Tenente  Brito: o Alfaiate e o Carnavalesco

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Tenente  Brito: o Alfaiate e o carnavalesco. Essas foram as principais atividades desenvolvidas por esse Oficial que por longos anos foi Alfaiate na Polícia Militar da Paraíba, e que, levado por seu espírito carnavalesco, criou, juntamente com sua esposa, Dona Verbenas e seus filhos, a Escola de Samba Catedráticos do Ritmo, no Bairro do Roger, em João Pessoa.

Aqui vamos expor, de forma sintética, alguns dados sobre esse Oficial, no intuito de resgatar e preservar valores históricos da PM/PB.

  1. Introdução

Preliminarmente lembramos que no período de 1935 a 1972 na Polícia Militar da Paraíba existiam Oficinas de Sapataria, Marcenaria, Serralharia, Pintura, Alfaiataria e outras relacionados às atividades de construção civil. Todas eram destinadas exclusivamente a executar serviços administrativos da Corporação. Para coordenar esses serviços existia um setor denominado de Estabelecimento de Fardamento e Equipamento, (EFE).

      As Alfaiatarias se destinavam a confeccionar o fardamento da própria corporação.  Todas as peças, inclusive as coberturas (Quepes e coros)  eram fabricados nessas oficinas. Os calçados eram feitos nas oficinas de sapatarias.  Por vezes, essas oficinas também produziam roupas e calçados para os policiais militares, com preços subsidiados.

Passemos a focar a nossa atenção no Tenente José de Brito da Silva.

  1. O Tenente Alfaiate

No início do século XX, o casal Francisco e Francisca Nascimento, eram agricultores no sítio Tananduba, no Município de Guarabira.  Conhecidos por Seu Chico e Dona Chica, ele tiveram seis filhos, entre eles José de Brito da Silva, que nasceu naquele sítio no dia 25 de março de 1921.  No começo da década de 1940 a família de Chico e Chica, se mudou para João Pessoa, onde passou e residir no Bairro do Roger e seus filhos começaram a buscar melhores condições de vida.

Em 1942, o Jovem José de Brito começo a estudar a arte do corte e costura no Instituto Padre José Coutinho, que funcionava no porão do prédio anexo à Igreja do Bispo, onde, além dessa especialidade eram ministrados cursos profissionais como, Sapataria, Barbearia, Marcenaria, Culinária, e vários outros.  Muito atencioso, José de Brito logo absorveu todos os conhecimentos ministrados, tornando-se um habilidoso Alfaiate.

Buscando transformar essas habilidades em renda, José de Brito, no início de 1943, foi tentar a sorte no Rio de Janeiro, onde trabalhou como Alfaiate durante dois anos. Em meados de 1946 ele voltou para a Paraíba, se casou com a Senhorita Verbena do Nascimento, uma Costureira, portanto do mesmo ramos profissional dele.  O casal  continuou residindo no Roger, na Rua Pedro Ulises, onde permaneceu até o início da década de 1970, quando se mudou para a Rua Juiz  Gama e Melo..

   No dia 17 de outubro de 1946, José de Brito ingressou na Polícia Militar como Soldado, no Quadro de Alfaiate.

Através de Concursos com avaliações práticas, José de Brito foi Cabo e Sargento, sempre prestando serviço na Alfaiataria de Polícia Militar, confeccionando uniformes para a Corporação. Mas ele queria mais.

No dia 4 de janeiro de 1952 José de Brito, já com três filhos, pediu baixa e retornou para o Rio de Janeiro, onde voltou a trabalhar como Alfaiate. Mas, a saudade da terra e da família lhe trouxeram de volta dois anos depois.

Reingressando na Polícia Militar dia 26 de abril de 1954, José de Brito retomou sua graduação de Sargento e voltou à Alfaiataria. Naquela época o Chefe da Alfaiataria era o Subtenente Pedrosa que faleceu e foi substituído pelo Sargento Matusalém. Essa situação permaneceu até quando José de Brito foi promovido ao Posto de 2º Tenente, no dia 28 de novembro de 1967.

Nesse Posto José de Brito assumiu a Chefia da Alfaiataria, recebendo essa função do Sargento Matusalém e ali permaneceu até que os serviços das Oficinas na Polícia Militar fossem extintos, no Governo de Ernâni Sátiro.   Como com o fim das Oficinas, o Posto de Tenente Alfaiate também foi extinto, José de Brito ficou aguardando completar o tempo de serviço ocupando funções em outros órgão da Corporação e no dia 21 de abril de 1978 passou para a Reserva Remunerada no posto de Primeiro Tenente. Convivi com Brito durante os seus três últimos anos no serviço ativo.

Mesmo depois de passar para a Reserva, José de Brito, por vários anos, continuou fazendo túnicas para os companheiros que lhe procuravam.

  1. Tenente Carnavalesco

Francisco de Brito da Silva, e Verbena Nascimento das Silva, tiveram três filhos:  Antônio do Nascimento (Aposentado pela Policial Civil), Arnaldo do Nascimento (Aposentado pela Caixa Econômica) e José Brito da Silva Filho (Aposentado pela Secretaria de Saúde do Estado). Desses filhos, José de Brito tem 7 netos.

Os três filhos de Brito  (Antonio, Arnaldo e José), jogavam futebol no Onze Futebol  Clube, o mais tradicional Clube do Roger.

Dona Verbena era uma mulher de baixa estatura, simpática, muito alegre, e que, acompanhada por José de Brito, frequentava os principais carnavais de clubes da Cidade de João Pessoa nas décadas de 1950 e 1960. Nessas ocasiões o casal exibia as fantasias que eles mesmos confeccionavam e que faziam sucesso.

Esse gosto por carnaval fez que com que esse festeiro casal criasse, em 1960, uma Charanga, para brincar durante o reinado de Momo, da qual participavam seus filhos, vizinhos e amigos do Roger. Os integrantes dessa Charanga também participavam da Escola de Samba Malandros do Moro, do bairro da Torre.

Incentivado pelos amigos o casal resolveu criar uma Escola de Samba, que recebeu o nome de Catedráticos do Ritmo, o que ocorreu em 1970. Aos poucos essa agremiação foi crescendo e chegou a desfilar com mais de 800 integrantes. Só a batucada tinha 150 batuqueiros.  Essa Escola existiu até 2012, e durante esses 42 anos de sua existência, ganhou o título de Campão do Carnaval 25 vezes, nos concursos promovidos pela Prefeitura Municipal.

Grande parte das fantasias usadas nesses desfiles, eram confeccionadas por Brito e Verbena.  A primeira fantasia da Escola era uma camisa quadriculada de preto e branco e uma calça preta.

José de Brito Filho, fazendo um esforço de memória, lembra de algumas pessoas importantes que participavam da Escola, tais como: os integrantes das famílias Coutinho e Quirino, moradores do Bairro; Tavinho Santos, tocando Surdo; Os Oficiais da PM Rui Edvan Medeiros e Marcos Assis, tocando tamborim: Paula Fracinete, Oliveiras de Panelas, Helena Holanda, Otacílio Batistas e Beto Brito, em participações especiais.

Anualmente era composto um Samba com letra alusiva ao tema do enredo escolhido pela Escola. Entre os autores desse Sambas, Brito Filho lembra do seguinte nomes: Ivanildo Serrano, Zé Brito, João Quirino Filho, Hermes Nascimento e Robson (Carioca).

A família Brito, pai, filhos e netos ainda moram na mesma casa, desde a década de 1970, na Rua Juiz Gama e Melo, no Roger, que foi sendo ampliada para acomodar a todos, e nela está guardado também todo acervo da escola, inclusive peças raras de enredos, e, em destaque, os troféus.

No dia 23 de dezembro de 2022, visitei o Tenente José de Brito da Silva, conhecido por Seu Duda, prestes a completar 102 anos, e com ele conversei um pouco sobre a sua vida na PM e seus afazeres carnavalescos. Mesmo sem se lembrar de muitas coisas, ele ria e fazia comentários lúcidos quando eu mencionava alguns fatos ou nomes. E assim, fui registrando dados, que depois foram complementados com uma conversa com um dos filhos dele e depois checando nos arquivos da PM, até montar esse resgate.  Para mim foi uma atividade muito gratificante.

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3 Comentários em "Tenente  Brito: o Alfaiate e o Carnavalesco"

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Marcos Antônio Firmino Dias
Visitante

Em 2022 eu (Major Marcos Firmino) juntamente com Cel Maquir Presidente da ASSINPMBM Cel Francisco Presidente do COPMBM e outros companheiros estivemos participando e comemorando o Aniversário do nosso amigo Ten Bristol em sua residência no bairro do Roger. É uma honra conhecer esse nobre representante dal PMPB.

Iordan Moura Brito (IORDZ)
Visitante

Mano, que registro maravilhoso!
Eu sou filho de Arnaldo, neto de Seu Duda, morador do Bairro do Roger e tô muito feliz de ver esse registro da história da minha família por aqui.

Vida longa!