Notificação de infração de trânsito por um analfabeto

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     A notificação por infração de trânsito é um ato vinculado atribuído ao agente de trânsito. Para isso é indispensável que esse servidor tenha um nível de escolaridade compatível com a importância e complexidades do ato. Na CPTran de João Pessoa, na década de 1970, alguns policiais militares não estavam preparados para prática desse ato, o que gerava situações inusitadas. Aqui vamos narrar um caso que ilustra bem essa situação.

     Desde a época do Coronel Mário Barbeto, em 1912, que o Comando da PM da Paraíba buscava uma forma de reduzir o analfabetismo nessa corporação. Com essa finalidade foi criada uma escola no interior do Quartel e a presença dos policiais analfabetos era obrigatória. Os Comandos seguintes deram continuidade a essa medida, mas os resultados não foram os esperados.

   Só depois de 1937, no Comando do Coronel Delmiro Pereira de Andrade, quando a legislação passou a exigir a realização de Cursos de Formação de Soldados, Cabos, Sargentos e Oficiais, foi que se conseguiu um significativo avanço nessa área.

   Mesmo assim, por uma série de fatores, inclusive interferências políticas, de quando em quando um analfabeto era incluído na corporação e, às vezes, chegava até a obter promoções.

   Nesse contexto, até o final da década de 1970 ainda existiam alguns poucos policiais analfabetos prestando serviço na Companhia de Trânsito (CPTRan), em João Pessoa. Eram policiais disciplinados, dispostos e muito dedicados ao serviço. Quando no exercício de suas funções era necessário escrever, eles sempre contavam com a ajuda de um amigo.

   O policial conhecido por Goipada era um desses desenrolados. Para reduzir a necessidade de ele ter que preencher um formulário de notificação, o Sargenteante lhe escalava no semáforo manual localizado na esquina do DER. O trabalho era só observar o fluxo de trânsito e abrir o semáforo para um lado e fechar para outro.

     Biu Chiranha era um policial letrado, bem conceituado entre os seus colegas, que conhecia bem o Código de Trânsito e que sempre andava bem traquejado. Era a ele que muitos Soldados com poucas letras recorriam para lavrar notificações.

Certo dia, Goipada chegou à CPTran e disse a Biu:

   - Biu, eu quero que você faça uma murta.

- Não é murta Goipada, é multa, respondeu Biu.

- Isso mermo. Foi um Opala prata, praca 2468.

- Sim, e as letras?

- Sei lá. Bota qualquer uma aí.

- Pode ser assim não Goipada. Mas o que foi que ele fez? Perguntou Biu, já com talão e lápis na não.

     Goipada se impertigou e disse cheio de autoridade.

- Anote ai. O veicro avançou o siná e o individo tirou o coipo.

     Biu e outros Soldados que estavam por perto deram uma longa gargalhada. Mesmo assim, Biu fez de conta que tinha elaborado a notificação para prestigiar a autoridade do amigo.

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