O Sub Lima e um achado misterioso no Palácio da Redenção

Compartilhe!


          Um achado misterioso no Palácio da Redenção foi feito pelo Subtenente Lima , quando ainda na Graduação de Terceiro Sargento e se encontrando no exercício de Comandante da Guarda daquela repartição.  O fato ocorreu, durante o Governo Pedro Gondin e quando era realizada uma reforma nos portões daquele  prédio. Antes de narrar esse fato traçaremos um perfil do Subtenente Lima, uma figura muito querida na corproação.

          Sebastião de Souza Lima, mais conhecido por Sub Lima, é um homem alto, moreno, magro, de cabelos grisalhos e bem curtinhos, que usa óculos de grau e aparenta boa saúde, lucidez e regular destreza física para os seus oitenta e cinco anos de idade. Regularmente ele frequenta os corredores da Auditoria da Justiça Militar, de terno e gravata, no exercício de suas atividades como Advogado.   O Sub Lima, é um daqueles policiais militares que saiu do PM, mas a PM não saiu dele, ou seja, continua com o pensamento voltado para as coisas da corporação como se estivesse no serviço ativo, mesmo depois de trinta e cinco anos de inatividade. Em um papo descontraído, quando é instigado a falar sobre a polícia do seu tempo, ele revela fatos e nomes de pessoas com riqueza de detalhes, mesmo depois de tantos anos passados.

           Nos seus assentamentos funcionais constam detalhes de situações que expressam curiosidades da história recente da Polícia Militar. Nesse espaço vamos relatar algumas dessas situações, como forma de registro e resgate de fragmentos da memória dessa corporação.
      Natural de Monteiro, no cariri paraibano, filho de agricultores, Sebastião de Souza Lima nasceu no dia 19 de janeiro de 1929 e ingressou na Polícia Militar no dia 3 de julho de 1952, passando a frequentar a escola de recruta, que funcionava no prédio onde atualmente está instalado o 1º Batalhão.
      Lima morava no Quartel, mas gostava de passear de bonde. Os policiais fardados  não pagavam passagem nesse transporte.  Existiam lugares no bonde reservados para esse fim, sendo que na parte da frente ficavam os Soldados do Exército e na parte de trás ficavam os PMs.  O fardamento da Polícia Militar era confeccionado na alfaiataria da própria corporação e quando havia a incorporação de novos soldados começava o processo de aquisição de material para esse fim.  Por esse motivo os recrutas só recebiam o primeiro uniforme quase no final do curso.  Como sem farda Lima não tinha direito à gratuidade no bonde, ele resolveu comprar seu fardamento logo que começou o curso. No primeiro fim de semana após iniciado o curso, chegou uma convocação de Soldados para uma diligência no interior do Estado, e como Lima estava fardado foi o único da turma a ser escalado para esse serviço.
      Era um conflito entre proprietários de terra no Município de Prata, envolvendo inclusive um Deputado, no qual já tinha ocorrido um tiroteio entre as partes, embora sem vítimas. A diligência foi comandada pelo Sargento Sá, e depois de serenados os ânimos do conflito o efetivo teve que permanecer no local na manutenção da ordem durante mais de seis meses. Resultado: Lima nunca mais voltou às salas de aula na PM, mesmo tendo chegado à graduação de Subtenente.
    De volta dessa diligência Lima passou a prestar serviço como ordenança do Coronel Sebastião Calixto, função que exerceu por mais de quatorze anos e nela foi promovido a Cabo e a Terceiro Sargento, sem fazer cursos, mas com a natural interferência do seu Chefe. Como ordenança Lima ficava à disposição do Coronel Calixto para execução de atividades relacionadas ao serviço público ou para fazer serviços particulares do seu chefe, o que era muito comum naquela época.
    No começo da década de 1960, na Secretaria do Trabalho e Serviços Sociais do Estado existia um Departamento de Assistência e Proteção aos Menores, onde foi criado um grupo formado por adolescentes de 14 a 16 anos de idade que tinha a finalidade de reprimir ações de adolescentes infratores. Esse grupo que, era denominado de polícia mirim, tinha a sede na Avenida General Osório, dispunha de veículo para realizar ronda, usava uma farda igual à da PM, e os seus integrantes eram treinados por policiais militares. A Viatura utilizada nesse serviço era uma Rural preta, a que os meninos na rua chamavam de ‘”a viuvinha” e que era o terror da meninada nas suas brincadeiras de rua.
     Durante mais de três anos o então Sargento Lima treinou e comandou esse grupo, chegando inclusive a fazer um curso sobre esse serviço no Estado de São Paulo.  A principal atividade da polícia mirim era reprimir a prática de futebol nas ruas da cidade e efetuar a apreensão de adolescentes infratores e encaminhá-los para o Centro de Reeducação de Menores, na fazendo Pindobal, em Mamanguape, dirigido pela Professora Djanira Pinto. Todos esses serviços eram devidamente supervisionados pelo Doutor Emílio da Farias, Juiz de Menores da Capital.
    Quando nas ronda da policia mirim era encontrado um menor infrator de outra cidade ou outro Estado, o Juiz determinava que o Sargento Lima fizesse sua escolta à sua cidade de origem e o entregasse aos seus pais. Quando o infrator era primário e da capital, os seus pais eram chamados à presença do Juiz onde eram advertidos. Os reincidentes eram encaminhados à Pindobal.
     Nas graduações de Segundo e de Primeiro Sargento Lima exerceu, em diferentes momentos, as funções  Sargenteante e Almoxarife no âmbito do 1º Batalhão. Já na graduação de Subtenente ele prestou serviço, durante muitos anos, na Diretoria de Finanças da Corporação onde fazia a ligação entre a Secretaria das Finanças e a Polícia Militar e desta com o Tribunal de Contas do Estado. Mesmo depois de ter passado para a reserva ele continuou no exercício dessas funções, durante nove anos, embora sem remuneração. Graças às suas habilidades para fazer amizades, Lima se tornou muito conhecido no âmbito externo da corporação quando exercia essas funções e em consequência, nove anos depois de sua passagem para a reserva, ele foi nomeado como Assessor Administrativo da Polícia Militar, em 18 de maio de 1991, e continuou em atividade executando o mesmo trabalho ainda por vários anos.
     Católico fervoroso, Lima sempre esteve ligado às instituições religiosas, desde o seu tempo de Soldado. Há mais de 50 anos ele é Membro da Congregação Mariana Nossa Senhora das Neves e São Luiz de Gonzaga, que é ligada à Igreja Catedral, onde exerce as funções de Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão.  Ele também é irmão da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, na qual igualmente é Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão, o que lhe habilita perante a Igreja a levar a comunhão às pessoas enfermas em suas residências e a fazer recomendação de corpo.
     Depois de três casamentos, Lima é pai de sete filhos, um dos quais, de nome Valter Silva Lima, ingressou na PM e foi para a reserva no posto de Major do Quadro de Oficiais da Administração e está radicado na cidade de Monteiro e outro, Hilário de Souza Lima, é Professoro Universitário em Souza.
    Depois de vinte e oito anos de serviços prestados, Lima averbou férias e licenças não gozadas e passou para a reserva em 31 de dezembro de 1980, na graduação de Subtenente.
    Em 1982, ao atingir os cinquenta e três anos de idade ele concluiu o Curso de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, na Universidade Autônoma da Paraíba, integrando a turma pioneira desse curso naquela instituição de ensino. É esse o Advogado que, trinta e quatro anos depois, circula nos corredores da Auditoria de Justiças Militar exercendo as prerrogativas inerentes ao seu mister.
   Mas um fato curioso vivenciado por Lima ocorreu quando ele era Terceiro Sargento e prestava serviço na Guarda do Palácio da Redenção, ainda no Governo de Pedro Gondim. Originalmente o portão principal do Palácio era mais estreito e durante aquele Governo houve uma reforma para alargá-lo, dando-lhe a forma atual.
      Ao anoitecer de certo dia, quando só a Guarda e os pedreiros da obra estavam presentes ao Palácio, o Sargento Lima foi comunicado que um dos pedreiros tinha achado, dentro da parede, uma caixa de ferro cheia de papéis e outros objetos.  Na época tinha uma escala de um servidor civil que passava a noite no Palácio e por isso era chamado de noiteiro. Lima chamou esse servidor, que acabava de iniciar o seu plantão, e lhe informou sobre o achado do pedreiro.
     De imediato o noiteiro liberou os pedreiros e telefonou para o Coronel Sebastião Calixto, Chefe da Casa Militar e para o Major Pedro Belmont, que era Ajudante de Ordem, além de ligar também para dois Secretários Civis. Pouco depois essas autoridades chegaram ao local, pegaram a caixa, subiram para uma sala e fecharam a porta. Horas depois as autoridades deixaram o Palácio sem nada dizer à Guarda que ficou curiosa com o inusitado achado. Nunca se soube a origem, o conteúdo e o destino desse material.  O noiteiro e os integrantes da Guarda ficaram com medo até de comentar o caso, mas esperançoso de saber alguma coisa depois. Mas nada foi divulgado. Nada foi dito. Ficou o mistério.   Ainda hoje o Sub Lima ao falar sobre esse fato, o faz com reserva e se pergunta o porquê do silêncio daquelas autoridades e o que poderia conter aquela caixa.
   O mistério continua.
    Nota
    
              O Palácio da Redenção tinha o portão principal bem estreitos como se ver na foto abaixo
                                              Depois da reforma mencionada deste artigo o portão principal ficou assim

Compartilhe!


Deixe um comentário

Seja o Primeiro a Comentar!

Notificação de
avatar