus amigos resolveram lhe acompanhar de volta ao jornal.

- Quando o grupo chegou ao jornal este estava cercado por um grupo de policiais militares e civis, inclusive com a presença do Coronel Renato Ribeiro Comandante da PM. Alguns políticos do PSD também estavam presentes, entre eles o Deputado José Gayoso,

- Em princípio, Joacil foi impedido de entrar no jornal, tendo o Coronel Renato alegado que estava cumprindo ordem de Pedro Gondim para que não fosse publicado o Diário Oficial naquela noite.

- Joacil pediu aos seus amigos que comunicassem esse fato a Luiz Bronzeado, Secretário de Segurança ao General Edson Ramalho, Chefe de Polícia, e ao Major Luiz de Barros, Chefe da Casa Militar.

- A irresignação de Joacil resultou em uma forte discussão dele com Renato Ribeiro. Joacil alegava que Pedro Gondim ainda não era Governador e, portanto, não poderia dar a ordem que Renato Ribeiro buscava cumprir. O Coronel insinuava que havia indícios de que seriam publicados documentos com assinaturas falsas.   O clima ficou tenso e Joacil chegou a temer ser agredido fisicamente ou até mesmo assassinado. O Deputado José Gayoso intermediou o conflito, e propôs ao Coronel Renato que voltasse a se comunicar com Pedro Gondim apresentando os argumentos de Joacil.

Renato Ribeiro acatou a sugestão do Deputado e resolveu se retirar com toda a sua tropa. Pouco depois Luiz Bronzeado chegou ao local com um grupo de policiais civis armados. Em seguida chegou Edson Ramalho com integrantes a Rádio Patrulha, formado por policiais civis e militares. Luiz de Barros também ali compareceu com a Guarda do Palácio. Todos estavam dispostos a garantir a missão de Joacil Pereira.

Portando, houve a possibilidade de um grave confronto armado que poderia resultar em uma tragédia.

Com a saída de Renato Ribeiro do local, o trabalho dos gráficos foi retomado e o Diário Oficial foi publicado. Serenados os ânimos, o  Deputado Federal João Agripino, Chefe da UDN,  também chegou ao Jornal e juntamente com Joacil de Brito, redigiram um editorial narrando esses fatos, o que foi publicado no Jornal a União daquele dia.

O Secretariado de Flávio Ribeiro foi exonerado. O Coronel Renato Ribeiro continuou no Comando da PM no Governo de Pedro Gondim.

   - No dia 4 de maio 1959 o Coronel Renato Ribeiro de Morais, depois de legalmente eleito para esse fim, assumiu a Presidência da Federação Paraibana de Futebol, recebendo essa função do Tenente Coronel Clodoaldo Passos Fialho. O futebol paraibano foi legalmente profissionalizado naquele ano.

No dia 10 de maio de 1959, Coronel Renato Ribeiro foi exonerado a pedido do Comando da Polícia Militar, para tratamento de saúde própria, retornando ao seu Quadro no Exercito, onde, anos depois passou para a reserva no posto de General de Brigada.

  4. Os Comandos do Coronel José Maurício   Vídeo  https://www.youtube.com/watch?v=T2yXASewiDE  

O Coronel José Maurício da Costa comandou a PM da Paraíba durante sete períodos. Ao longo esse trabalho já abordamos os cinco primeiros deles. Aqui vamos focar a nossa atenção a fatos de repercussões ocorridos nos seus dois últimos comandos, que constituíram os motivos de suas exonerações.

O primeiro desses Comandos foi de maio a outubro de 1959, no Governo de Pedro Gondim, que na época era do PSD.

Em 1959 os vencimentos da PM eram os mais baixos das últimas décadas, o que muito inquietava a tropa. No início de setembro daquele ano um grupo de Oficiais, à revelia do Comandante, elaborou uma carta aberta ao Governador reivindicando aumento de vencimentos.

Esse documento foi lido e comentado em um programa de Rádio da Capital, na noite do dia 6 de setembro. Esse fato tomou uma grande repercussão política. Na manhã seguinte, dia 7 de setembro, logo cedo, o Coronel José Maurício, Comandante da Corporação, se dirigiu ao Quartel e determinou o recolhimento ao Estado Maior, de doze Oficiais que assinaram a tal carta. Esses Oficiais estava escalados para participar do desfile cívico-militar.

Por essa razão, a Polícia Militar não desfilou naquele ano, o que ampliou a repercussão dos fatos. Alguns desses Oficiais eram Universitários e os seus colegas fizeram manifestações em frente ao Quartel. O Comandante manteve as detenções dos Oficiais. Houve pronunciamentos na Assembleia e na Câmara de João Pessoa, sempre contra o Governo.

O Governador estava no Rio de Janeiro, e que quando voltou, tomou conhecimento dos fatos, analisou os pedido dos Oficiais e concedeu o aumento na forma solicitada, o que foi concretizado no mês seguinte. A euforia foi grande na tropa. Os Oficiais foram liberados, se cotizaram e ofereceram um banquete ao Governador na Churrascaria Bambu que na época era o local mais nobre para esse tipo de evento na cidade.

O Coronel José Maurício sentiu-se desprestigiado e pediu exoneração no dia 20 de outubro de 1959.

O Segundo Comando de José Maurício, aqui em abordagem, (25/03/1960 a 26 de outubro de1960) agora no Governo de José Fernandes de Lima (Presidente da Assembleias, que assumiu o Governo em razão da renúncia de Pedro Gondim para ser Candidato a Governado) coincidiu com o período eleitoral da Eleição para Governador.

 Pedro Gondim, que era do PSD, pretendia ser candidato a Governador por esse partido, mas foi preterido por Rui Carneiro, Presidente daquela agremiação, e que optou pelo nome do seu irmão, Janduy Carneiro, Deputado Federal. Por essa razão Pedro Gondim, para ser candidato se filiou no Partido Democrático Cristão e este se coligou com a UDN, que era dirigido pelo Deputado Federal João Agripino.

Assim, Pedro Gondim se tornou adversário do Governo e todas as Secretarias do Estado passaram a trabalhar pela eleição de Janduy Carneiro agindo cada uma de conformidade com a sua natureza.  Na polícia Militar, por iniciativa do Comandante, ou por pressão do Governo e seus aliados, essas ações eram efetivadas através de promoções em massa, quase todas concedidas de forma contraria às normas para esses fins.

Dessa forma, no período de maio ao começo de setembro de 1960, período em que ocorria a campanha eleitoral, foram efetivadas 240 promoções. Houve casos em que o mesmo policial militar foi promovido três vezes nesse período, saindo de Terceiro Sargento para Segundo Tenente.

Um grupo de Oficiais partidários da UDN, seguidores de Pedro Gondim, começou a pressionar o Comandante, apontando a ilegalidades daquelas promoções. O clima no interior dos Quartéis ficou muito tenso.

Em outubro Pedro Gondim foi eleito e o Comandante José Maurício não suportou a pressão e pediu exoneração no dia 26 de outubro de 1960. Esses fatos tiveram fortes desdobramentos meses depois.

Madrugada de tensão

Em meio a esse clima, no dia 26 de outubro de 1960, o Coronel Ozanan de Lima Barros, Oficial do Exército, assumiu o Comando da PM, a convite do Governador José Fernandes de Lima.

Ao tomar conhecimento da tensão que as promoções indevidas provocaram na Corporação, o Comandante   Ozanan de Lima pediu ao Governador para que não fossem mais realizadas promoções até o fim do Governo, tendo José Fernandes prometido atende-lo. Só faltavam 3 meses para o fim do Governo, pois a posse de Pedro Gondim seria no dia 31 de janeiro de 1961.

Mas, no dia 28 de janeiro de 1961, um sábado, portando faltando 3 dias para a passagem do Governo, Ozanan tomou conhecimento, as 23 horas, de que no dia seguinte seriam publicadas as promoções de 5 Oficiais. Naquele momento muito policiais militares, partidários da UDN, se encontravam no Quartel, fardados e armados com armas próprias.

Diante dessa informação, Ozanan de dirigiu ao Governador, que se encontrava no Palácio, e em uma curta conversa ponderou para que as promoções não se efetivassem, mas o Governador foi irredutível. Irritado, Ozanan pediu demissão e se retirou.

Era quase meia noite daquele sábado.

No Palácio estavam presentes: O Dr. Boto de Menezes, Secretário de Segurança Pública. Dr. Walter Arcoverde, Chefe de Polícia, Dr. Geraldo Beltrão, Secretário da Casa Civil, Tenente Coronel José Cezarino da Nóbrega, Chefe da Casa Militar, o Coronel José Maurício da Costa, Ex-comandante da PM, Primeiro Tenente José Lira, e dezenas de outros policiais militares, todos fardados e portando armas próprias.

Pouco depois de saída de Ozanan do Palácio, ali chegou o Deputado Antônio Montenegro, que residia em um Hotel na Praça Pedro Américo, proximidades do Quartel. Esse parlamentar comunicou ao Governador que naquele momento tinha muitos policiais no Quartel, o que ele achou muito estranho.

Diante dessas informações, José Fernandes entendeu que estavam tentando lhe depor do Governo e determinou que o Secretário de Segurança e o Chefe de Polícia fossem ao Quartel saber o que estava acontecendo e adotar as medidas necessárias. Logo em seguida o Governador mandou Geraldo Beltrão e o Tenente Coronel José Cezarino, se dirigirem ao Quartel do Grupamento de Engenharia, pedir garantia constitucional para o seu Governo.

Ao chegarem no Quartel, Boto de Menezes e Walter Arcoverde, foram recebidos por uma Comissão formada pelo Tenente Coronel Sebastião Calixto de Araújo, Tenente Coronel Luiz de Barros, Major Severino Dias da Souza e Segundo e Tenente Pedro Belmont Filho. Esses Oficiais informaram aos emissários do Governo que não iriam permitir a efetivação das promoções que estavam em processamento.

 Boto de Menezes comunicou que as promoções eram por ordem do Governador e tinham de ser cumpridas e que os atos seriam publicados no Diário Oficial que estava sendo impresso na Jornal a União.  Por essa razão, os Oficiais deixaram o Secretário de Segurança e o Chefe de Polícia detidos no Quartel.

Geraldo Beltrão e José Cezarino foram recebidos no Grupamento de Engenharia pelo General Fragoso, Comandante da Guarnição Federal da Paraíba, que depois de ouvir o relato dos enviados do Governador, informou que iria adotar providências.

Era quase duas horas da manhã do domingo 29 de janeiro de 1960.

Luiz de Barros e um grupo de cerca de trinta policiais militares saíram do Quartel em direção ao Jornal a União com o objetivo de impedir a impressão do Diário Oficial. O Jornal a União estava instalado no prédio aonde depois foi construída a atual Assembleia Legislativa.

Os partidários do PSD que estavam no Palácio tomaram conhecimento da marcha de Luiz de Barros e seus liderados e resolveram também seguir para o Jornal a União para garantir a edição do Diário Oficial. O grupo, com Mais de vinte homens foi liderado pelo Tenente José Lira.

Os dois grupos se encontraram em frente ao Jornal e ficaram parados em linha, de frente um para o outro, a cerca de vinte metros, trocando xingamentos, acusações e ameaças.

A essa altura, um grupo de liderados de Luiz de Barros, fazendo uso do automóvel do Dr. Boto de Menezes, que estava detido no Quartel, rumou para as proximidades do local do eminente conflito, e passando por detrás do Jornal, na Praça 1817, efetuou uma rajada de metralhadora INA e tiros de fuzis para o alto, com o objetivo de amedrontar o grupo de José Lira.

Esse fato fez com que o clima de tensão entre os grupos chegasse ao auge. Era iminente um confronto que por certo teria graves consequências.

Nesse momento chegou ao local uma tropa do Exército, armada de fuzis, sob o Comando do General Fragoso, e se posicionou entre os grupos em vias de conflito. Aos poucos os ânimos foram se acalmando. O General determinou que Luís de Barros recolhesse seu grupo para o Quartel e que José Lira retirasse seu pessoal do local. Essas ordens foram cumpridas sem resistência.

Passava das três horas da manhã daquele domingo.

Em seguida o General foi ao Quartel aonde determinou a liberação do Secretário de Segurança e do Chefe de Polícia. Todos os Oficiais que estavam no Quartel ficaram detido até segunda ordem.

O Dia estava amanhecendo.

O Diário Oficial foi publicado em um encarte do Jornal a União, como era comum na época.

Uma Patrulha do Exército ficou na frente do Quartel e outra nas proximidades do Jornal a União. Essas medidas perduraram até o anoitecer da segunda-feira, dia 30 de janeiro de 1961.

No dia seguinte ocorreu a pose de Pedro Gondim em clima de tranquilidade

O Coronel Renato Macário de Brito, Oficial do Exército, assumiu o Comando da PM, no dia 1 de fevereiro e o Governo nomeou uma Comissão para apurar os processos das promoções apontadas como ilegais. Meses depois todas as promoções foram anuladas. Inconformados, os despromovidos entraram com ações na Justiça, e já no final do Governo, quase todas as promoções foram repostas, sem que o Governo recorresse dessas decisões.

A pesar do grande ensinamento que esses fatos poderiam deixar, infelizmente as promoções por conveniência política perduram, e as vezes até igualmente de forma acintosa.

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