A insolência do maestro

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      A insolência do maestro da banda de música da PM da Paraíba no decorrer da década de 1980 era conhecida por todos os policiais militares que prestavam serviço na Capital do Estado. Foram muitas as situações em que aquele artista da batuta fazia uso dessa sua desvirtude.

       Eram atos quase sempre hilários, mas que na essência atentavam contra a disciplina. Como o jocoso transgressor era muito envolvente, esperto e costumava tentar levar as coisas na brincadeira além de ter facilidade de se aproximar dos seus superiores, muitas vezes acabava se safando.

     Além do mais, o astuto Oficial cumpria bem a missão de maestro, mostrando-se bastante conhecedor da teoria musical, ou pelo menos, se fazia passar como portador desse perfil.

       O fato que passamos a narrar bem caracteriza a usual insolência dessa figura, que acabou assumindo um papel meio folclórico no âmbito da Corporação.

      Essa história me foi contada pelo Coronel da Reserva Marconi Torres, que asseverou tê-la ouvido do próprio protagonista.

       Mas vamos aos fatos.

        Em uma manhã de sexta-feira, no mês de outubro de 1986, professores da rede de ensino estadual promoveram uma manifestação política em frente ao Palácio do Governo. Os ânimos estavam exaltados e havia ameaças de invasão do Palácio.

      Por prevenção, os portões do Palácio foram fechados e começou a mobilização de efetivos para se reforçar a guarda daquele edifício.

        Para esse fim, o Tenente Coronel Francisco Viera, Comandante do 1º Batalhão, escalou para esse serviço todo efetivo empregado no expediente do Quartel.

        Quando essa tropa estava em forma para receber as instruções, o Coronel Vieira notou que a Banda de Música estava ensaiando e para lá se dirigiu, determinando ao seu Maestro que todos aqueles policiais se equipassem para integrar o efetivo que seguiria para o Palácio da Redenção.

       O esperto Maestro tentou contra argumentar, alegando que músicos não são policiais. São artistas e não estavam afeitos a esse tipo de missão.

        Vieira foi irredutível.

       Com a macetosa demora dos artistas para se aprontar, o efetivo do Batalhão embarcou e seguiu para a operação.

        Vieira então determinou que o efetivo da banda seguisse a pé e se apresentasse ao Tenente Vicente que Comandava o reforço do Palácio.

       Formou-se uma coluna indiana, com cerca de 40 homens, com cinto de guarnição, cassetete e capacete branco. Muitos meios desengonçados. À frente seguia o majestoso maestro, com a sua proeminente barriga, andando vagarosamente e com os braços meio afastados do corpo, como lhe era bem característico.

        A coluna seguiu pela Cardoso Vieira e pegou a General Osório, chamando a atenção dos transeuntes.  Ao chegar ao cruzamento com a Rua Gabriel Malagrida, ao lado do Palácio, a tropa começou a subir a escadaria ali existente.

        A esquerda daquela artéria estava em funcionamento um conhecido cabaré, com as suas profissionais na calçada, atraídas pelo virtuoso desfile.

     Ao comando do Maestro, a tropa ali fez alto.

     - Sub, disse o maestro ao seu subordinado imediato, assuma o Comando e se apresente ao Tenente Vicente, que eu vou ficar aqui no cabaré tomando cerveja.

        A tropa seguiu e ao chegar ao Palácio foi dispensada, pois a manifestação já tinha acabado.

     Mesmo se tratando de uma grave transgressão disciplinar, que deve ter resultado na aplicação de uma punição em boletim reservado, o fato foi objeto de muitas gozações nas rodas de Oficiais. Mas o Maestro não se fazia de rogado, e argumentava, sempre com muito bom humor:

  - Chefia, batuta não é cassetete. Eu não sou polícia. Eu sou artista.

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