A coragem e a sagacidade de Irineu Rangel

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     A coragem e a sagacidade de Irineu Rangel é o título de um artigo escrito pelo Dr. Severino Ramalho Leite, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, retratando um curioso episódio vivenciado pelo Major Irineu Rangel de Farias, ocorrido durante as lutas que a Polícia Militar da Paraíba travou contra grupos armados liderados pelo Deputado José Pereira, em 1930, na região de Princesa, alto sertão da Paraíba.  Irineu Rangel de Farias foi um dos mais valoroso Oficias da PM da Paraíba no decorre das década de 1910 e 1920, comandando patrulhas volantes no combate aos grupos de cangaceiros. Sua coragem pessoal e sua destreza física demonstradas nessas atividades tornaram-lhe admirado por todos que com ele conviveram.

Em uma dessas lutas ele foi ferido gravemente e em consequência foi reformado em 1924, no Posto de 1º Tenente. Em janeiro de 1925, já recuperado, Irineu Rangel foi convocado ao serviço ativo, promovido ao Posto de Capitão e designado para organizar o 2ª Batalhão, criando naquele ano e que foi instalado em Patos. Cumprida essa missão, Irineu voltou a inatividade, em 1927. Esse fato é registrado em uma matéria que publicanos nesse site. 

 Quando começaram os confrontos da Polícia Militar com os grupos de Zé Pereira, em 1930, Irineu Rangel foi, outra vez, convocado ao serviço ativo, e designado para Comandar o Batalhão empregado nessas lutas.  Cessadas essas lutas, o velho herói voltou à inatividade. ainda como Capitão.Irineu Rangel era natural de Taperoá, onde nasceu no dia 6 de agosto de 1883 e ingressou na Polícia Militar no dia 23 de julho de 1904. Foi Soldado, Anspençada, Cabo, Sargento, Alferes, 1º Tenente e Capitão. Depois de 35 anos na inatividade como Capitão, em 24 de outubro de 1965, no Governo de João Agripino, essa grave injustiça foi corrigida, e o bravo Irineu Rangel de Farias foi promovido ao Posto de Major.Em reconhecimento à relevante folha de serviços prestados à Polícia Militar das Paraíba, o Major Irineu Rangel de Farias foi uma dos escolhidos como patrono da Academia de Letras dos Militares Estaduais da Paraíba, recentemente fundada. No dia 24 de agosto de 1974 o nosso velho herói faleceu. Para registrar a passagem dessa data, publicamos o artigo do Dr. Ramalho Leite, o que se faz a seguir.

                    A coragem e a sagacidade de Irineu                                                                     Ramalho Leite

 

Estamos a rememorar os acontecimentos que em 1930 convulsionaram a Parahyba e serviram de estopim para deflagrar a chamada Revolução.

A preliminar foi a luta armada pelo coronel José Pereira em Princesa e depois, a morte de João Pessoa, sem dúvida, uma consequência dessa batalha. Logo no início da rebelião, o presidente João Pessoa criou por decreto um Batalhão Provisório subordinado à Força Pública, que deveria ser integrada por 800 homens, todos voluntários.

Os considerandos do decreto já demonstravam o espirito beligerante daqueles dias: “ …que a 24 de fevereiro do corrente ano, José Pereira Lima promoveu um movimento sedicioso em Princesa, armando grupos de cangaceiros contra a ordem constituída; …que, solidário com esse movimento, o bacharel José Duarte Dantas à frente da gente armada recebeu à bala a força sob o comando do tenente Ascendino Feitosa, que ia destacar em Teixeira…que, José Pereira Lima mandou os seus capangas atacarem a vila de Teixeira”…. e por aí vai, nesse diapasão.

Para comandar esse batalhão provisório foi nomeado o capitão Irineu Rangel, para João Lelis, “uma das autênticas bravuras dos nossos sertões e espírito de invejável capacidade de sacrifício… generoso e tolerante, e possuindo, além disso, um bom conjunto de virtudes como soldado, remoe por tempo longo uma decisão.

Mas tomada esta, nada o detém no executá-la. Nem o diabo pode mais…tem porém, a teimosia do sertanejo rude. E nisso ninguém lhe passa a perna”. Depois de descrever as excepcionais qualidades desse soldado paraibano que honrou nossa briosa corporação, João Lelis descreve um episódio que me animou registrá-lo para meus poucos leitores.Há 18 dias a cidade de Tavares, dominada pelos rebeldes, estava cercada pelas tropas legais. O capitão Irineu Rangel partiu de Piancó e nas cercanias da cidade investe contra os sitiantes e algumas horas depois o comandante do Batalhão Provisório estava dentro de Tavares. Cumprida sua missão, o tenente Rangel descansa por uma noite e se prepara para, na tarde seguinte, voltar ao Piancó.

Manda selar uma burra, chama o corneteiro e seu ordenança para juntos fazerem a caminhada pelo mesmo trajeto da vinda. O capitão Costa, comandante das tropas temeu pela vida do seu companheiro. Era uma loucura, enfrentar a caatinga, à noite, com as estradas infestadas de cangaceiros.

Chamou-o de maluco. Voltar a Piancó com apenas um ordenança e um corneteiro….Outros oficiais interferiram para evitar um mal maior. Temiam uma emboscada que tirasse a vida daquele seu estimado companheiro. Nada o demoveu. Precisava chegar a Piancó. Ofereceram-lhe mais homens e ele recusou. Desistindo do intento de dissuadi-lo daquela empreitada perigosa, um de seus pares concluiu, segundo relata João Lelis:-Aquele, se não morrer, vai servir de ordenança a Zé Pereir. O previsto aconteceu. Aproveitando a escuridão da noite sertaneja, os rebeldes atacaram o pequeno comboio de Irineu Rangel. À frente o corneteiro, Irineu no meio e o ordenança logo atrás.

Os rebeldes, protegidos por pedras que serviam de trincheira e os soldados no descampado da estrada. A fuzilaria era intensa e não havia condições de Irineu Rangel defender-se no mesmo patamar. Partiu para a astúcia. Em voz alta o suficiente para ser ouvido pelos atacantes, gritou:-Tenente China, ataque pelo franco esquerdo! Tenente Benício, ataque com seu pessoal pelo flanco direito. Corneteiro, toque avançar!Os rebeldes, que estavam em maior número, imaginaram que volumosa tropa os cercariam. Partiram em debandada e não chegaram a ouvir a gargalhada de Irineu Rangel. (Consultei João Lelis em “A Campanha de Princesa”. Mantive a grafia da época)

  Vejam também Comandantes do 2º Batalhão: Irineu Rangel de Farias   A Campanha de Princesa: O nego, a morte de João Pessoa, o nome da cidade e a bandeira.   A PM da Paraíba no combate ao bandidismo

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