Cerca de cem policiais da Paraíba morreram em uma emboscada

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       Cerca de cem Soldados da PM da Paraíba morreram em uma emboscada montada por cangaceiros liderados pelo Deputado José Pereira, fato ocorrido no dia 1 de junho de 1930 na cidade Água Branco, no alto sertão paraibano. Na época se fazia uma estimativa de teriam sido duzentos policiais. Em decorrência da situação de emergência vivenciada pela  Corporação,  os registros formais dos mortos foi feito de uma forma precária.

       Esse grupo de policiais tinha saído da cidade de Paraíba, denominação da capital do Estado naquela época, no dia 31 de maio, transportado em doze caminhões, e sob o Comando de dois Oficiais comissionados, prática comum naquele tempo. Para uma melhor compreensão desse grave e relevante fato, que ficou conhecido como o desastre da Água Branca, é necessário situá-lo no seu contexto. É o que faremos a seguir.

    Todo esse pessoal tinha sido incorporado há menos de oito dias e integrava o efetivo do Batalhão Provisório, uma Unidade que foi criada poucos dias antes. A finalidade exclusiva desse Batalhão era participar das lutas da polícia com os grupos de cangaceiros liderados por José Pereira, Deputado Estadual e líder político na região de Princesa Isabel.

    João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque era o Presidente do Estado (Denominação dos Governadores) e José Pereira, que era seu aliado político. Poucos dias antes das eleições daquele ano, ocorridas no dia 31 de março, José Pereira rompeu politicamente com o governo do Estado e se aliou ao Presidente da Republica, Washington Luís, que era adversário político de João Pessoa. Com apoio do Governo Federal, que forneceu armas e dinheiro, José Pereira reuniu um grande número de cangaceiros (cerca de mil homens, segundo relatório do Juiz que, no ano seguinte, apurou esses fatos) e tentou provocar um clima de desordem no Estado que justificasse uma intervenção Federal e a conseguinte deposição de João Pessoa.

     A luta da polícia contra as ações desses grupos de cangaceiros durou cerca de quatro meses e houve muitas mortes de ambos os lados. Como o efetivo da Força Pública era insuficiente para enfrentar essa situação e manter a ordem pública no Estado, foi criado o Batalhão Provisório, que passou a alistar voluntários.

     O plano da Força Pública para impedir as ações desses grupos de cangaceiros foi cercar a cidade de Princesa por três pontos situados no leste, norte e oeste. Não era possível o bloqueio daquela cidade pelo lado sul, porque era território de Pernambuco, cujo Governo era adversário político de João Pessoa. Assim, foram locadas tropas nos Distritos de Tavares, (no leste), Manaíra (no oeste) e Santana de Mangueira (no norte).

    Cada um dos efetivos deslocado para esses locais era denominado de Coluna. A primeira tropa formada e disposta no terreno foi a Coluna Leste, Comandada pelo Capitão João Costa, e era composta por cerca de quatrocentos homens, a maioria do efetivo permanente e outra parte do Batalhão Provisório, que estava em formação. O Comando Geral da Corporação se instalou em Piancó e de lá coordenava as lutas e a formação do efetivo necessário.

    Como demorava muito a formação das outras Colunas, o Capitão João Costa sugeriu ao Comando Geral que lhe remetesse um reforço de duzentos homens para que sua Coluna efetuasse a invasão de Princesa, sem precisar das outras tropas.

    Foi então organizado na Capital do Estado um efetivo, alistado às pressas e, portanto, sem uma formação adequada, e sob o Comando de dois civis, Comissionados no posto de Segundo Tenente, sem a devida preparação técnica para àquelas funções. Essa tropa saiu da Capital na manhã do dia 31 de de maio em doze caminhões particulares contratados pelo Governo, e seguiu o percurso, cheia de entusiasmo, mas sem adotar as devidas cautelas. Ao anoitecer a tropa, seguindo por Taperoá, chegou a Água Branca aonde uma parte se instalou em uma pousada ali existente e o restante acantonou nas calçadas da Igreja. Tudo isso sem os cuidados próprios para uma situação dessa natureza. Na manhã do dia 1 de junho a tropa entrou em forma, quando o toque de corneta chamou muito a atenção dos moradores da cidade.

      Aproximadamente às nove horas a tropa embarcou e seguiu em marcha, aa direção de Tavares, onde se encontrava a Coluna de João Costa.   Na época, aproximadamente a dois quilômetros da cidade, a estrada carroçável, com cerca de três metros de largura, passava por uma espécie de corredor, dentro de um matagal fechado e com cercas de pedras sobrepostas nos dois lados. Até meados dos anos noventa ainda existia essa muro de pedras. Um grande grupo de cangaceiros estava à espreita. Quando o último caminhão entrou no corredor, os cangaceiros contaram árvores na frente e na retaguarda da tropa, bloqueando o caminho para frente e para trás. Cangaceiros posicionados nos dois lados dos muros de pedras começaram a disparar contra a inexperiente e frágil tropa, e atear fogo nos caminhões. Feito isso, os cangaceiros retornaram a Princesa, contornando Tavares, que estava ocupada pela tropa do Capitão João Costa. Muito poucos policiais escaparam e dias depois se apresentaram ao Capitão João Costa.

       Não havia meios para translado dos corpos. Moradores da cidade cavaram valas nas proximidades da Igreja aonde dezenas de cadáveres foram sepultadas em cada uma delas. No local da emboscada ficaram marcas das cinzas dos caminhões e da gordura dos corpos queimados. Pouco depois moradores das redondezas construíram uma pequena capela e passaram a ascender velas e fazer orações. O local ficou conhecido como a Cruz do caminhão Queimado. Com o passar dos tempos, grupos de moradores passaram a colocar ex-votos e velas na capela e fazer romaria onda faziam orações, o que ocorria com frequência no dia de finados. Até o final da década de 1990 essas ações eram muito intensas. A partir de então essas romarias começaram a contar com uma quantidade menor de pessoas, mas os Padres da Paróquia local sempre as incentivaram.

         Os avanços dos investimentos imobiliários demoliram o muro de pedra que formavam o corredor do local da emboscada e a capela está quase total mente destruída. Mas o povo da cidade ainda valoriza muito “A Cruz dos Caminhões Queimados”, como um local para expressão de fé.

      Mesmo com o abalo moral que esses fatos causaram no efetivo que lutava contra os cangaceiros de José Pereira, as Colunas previstas no plano foram formadas e ocuparam os pontos previstos, mesmo com muitos combates e baixa de lado a lado. A cidade de Princesa foi cercada e a tropa ficou no aguardo de ordem do Presidente João Pessoa para iniciar o ataque final. Mas o Presidente tentava convencer os rebelados a se entregarem para evitar uma luta que, por certo, ceifaria muitas vidas. Nesse ínterim João Pessoa foi assassinado em Recife e poucos dias depois uma Companhia do Exército entrou na cidade de Princesa e José Pereira e seus seguidores fugiram pelo lado de Pernambuco.

         Em 1931, durante as homenagens que o Governo do Estado prestou ao Presidente João Pessoa, por ocasião da passagem do primeiro ano da sua morte, foi construído, no Cemitério Boa Sentença, no centro da capital paraibana, um monumento em homenagem aos Soldados que morreram durante as lutas aqui mencionadas.

  Esse monumento, localizado por trás da Igrejinha ali existente, é formado por uma base de alvenaria sextavada, com nove metros de perímetro e um metro de altura, e outra a ela sobreposta com o mesmo formato e altura, mas com seis metros de perímetro, sobre o qual está fixada uma cruz, também em alvenaria, com quatro metros de altura.  Dessa forma, é uma construção de seis metros de altura, o que lhe torna destacada entre os demais túmulos das suas proximidades. Sendo bem cuidada é uma construção imponente, e a altura da sua destinação.

      Esse local, que deveria ser preservado pelo poder público, em particular pela Polícia Militar e onde deveriam ser realizadas cerimônias destinadas a preservar a honra desses mártires, está totalmente abandonado, o que constitui uma agressão aos valores históricos da corporação e do Estado.

       O dia 1 de junho, aniversário do desastre de Água Branca, e 27 de julho, aniversário da inauguração do monumento, são importantes datas simbólicas que podem marcar a retomada da importância desse valioso patrimônio histórico.

Veja também   O desastre de Água Branca

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