A crise Marden

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                 A crise Marden foi uma série de acontecimentos que antecederam a exoneração do Coronel do Exército Marden Alves, da Costa do Comando da Polícia Militara da Paraíba, em  dezembro de 1988.

           Na véspera da eleição daquele ano o Coronel Marden pediu exoneração por razões políticas, mas como  o ato de exoneração não foi publicado de imediato, dias depois ele voltou e informalmente reassumiu o Comando. Como as relações dele com os Coronéis eram conflituosas, houve reações e retaliações que criaram um ambiente de crise.

          Durante os meses de novembro e dezembro de 1988 a Polícia Militar da Paraíba viveu momentos de muita tensão resultantes de uma série de fatos que acabaram provocando uma situação de confronto iminente, com possibilidades de agressão física, de um grupo de Coronéis com o Comandante Geral, o Coronel do Exercito Marden Alves da Costa.

          No posto de Capitão e ocupando as funções de Comandante do Pelotão de Choque, (instalado no Quartel de Cabedelo) subordinado diretamente ao Comandante Geral, e pessoa de sua irrestrita confiança, participei de alguns desses fatos e acompanhei outros, registrando em um diário pessoal. Revendo essas anotações resolvi faze-las públicas como registros de um momento histórico, para que possam ensejar reflexões e ensinamentos.

          Para se entender melhor o andamento desses fatos é necessário se conhecer outros dados a eles relacionados.  O Coronel Marden assumiu o Comando no dia 16 de março de 1987. Era o início do Governo Buriti. No final do Governo anterior, de Wilson Braga, (1983-1986) houve muitas denúncias do envolvimento de policiais em práticas criminosas.

          Esses fatos foram muito explorados durante a campanha eleitoral. Debelar o foco de maus policiais passou a ser uma meta do novo governo. Ao assumir o Governo, o Dr. Tarcísio Buriti resolveu trazer um Oficial do Exercito para Comandar a Polícia. O escolhido foi o Coronel Marden, ligado à comunidade de informações, com prestígio no planalto, e tido como da linha dura do Exercito.

       Comentava-se que ao assumir o Comando o Coronel Marden tinha um dossiê com todas as informações sobre os Oficiais da PM.  Em diversas oportunidades ele tornou público que não confiava nos Coronéis e montou seu comando na base da confiança em alguns Capitães e Tenentes, e mantendo bom relacionamento com os Comandantes de Unidades.

        Os Coronéis quase não faziam parte do Comando. Era uma situação vexatória e constrangedora. Isso gerou insatisfações veladas e contestações expressas por parte dos Coronéis.  Decorridos alguns meses do comando, três Coronéis foram punidos com prisão domiciliar. Esses fatos, aliados à forma como o Coronel Marden tratava os Coronéis e outros Oficiais nas relações pessoais acabaram criando um clima tenso durante seu comando.

O incidente eleitoral

           No dia 14 de novembro de 1988, véspera das eleições Municipais, aproximadamente às 16 horas, cheguei ao Gabinete do Comandante Geral para informá-lo que o PEC (Pelotão Especial de Choque), estava pronto para o trabalho do dia do pleito eleitoral, e fui informado pelo Capitão Gilberto, Assistente do Comandante Geral, que o Comandante estava passando o Comando.

            Fiquei surpreso, pois uma passagem de Comando na véspera da eleição era uma coisa muito grave. Fui convidado por Gilberto para entrar no Gabinete. Dirigi-me ao Comandante e cumprimentei-o. Ele me pareceu pesaroso e me falava em tom de despedida, inclusive pedindo desculpas se foi muito exigente em alguns momentos.

     Estavam na sala o Tenente Coronel Genival Luiz, Major Rocha, Tenente Américo, Capitão Gilberto e o Coronel Marcelino.

      O Coronel Marcelino, Sub Comandante Geral, comentou “política é assim mesmo” e deixou a entender que deveria qualquer um que assumisse também não aceitar interferências políticas.

        Eu tinha pressa e me apresentei ao Coronel Marcelino informando que o PEC estava pronto para o serviço no dia seguinte e que iria deixar todos os dados com o Capitão Gilberto.     Retirei-me.

      Conversando depois com Gilberto fui informado do seguinte: Em Guarabira, na noite anterior, um partido político tinha ultrapassado o horário permito pela lei eleitoral para fazer comício e o juiz tinha determinado à PM fazer parar tal ato.  (Era a campanha para Prefeito)

A ordem foi dada por escrito e um Oficial foi ao local comunicar aos responsáveis pelo Comício, sendo prontamente atendido, sem maiores acidentes. Um líder político de Guarabira tomou conhecimento do fato de forma distorcida e telefonou para o Governador se queixando da ação da PM. O Governador ligou para o Comandante que se prontificou em apurar os fatos.
 
       Ao se informar como o fato se deu, o Comandante ligou para o Governador dizendo que a PM agiu certo e nada havia para se punir. O Governador teria dito ao Comandante que sabia que o Major Sinval, o Comandante de Guarabira, tinha servido ao Governo de Wilson Braga e que depois da eleição o tiraria de lá, tendo o Coronel Marden respondido “pois o Senhor tira ele depois e me tira logo agora.”
 
      Finalizando me disse Gilberto que o Comandante tinha feito uma carta ao Governador  pedindo demissão e que  esta seria levada pelo Coronel Marcelino.

Demorei um pouco com Gilberto e ao sair do Gabinete do Comando, o Coronel Marcelino ia saindo do Sub Comando. Estava com uma pasta nas mãos e mostrando-se meio desolado, com o uniforme de instrução, com cinto de guarnição sem revolver, como era seu estilo. Subi ao COPOM meio apreensivo. Na porta do COPOM encontrei os Capitães Aluísio, Marcelino e Marinaldo.

        Depois de rápida conversa percebi que eles nada sabiam sobre esses fatos. Fechei a porta e contei a eles tudo que sabia. Fizemos alguns comentários a respeito desses acontecimentos. Deixei com o Coronel Marcelino a forma como o PEC estava programado para trabalhar no dia seguinte e me retirei.  (O PEC estava dividido em 3 grupos de trinta homens cada, motorizado e estacionados em pontos estratégicos da cidade em condições de atuar em qualquer local). 

       Na saída encontrei com os Tenentes Gledson e Washington, que trabalhavam comigo no PEC e em caráter reservado lhe contei o que se passava. Combinamos nos reunir no PEC. No corredor encontrei ainda o Tenente Coronel Lindomar, e os Capitães Ardenildo e Gonçalves. Trocamos algumas ideias sobre o desenrolar dos fatos. Na decida da escadaria encontrei o Tenente Coronel Nivaldo que estava atendendo a um reporte. Ainda na rua vi o Coronel Marcelino embarcando em uma Caravam da PM e partindo na direção do Palácio.

       Cheguei ao PEC aproximadamente às dezoito e trinta. Reuni os Oficiais e dei as notícias. O Tenente Wolgrand que até então não sabia da história, teve uma grande surpresa. Combinamos ficar atentos para a qualquer momento ser convocado para uma reunião.

    Às dezenove horas liguei para Gilberto procurando notícias. Ele me informou que o Comandante tinha reunido alguns Oficiais e se despedido. Telefonei para o Major Germires que me informou que os Oficiais estavam no Quartel aguardando convocação, inclusive os do CFAP. Ficamos aguardando no PEC. Quando íamos saindo do Quartel o noticiário da TV anunciou a saída do Comandante.

          À noite, resolvi fazer uma visita ao Comandante para levar a minha solidariedade, pois ele tinha sido muito atencioso comigo. Tive dificuldade para localizar a casa, pois nunca tinha ido lá. Estava acompanhado da minha mulher. Cheguei por volta das oito e meia.

      O Cabo Campina, que fazia a Guarda da casa me informou que ali já se encontravam o Tenente Coronel Afonso, Comandante do Corpo de Bombeiros e o Major Germires, Comandante do 1º BPM. O Coronel Marden nos recebeu no portão. Conversamos na sala e eu falando em nome do grupo disse que reconhecia o trabalho que o Comandante fez e a confiança que nos creditou o que nos deixou muito gratos.

       O Coronel Marden mostrou-se muito sensibilizado, agradeceu nossa participação e lamentou não poder ver funcionado o Canil que estava em construção. Enquanto conversávamos chegaram alguns amigos do Coronel para emprestar solidariedade, entre eles o Dr. Arquimedes Souto Maior, Desembargador aposentado. Pouco depois saímos.

       Evitei as companhias de Afonso e Germires que insistiam em ir conosco para um Bar na Praia.

        No dia seguinte, antes da tropa sair para o serviço, fiz um comentário a respeito de situação alegando que quem quer que fosse o Comandante Geral deveríamos estar prontos para cumprir nossa missão. O Pleito transcorreu sem anormalidades.  Na correria do serviço não tivemos tempo de tratar do assunto.

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2 Comentários em "A crise Marden"

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Fernando Dutra B da Silva
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Prezado Coronel Batista. Sou irmao do Coronel Dutra e de a muito acompanho seu trabalho como historiador da PM PB. Se possivel eu gostaria de lhe solicitar um exemplar de seu livro sobre a historia de nossa briosa PM. Sou professor de historia e pesquiso a policia no Brasil. Meu endereço e: Rua Maria Santiago. 276 Bairro Popular Santa Rita PB CEP 58301-060. Obrigado pela atençao.