O Comando da PM da Paraíba no Governo de Pedro Gondim

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  1. O Comando do Coronel João Gadelha de Oliveira

(18 - 01-1964  a  17- 02-1966)

  Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=w8Hx2LSEQ-I&t=175s

   João Gadelha de Oliveira, natural de Conceição, no alto sertão da Paraíba, nasceu no dia 19 de março de 1915 e ingressou na Polícia Militar da Paraíba em 5 de março de 1931, portanto com apenas 16 anos de idade.  Nos cinco anos seguintes o jovem Gadelha foi Soldado, Cabo e Sargento. Em 1936 ele frequentou o Curso de Comandante de Pelotão na Escola de Sargentos de Infantaria do Exército, em Recife. Como consequência desse curso Gadelha foi Declarado Aspirante a Oficial em janeiro de 1937 e promovido a 2º Tenente no mesmo ano.

Em 1939, por exigência da Lei 192 de 1935, que regulamentava dispositivo Constitucional, dando nova organização às Policias Militares, o Tenente Gadelha fez o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, realizado na própria Corporação. Seguiram-se as promoções até o Posto de Tenente Coronel,  que era o último do serviço ativo  em1959. (Até então o único Posto de Coronel existente no serviço ativo era ocupado privativamente pelo oficial do Exército que estive no Comando da Corporação. O Tenente Coronel quando passava para a reserva era promovido a Coronel.)

      Durante os 38 anos de serviço, Gadelha, além de exercer funções de comando correspondente aos postos que ocupava,  foi Delegado  de Polícia em diversas cidade, inclusive na Capital. No período ditatorial de Vargas,  conhecido como Estado Novo, o Capitão Gadelha foi Prefeito Interventor em Conceição, sua terra natal,  Espírito Santo e Piancó.

      Em 1959 o Tenente Coronel João Gadelha passou para a reserva no posto de Coronel e no mesmo ano foi eleito para a Câmara Municipal de João Pessoa, aonde foi Presidente no período de 1960 a 1961.

      No início de janeiro de 1963, depois de concluído seu mandato de Vereador, o Coronel Gadelha foi nomeado Delegado Especial de Investigações e Capturas, na Capital.

     Naquele momento a ordem pública na Paraíba passava por uma greve crise com a atuação das Ligas Camponesas se confrontando com grupos armados que defendiam as grandes propriedades rurais na zona da mata da Paraíba, com sucessivos episódios violentos. Desses conflitos resultaram muitas mortes, inclusive de policiais militares. Esses fatos tinham muitas repercussões sociais e politicas.

     No dia 15 de janeiro de 1964, ocorreu o mais greve desses conflitos, episódio que ficou conhecido como a “Tragédia de Mari”, onde 11 pessoas perderam a vida, inclusive 3 policiais militares.

      Desde o início de outubro de 1963 o Coronel Renato Macário de Brito, que comandava a Polícia Militar, também respondia pela Secretaria de Segurança Pública.

     Nesse contexto, no dia 18 de janeiro de 1964, o Coronel João Gadelha de Oliveira foi convocado para o serviço ativo e assumiu o Comando da Polícia Militar, e o Coronel Renato Macário permaneceu como Secretário de Segurança Pública.

    O Comando do Coronel Gadelha se prolongou até o 2 de março de 1966.

    Passamos a relatar alguns dos principais fatos ocorridos no âmbito da Polícia Militar durante o Comando do Coronel Gadelha.

   No início do mês de março daquele ano a PM da Paraíba fez um desfile nas ruas centrais da Capital para expor o novo uniforme que a Corporação passou a usar. Era uma forma de fortalecer a autoestima da tropa. A partir de  então a conhecida  túnica da 7 botões passou a ser de uso obrigatório.

   No dia 25 de março de 1964, em um ato político realizado no Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de Janeiro, um grupo de Cabo e Soldados da Marinha, fez uma manifestação de apoio ao Governo de João Goulart na qual houve quebra da disciplina e grave comprometimento da hierarquia.

    Por essa razão, temia-se que viesse a ocorrer o mesmo em outros setores das Forças Armadas e no âmbito das Polícias Militares.

       Objetivando evitar que fatos dessa natureza ocorrerem na Polícia Militar da Paraíba, o Coronel Gadelha aplicou um amplo programa de instrução para toda tropa, no qual foram enfatizados os rigores do Regulamento Disciplinar e do Código Penal Militar.

      Em meados março de 1964 a UFPB promoveu uma série de palestras sobre temas da atualidade para a qual foram convidados Oficiais da PM. Os palestrantes foram os consagrados intelectuais Silvio Porto, Mario Moacir Porto, José Rafael de Menezes, Agnelo Amorim e Pedro Nicodemos.

    Assistiram e participaram dos debates dos temas expostos o Coronel João Gadelha e mais oito Oficiais. Essas atividades demonstram a preocupação do Comando da Corporação no preparo técnico e intelectual dos seus integrantes.

     Na noite de 31 de março de 1964, o Coronel Ednardo Dávila Melo, Comandante do 15º Batalhão de Infantaria e Comandante Interino da Guarnição Federal da Paraíba, pois o Comando do 1º Grupamento de Engenharia estava vago, esteve do Palácio da Redenção, em companhia do Coronel Plínio Pitalunga, Comandante de 23ª Circunscrição Regional do Serviço Militar (CR.)

      A missão desses Oficiais foi comunicar ao Governo o andamento do movimento revolucionário deflagrado pelas Forças Armadas e cobrar a posição de Pedro Gondim. Só na manhã seguinte Pedro Gondim anunciou o seu apoio ao movimento.

     A partir daquele noite até o final do mês de abril, a PM ficou em regime de prontidão com todo seu efetivo aquartelado.

     Teve início o processo de repressão política com a abertura de Inquéritos Policiais Militares (IPMs), presididos pelo Major Magalhães Cordeiro, Subcomandante do 15º Batalhão de Infantaria.  Um pequeno grupo de Oficiais e Praças que prestava serviço da Casa Militar do Governador  apoiava às atividades de investigações nesses IMPs.

    Essas investigações se estenderam à área aonde tinham ocorrido os conflitos das Ligas Camponesas com os grupos armados que defendiam as grandes propriedades rurais. O Tenente Coronel Luiz Ferreira Barros, que já atuava naquela região desde o início de 1963, comandando um grande efetivo, intensificou essas atividades em apoio ao trabalho de investigações  executado pelo Major  Magalhães Cordeiro, Presidente dos IPMs.

     Naquele período alguns presos à disposição da justiça, portadores de Curso Superior, ficaram detidos em Sala de Estado Maior no Quartel do Comando da PM, como por exemplo: Linduarte Noronha, Carmelo dos Santos Coelho, Manuel de Paula Filho e Mário Odilon Maia. Essas detenções tinham pequena duração.

      Na essência esses IPMs terminaram em setembro de 1964 quando o Major Magalhães Cordeiro remeteu Ofício ao Comandante da PM agradecendo e elogiando o trabalho realizado pelo Capitão Pedro Belmont e pelo Tenente Coronel Luiz Ferreira Barros, durante a elaboração desses procedimentos.

        Diante desse quadro social e político vivenciado em todo país a carência de efetivo da PM, que sempre existiu, se agravou, o que exigiu uma atenção maior por parte do Comando e do Governo.

       O efetivo previsto para a Corporação, em 1960 era de 1.886 homens. Em 1965 essa previsão passou para 2.834, ou seja, houve um aumento de 48%. Só nos dois anos do Comando do Coronel Gadelha houve um aumento aproximado de 400 homens, o que representa mais de 10% do total.

     O Coronel Gadelha tinha fundado e dirigia a Associação dos Oficiais Reformados há muitos anos, o que fazia com muita dedicação e entusiasmo. Imbuído desse espírito, no dia 18 de setembro de 1964, o Coronel Gadelha reuniu um grupo de Oficiais em seu Gabinete e propôs a criação do Clube dos Oficiais, o que foi acolhido de imediato, passando-se a adoção das medidas necessárias para esse fim.

     Uma das primeiras providências da Diretoria Provisória do Clube foi a elaboração de uma exposição de motivos dirigida ao Governador solicitando aumento de vencimentos dos policiais militares. Em consequência desse pedido, no final de novembro daquele ano, foi condido um substancial aumento, o que provocou uma grande euforia da tropa.

       O anúncio dessa medida foi feito pelo Governador em uma solenidade realizada no pátio do Quartel do Comando Geral.

      Como forma de agradecer esse benefício, o Comando da Corporação prestou uma homenagem ao Governador que se consistiu em um almoço no Restaurante do Clube Cabo Branco, do qual participaram 400 policiais militares, com representações de Soldado a Coronel, do serviço ativo e da reserva, da capital e do interior. Foi o maior evento dessa natureza em toda a história da Corporação, o que se configura  mais uma marcante forma de fortalecimento da autoestima da tropa.

      Durante esse Comando tiveram continuidade as atividades de formação e de aperfeiçoamento de praças, alcançando uma maior quantidade de policiais militares.   Como parte da melhoria na qualificação técnica dos Oficiais, no início de 1965 foram encaminhados para fazer o CAO na PM de Minas Gerais os Capitães:  Benedito Lima  Junior, Marcílio Pio Chaves e Nilton Leite de Araújo.

     Quando o Coronel Gadelha era Presidente da Câmara Municipal concedeu o título de cidadão pessoense  ao Coronel Sylvio de Melo Karú, Comandante do 15º Batalhão de Infantaria. A amizade de Gadelha com  Karú, que já existia, foi fortalecida com esse ato.

     Em 1964, depois da revolução, o Coronel Sylvio Karú assumiu o  Comando da Polícia Militar de Pernambuco. No final daquele ano, o Coronel Gadelha fez uma visita de cortesia ao amigo Karú e aproveitou a oportunidade para solicitar vagas para a Paraíba no Curso de Formação de Oficiais realizado naquela Corporação. Esse pedido foi atendido de imediato.

     Dessa forma, em fevereiro de 1965 a PM da Paraíba promoveu um Concurso para o CFO a ser realizado na PM de Pernambuco. Foram oferecidas 10 vagas, sendo 5 para militares e cinco para civis. A idade máxima para civis era 22 anos e a de militares 28. O programa da seleção foi equivalente ao curso ginasial.

      Foram aprovados: Ambrósio Agrícola Nunes, Manuel Paulino da Luz, Arnaldo da Silva Costa,  José Geraldo Soares de Alencar,  Hélio Leite de Albuquerque, Paulo Marcelino dos Santos, Romualdo de Carvalho Costa, Ednaldo Tavares Rufino, Carlos Paulo de Oliveira e José Batista do Nascimento Filho.

     A partir de então, todos os anos a Paraíba foi contemplada com vagas no CFO em Pernambuco e depois em outras coirmãs.

     Em fevereiro de 1966, ainda com o Coronel Gadelha no Comando, foi realizada outra seleção para o CFO, também em Pernambuco. Desta vez foram aprovados: João da Mata Medeiros Filho, Nivaldo Correia de Oliveira, Genival Luiz dos Santos, Macedônio Mariano de Oliveira,   Luiz Ferreira da Silva, Deuslírio Pires de Lacerda, João de Araújo Silva, Jeová Cordeiro de Morais e Raimundo Donato Alves de Alencar.

     Ainda nesse Comado foi sancionada a Lei de Promoção por 30 anos de serviço com passagem para a reserva, o que beneficiou todo efeito e ainda estar em vigor.

     No decorrer de 1965 a UFPB promoveu diversos Cursos de Extensão nos quais participaram integrantes da Polícia Militar, como por exemplo:

       Curso de Introdução ao Estudo das Ciências Social na atualidade, do qual participaram o Coronel Gadelha e mais 9 Oficiais.

      Curso Intensivo de Português, que teve a participação dos Tenentes  Antônio Costa Filho e Lindemberg da Costa Patrício e mais 8 policiais militares.

     - Curso de Problemas Fazendários, que foi frequentado por 8 sargentos, entre os quais estavam Severino da Costa Medeiros e Adelino Ferreira da Silva.

   - Ainda naquele ano, o Tenente Lindemberg da Costa Patrício concluiu o Curso Intensivo de Professor, na Faculdade de Filosofia, ficando habilitado para ensinar a Língua Portuguesa.

     Em 1965 teve início a construção do Hospital Edson Ramalho e para acompanhar esses trabalhos foi constituída uma comissão formada pelos seguintes Oficiais: Coronel João Gadelha de Oliveira, Capitão Joaquim Sinfrônio da Silva e o Major Médico José Asdrubal.

    Objetivando ampliar o Quadro de Saúde da Corporação foi sancionada uma Lei que autorizava que os policiais militares que tivesse formação na área de saúde fossem transferidos para esse Quadro.  No final daquele ano o 1º Tenente José de Souza Maciel, do CFO concluído em 1958, colou grau em medicina, e pouco depois foi transferido para o Quadro de Saúde.

     Em junho de 1965, um Sargento com problemas mentais, tentou assassinar o Coronel Manuel Noronha Cesar, Subcomandante da Corporação, fato ocorrido no Gabinete daquele Oficial. Dois  policiais militares que se encontravam nas proximidades impediram a consumação do ato, e por essa razão foram promovido por bravura.

     Alinhada à nova orientação do Exército, a PM começou a ministrar treinamentos antiguerilhas.  Dessa forma, em abril de 1965 foi realizada uma manobra na área rural do Conde, com aplicação de toda turma concluinte do CAS. Naquela oportunidade foi aplicada toda doutrina adotada pelo Exército sobre esse tema.

      Naquela época a legislação básica adotada na PM era de 1936 (Decreto 706\1936), portanto anterior à Constituição em vigor que era de 1946. Havia, portanto, a necessidade de sua atualização. Para esse fim foi constituída uma comissão para elaborar uma proposta de mudança dessas normas. Esse trabalho só foi concluído no Comando seguinte.

    No final de janeiro de 1966, Pedro Gondim passou o Governo para João Agripino, mas o Coronel Gadelha permaneceu no Comando da PM até o dia 2 de março quando ocorreu a passagem de Comando para o Coronel Ozanan de Lima Barros.

   Depois que voltou para a inatividade, o Coronel Gadelha ainda prestou serviço à administração pública ocupando importante função na Direção do IPEP, atual PBPrev.

    O Coronel João Gadelha de Oliveira era um autodidata como muitos Oficiais da sua época. Era um homem culto, bom orador, profissionalmente preparado, disciplinado e disciplinador, gentil, querido e admirado pela tropa, e que gozava de elevado prestígio social e político. Um traço marcante da sua personalidade era o fato de ser um homem destemido, o que deu provas em diversas oportunidades ao longo da sua carreira.

    É, portanto, como um pleito de gratidão e dever de justiça que, aqui externamos nossa homenagem a esse valoroso Oficial.

    Veja também A Galeria dos ex-comandantes da PM da Paraíba   Os Comandantes da PM da Paraíba durante o período ditatorial de Getúlio Vargas   Os Comandantes da PM da Paraíba de 1912 a 1931   Durante o Governo de Flávio Ribeiro (1956 a 1961) a PM da Paraíba teve  treze Comandantes   O Comando de Ivo Borges no Governo de José Américo

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