A crise Marden

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A crise da sucessão

               No dia 16, aproximadamente às quatorze horas, fui informado pelo Capitão Gilberto que no dia seguinte seria publicado no D.O. a nomeação do Coronel Marcelino como Comandante Geral. Tomei conhecimento também que circulavam noticiais de que havia um movimento por parte dos Coronéis para revogar a lei que reduzia os interstícios para a promoção de coronel.

               A alegação seria de que com a promoção do Tenente Coronel Lira, este poderia vir a ser o Comandante.  O clima era de expectativa. Correu a notícias de que um grupo de mulheres esposas de Oficiais teriam ido visitar o Governador pedindo a permanência do Coronel Marden (diziam que eram Dona Sherlei, esposa do Coronel Marden, a esposa do Coronel Fontoura, do Grupamento de Engenharia, a mulher do Major Macedônio, a mulher do Tenente Coronel Lira, e D. Penha, a mulher do Coronel Serpa)

          No dia 17 não foi publicado o ato de nomeação do Coronel Marcelino. A exoneração de Marden também não havia sido publicada até então. Foi um dia de indefinições.

             Às vinte e uma horas Gilberto me ligou informando que o Coronel Marden foi convidado pelo Governador para continuar no Comando mas que estava indeciso, sem saber qual seria a reação dos Oficiais. Gilberto pediu e eu liguei para o Coronel Marden, dizendo que sua volta poderia causar problemas, mas se essa era a decisão do Governador, tínhamos que respeitar.

        Liguei para o Capitão Gonçalves e para o Tenente Coronel Nivaldo comunicando esse fato. Tentei falar com outros Oficias, mas não consegui.

O retorno

          No dia 18, uma sexta-feira, pelas nove horas, recebi um telefonema do Sub Tenente Tibúrcio pedindo para ser transferido para o PEC. Informei que ele aguardasse, pois, a situação estava indefinida enquanto não se decidisse quem seria o Comandante Geral. Ele informou que o Coronel Marden tinha comparecido ao expediente e assumido o Comando. “Tinha subido a rampa” como disse Tibúrcio. Ás quatorze hora recebi um telefonema do Coronel Marden informando que iria visitar o PEC.

                 Comuniquei aos Oficiais e ficamos aguardando.  Ele chegou às dezesseis horas, visitou a construção do Canil, deu uma volta em torno do Quartel e saiu. Não entendemos o motivo da visita. Deduzimos que era apenas para nos fazer ver que ele era o Comandante.

             Na segunda-feira seguinte, dia 21 de novembro, despachei normalmente com o Comandante. Ele determinou que eu preparasse uma Guarnição para acompanhá-lo em uma viagem ao sertão. Nessa ocasião fui informado de que estava para acontecer uma greve de estudantes com possibilidade de haver quebra-quebra, em razão do anúncio de aumento do preço de passagem de ônibus urbanos.  Tive que correr para o PEC e preparar a tropa para essa missão.

            Na manhã do dia seguinte, terça-feira, 22 de novembro, despachei com o Comandante combinando as providências para a greve dos estudantes que estava em andamento. 

       O Capitão Gilberto me informou que um grupo formado pelos Coronéis Rufino, Deuslírio, Hélio, e Costa havia falado com o Governador e tinham dito que com o Coronel Marden não trabalharia e que exigiam a sua demissão.  Ainda, segundo Gilberto, o Comandante teria ido ao aeroporto despachar com o Governador, que estava saindo para Brasília.

      Subi ao CPC para verificar o clima. Conversei com o Tenente Coronel Nivaldo. Senti que ele estava preocupado. Disse-me ele que naquela manhã teve uma discussão com o Coronel Rufino, pois foi acusado de viver visitando Marden. O Tenente Coronel Genival Luiz testemunhou esta conversa.

            O momento era de muita tensão. Pouco depois recebi determinação do Comandante Geral para manter uma Guarnição nas proximidades de sua residência. Foi marcada uma formatura geral para o dia seguinte, no pátio do 1 º BPM, com a participação de representações de todas as Unidades, inclusive do interior. 

       Quando eu ia sair do Quartel, percebi que o Comandante tinha acabado de chegar. Resolvi aguardar notícias sobre a audiência com o Governador. Foi realizada uma reunião com alguns Oficias e pouco depois o Tenente Coronel Nivaldo me informou que o Comandante tinha anunciado que ele permaneceria no Comando.

         Na quarta-feira, dia 23, cheguei ao QCG às sete e meia e encontrei no pátio com o Coronel Hélio, Capitão Alencar (a paisana), Tenente Pita e mais alguns outros Oficiais. O Coronel Hélio estava exaltado alegando que o Comandante queria colocá-lo em disponibilidade, mas que essa medida não tinha respaldo legal.

        Alencar disse que estava com os Coronéis e não abria e insinuou que eu deveria ter a mesma posição. Como não via a questão dessa forma, ou seja, ou se ficava com o Comandante ou com os Coronéis, desconversei. Vi um jornal “O Norte” no carro de Alencar e pedi para ler.

         Na coluna “Enfoque” estavam registrados os fatos do dia anterior envolvendo a visita dos Coronéis ao Governador e seus propósitos.

        Subi ao CPC para aguardar a hora da formatura. Começava a chegar Oficiais do interior. Conversei com alguns deles e percebi que eles ignoravam o que estava se passando. O Capitão Pereira me contou que, no dia anterior, estava no Gabinete do Coronel Deuslírio e o Capitão Gilberto foi avisar que o Coronel Marden estava chegando e queria falar com ele, Deuslírio.

       Segundo Pereira, o Coronel Deuslírio disse que não iria. Gilberto disse que era uma ordem, mas Deuslírio respondeu que não iria de jeito nenhum. A coisa estava se complicando cada vez mais.  Ao sair do CPC para o 1º BPM, percebi que havia uma movimentação na Diretoria de Finanças, (Dirigida pelo Coronel Rufino) algo parecido com uma reunião de Oficiais.

        Como não fui convocado, não me aproximei do local.  Dirigi-me à DAL para despachar com o Coronel Deuslírio um recibo de água do PEC. Conversei um pouco com ele. Notei que ele estava muito nervoso.        Sai então para o 1º BPM. Lá chegando, às nove e quarenta, toda tropa já estava posicionada e era muito grande o número de Oficiais presentes. A tropa, com Tenentes à frente dos pelotões, era Comandada pelo Capitão Vicente.

        O único Oficial Superior presente era o Tenente Coronel Afonso. Depois chegaram os Tenentes Coronéis Genilson e Medeiros. O Major Germires foi o último a chegar.  O Major Sinval chegou no Opala Preto do Comandante Geral, acompanhando o Coronel Marden, desembarcando no pátio. Era dez e quarenta e a tropa estava cansada, pois estava em forma desde às oito.

           Vicente apresentou a tropa ao Comandante e anunciou que cada Comandante de Batalhão iria falar pela ordem dos Batalhões.

      Falaram Germires, Lira, Medeiros, Sinval, Genilson, (Comandantes, respectivamente do 1º, 2º, 3º, 4º e 5º BPM). Todos falaram, em média, 5 minutos cada, agradecendo o empenho da tropa durante o pleito eleitoral. 

     O Coronel Marden esperou uns cinco minutos que lhe trouxessem uma pasta com documentos e falou durante uns vinte minutos repetindo o que disseram os Comandantes de Batalhões e informado que tinha encaminhado um projeto de lei beneficiando praças que fosse para a reserva por invalidez. Terminadas as palavras do Comandante, foi cantado o hino nacional, a tropa foi dispensada e os Oficiais foram convocados para uma reunião no auditório do 1º BPM.

              A reunião começou às onze e meia. O Comandante fez ver aos Oficiais que qualquer instituição só se sobressai com disciplina e hierarquia e que na PM esses fatores eram essenciais.  Pediu que os novos Oficiais tivessem cuidado com a disciplina. Agradeceu a todos e despediu-se.

       Quando os Oficiais estavam saindo do Auditório, o Comandante me chamou em particular e me comunicou que iria almoçar no PEC.

        Corri para lá para preparar. Antes de o Comandante chegar ao PEC, chegaram Afonso e Lira. Em seguida chegou o Comandante acompanhado de um colega de turma do Exército, o Coronel da Reserva de nome Lucas e que foi apresentado aos presentes. Em seguida chegaram o Capitão Gilberto, o Filho do Comandante e o Jornalista Maviael de Oliveira.

      O Comandante procurou o telefone para ligar para Brasília informando para a pessoa que atendeu que se o Governador chegasse ligasse para o número que ele forneceu, o do PEC.

         Em seguida, todo o grupo deslocou-se para a construção do Canil, que estava em fase final.  Minutos depois, deslocamo-nos ao refeitório, onde almoçamos. Depois do almoço, o Comandante voltou a ligar para Brasília informando que estava saindo do PEC e forneceu outro número para contato.

       Em seguida o Comandante despediu-se e saiu. Insisti para que os Oficiais permanecessem no local, mas todos pareciam ter pressa. O Tenente Coronel Lira disse que precisava está com o Comandante quando ele recebesse o telefonema do Governador. Não soube se esse telefonema chegou nem qual foi o resultado, mas o fato é que o Coronel Marden permaneceu no Comando. 

      Continuamos, durante os oito dias seguintes, ouvindo muitas conversas sobre possível resistência dos Coronéis, mas nada de ostensivo.  Nada se    confirmava.

        O conflito do Comandante com o Secretário de Segurança

          Na tarde do dia 1º de dezembro houve uma reunião do que era denominado de Comunidade Operacional, (os Comandantes de setores operacionais da capital). Nessa oportunidade o Coronel Marden leu um documento que estava encaminhando ao Governador no qual relatava a situação da PM com as punições dos Oficiais superiores.

       No mesmo documento eram feitas severas acusações ao Secretario de Segurança, Coronel Geraldo Navarro, onde se levantavam suspeitas de que o Secretario mandava vender armas apreendidas pela Polícia Civil.

     Fiz ver ao Comandante, pela atenção e confiança que ele me tinha, que aquelas eram acusações muito forte e que precisavam ser melhor estudadas. Ele disse que tinha as provas.  Insisti dizendo que essas denúncias não levavam a nada e só contribuiriam para complicar mais a situação. Ele disse que iria encaminhar os documentos. A reunião se desfez.

          Na mesma tarde correu rumores no CPC que o Coronel Lins havia dito no Rancho do 1º BPM que o Governador estaria enviando mensagem à Assembleia tornado a PM uma Superintendência da Polícia Civil. Fui procurado por diversos Oficiais para saber notícias sobre esse assunto. Como eu ignorava o assunto, nada comentei.

             No dia seguinte, 2 de dezembro, uma sexta-feira, o Jornal O Momento publicou que a mensagem referida pelo Coronel Lins havia sido remetida à Assembleia e seria discutida na semana seguinte.

       Às dezessete horas eu estava despachando com o Comandante, quando chegou ao Gabinete o Dr. Lauro, Superintendente da Polícia Federal.  O Comandante pediu para ficar a sós e eu mi retirei. Às vinte horas recebi uma ligação do PEC informando que o Comandante tinha convocado uma reunião no QCG. Não recebi detalhes. Telefonei para alguns Oficias tentado obter informações. Ninguém sabia de nada.

             Às vinte e uma hora eu cheguei ao Gabinete. Apresentei-me ao Comandante que estava em sua mesa de trabalho. Na mesa de reunião se achavam os Tenentes Coronéis Afonso, Lira, Genilson, Capitão Marcílio, (Comandante do COPOM) os Majores Germires, e Sinval e outros Oficiais. Fomos informados que deveríamos aguardar o Tenente Coronel Medeiros que estava vindo de Patos.

           Os Oficiais se dispersaram pelos corredores. Tentei ler os jornais do sul que se encontravam na mesa. Não conseguia me concentrar. O clima era tenso, mas ninguém arriscava um palpite.

        O Comandante estava calmo, mas nada adiantava sobre a reunião. Continuavam chegando Oficiais. Chegaram os Capitães Ardenildo, (Comandante do CFAP) Gilberto e Patriarca, o Tenente Coronel Uchôa, Major Cardoso, (PM/4) e outros mais. Algumas gozações entre os oficiais serviam para se tentar quebrar a tensão.

          Faltando cinco minutos para meia noite o Tenente Coronel Medeiros chegou e passou direto para a mesa de reunião. Todos entraram. Não tinha nenhum Coronel presente.

      Zero hora em ponto, o Comandante inicia a reunião pedindo desculpas pelos transtornos, mas afirma que tem motivos para esse ato.  Fez um relato da situação e durante meia hora leu o documento que tinha exposto na reunião com a comunidade operacional, no qual fazia sérias acusações ao Secretario de Segurança.

     Por fim se diz surpreso com a notícia publicada sobre o envio da mensagem à Assembleia subordinando a PM diretamente ao Secretário de Segurança.  Informou que fez contato com o Governador e ele confirmou o envio de mensagem.  O Comandante alegou que depois de ter emitido o relatório que acabava de ler não poderia trabalhar subordinado ao Secretário, pelo que estava deixando o Comando.

             Despediu-se dos Oficiais e encerrou a reunião. Era zero hora e trinta e cinco minutos do dia 3 de dezembro de 1988. Não ficou claro quem estava assumindo o Comando.

      A confirmação da remessa do decreto que subordinava a PM diretamente ao Secretário causou muita revolta entre os Oficiais.

        Em sinal de protesto por essa medida do Governador, o Tenente Coronel Afonso propôs que todos os Comandantes de Batalhões entregassem os cargos.  Sinval fez algumas colocações ponderando a adoção dessa medida. Por fim ninguém assinou documento nenhum. Os Oficiais começaram a se dispersar fazendo comentários e demonstrando insatisfação.

           Nesse período estava ocorrendo a festa das Hortência, em Cruz das Armas. O Comandante do CPC, em sinal de protesto disse em um grupo de Oficias que iria mandar suspender o policiamento da festa e deixar de atender ocorrências no COPOM.

      No momento eu, que tinha muita amizade om aquela Oficial, ponderei por achar que essa era uma medida perigosa e poderia trazer prejuízo para a população. O Comandante do CPC disse “Eu assumo”.

         Conversei com o Capitão Marcílio, Comandante do COPOM, sobre essa minha preocupação e ele concordou comigo.  Não sei por ordem de quem, mas o fato é que algumas ocorrências deixaram de ser atendidas e o policiamento de festa, que era Comandado pelo Tenente Rufino, foi recolhido mais cedo.

O auge da crise

              No dia seguinte, 3 de dezembro, um sábado, eu liguei de minha casa (no Alto do Mateus) para do PEC informado que quando o Oficial  de Serviço (Tenente Washington) chegasse no Quartel, ligasse para mim.  Esperei até as nove horas e nada de ligação. Precisava saber quem era o Comandante para poder prestar contas dos serviços que estávamos executando diariamente. Liguei para o COPOM localizar Washington.

     Na quela oportunidade o Capitão Nery, de serviço no COPOM me informou que estava preocupado com uma ordem que recebeu para não atender ocorrências.

          Pedi para ele ligar para o Tenente Coronel Nivaldo, o Comandante do CPC para se inteirar dessa medida. Nery disse que não estava conseguindo ligação com Nivaldo. Combinei que quando Washington chegasse, eu iria pessoalmente falar com ele. Tentei de casa várias vezes e não consegui linha.

       Washington chegou às dez horas na minha casa e fomos direto para o CFAP. Pelo que comentamos na noite anterior os Oficiais do CFAP passariam o dia reunido no Quartel aguardando noticiais.   No CFAP encontrei com Ardenildo e o Tenente Pontes com quem conversamos um pouco.

       No CFAP liguei para o Tenente Coronel Nivaldo pedindo orientação para o serviço que o PEC estava fazendo no Bairro dos Estados (Prevenção contra saque a um armazém de alimentos do Governo). Ele pediu para que ligasse para o Coronel Marcelino. Era mais ou menos dez e meia. Liguei várias vezes para a casa do Coronel Marcelino mas a ligação não se completava,

          Depois alguém atendeu e disse  que o Coronel Marcelino não estava  em casa e só chegaria ao meio dia.  Fiquei insistindo até que às onze horas consegui falar com o Coronel Marcelino. Ele disse que acabava de ser informado da situação pelo Capitão Nery. 

     Pedi orientação de como deveria proceder e ele disse que iria ao Quartel do Comando Geral fazer uma reunião e me determinou convocar os Oficias. Liguei para Nery e pedi para através do COPOM ele convocar os Oficiais.        Durante a convocação registramos um fato curioso.

           O Coronel Hélio ao ser informado da reunião disse que “isso é motim de Marden, que não é mais Comandante, pois hoje mesmo o Governador vai nomear outro. Avise para Marcelino dissolver a reunião que é ordem do Governador”. A esposa do Coronel Costa ligou para o COPOM informado que seu telefone estaria ocupado e não recebia ligação.

        Comentou-se que à noite haveria uma reunião no Clube dos Oficiais para tratar dessas questões. Não sei de onde partiu essa ideia.         Almocei no CFAP e em seguida me dirigi ao QCG para participar de reunião. Cheguei a uma e meia da tarde e lá encontrei Genilson, Uchôa, Sinval e o Tenente Pita, que estavam tentando abrir a porta do Gabinete para a reunião e não encontravam a chave.

      Pedi ao Tenente Coronel Uchôa para ele ligar para o Coronel Marcelino para saber se ele confirmava a reunião. Seguimos todos para o CPC onde Marcílio confirmou que o Coronel Marcelino estava a caminho. Pouco depois chegou a informação que alguém conseguiu abrir a porta do Gabinete.

       Descemos para lá. Os Oficiais começaram a chegar e foram ficando pelo corredor fazendo os mais diversos tipos de comentários sobre a situação.

         Às duas horas o Coronel Marcelino chegou. Todos entraram no Gabinete.  O Coronel Marcelino disse que a reunião seria só para os Oficiais superiores e que o demais aguardassem no corredor.

       A reunião teve início. Pouco depois o Coronel Costa chegou à paisana e seguiu direto para o alojamento onde trocou de roupa, desceu, entrou e sai rapidamente do Gabinete do Sub Comandante e depois no Gabinete do Comando onde estava ocorrendo a reunião.

        Ao entrar,Costa  bateu na porta com muita força, o que chamou a atenção de todos. Pouco depois, do lado de fora se ouvem as palavras do Coronel Costa, sempre em tom muito emocional, pregando a disciplina e explicando a situação.

         Costa disse também  que o pessoal não conhecia a mensagem do Governo e que ela estaria sendo retirada para ser discutida com os Coronéis. Fez críticas ao Coronel Marden, afirmando que aquela reunião era um motim organizado por Marden, sendo contestado por Afonso e Lira, gerando uma pequena discussão.

             Costa ainda apelou para que não houvesse revanchismo, e pediu a união de todos. Ao ouvir os argumentos do Coronel Costa e a forma como ele falava, muita gente  entendeu que ele poderia está falando em nome do Governador e já como novo Comandante.

      O Capitão George resolveu conferir e ligou para a Granja do Governador relatando o que estava acontecendo, e segundo revelou depois, recebeu como resposta do Governador que não havia autorizado ninguém falar em seu nome e que estava vindo ao Quartel.  Enquanto isso no corredor o clima era muito tenso, principalmente quando se ouviam discussões.

               Mas as vozes foram abrandando e reduzido a tensão. Passou-se então a se discutir de quem tinha partido a ordem para paralisar as atividades do COPOM.  Quem deu a ordem negou, alegando que não sabia de que se tratava. A reunião acabou, aproximadamente às três horas o Coronel Marcelino se dirigiu aos Capitães e Tenentes pedindo para que todos voltassem para suas atividades. Avisou ainda que a reunião à noite no Clube dos Oficiais estava cancelada.

          Os Oficiais começaram a se dispersar e o Coronel Costa ficou observando cada um deles como se quisesse fixar a fisionomia de todos os presentes. Formaram-se diversos grupos no pátio.  O Coronel Marcelino se dirigiu a cada um deles pedindo para que se dispersassem, o que começou a acontecer.

Buriti no Quartel

               Quase todo mundo foi embora, inclusive o Coronel Marcelino. Eram três e vinte quando eu ia embarcar na Viatura para ir embora quando chegou no pátio o carro do Governador. Percebi que era o Dr. Tarcísio Buriti que estava chegando. Notei que eu era o Oficial mais antigo presente ao local. Dirigi-me ao Governador, me apresentei e ele perguntou pelo Coronel Marden.

                    Informei que tinha ocorrido uma reunião dos Oficiais com o Coronel Marcelino, mas que o Coronel Marden não estava presente. Ele, que parecia muito nervoso, disse que queria falar com o Coronel Marden. Eu disse que se ele quisesse eu iria comunicar ao Coronel Marden para que ele viesse ao Quartel. Ele concordou e o acompanhei em direção ao Gabinete do Comando.

         Na antessala encontrei com o Capitão Gilberto que recebeu o Governador e o conduziu ao Gabinete. Estavam ainda presentes o Tenente Coronel Eugênio Freire, e o Major Manuel Cordeiro.  Encontrei Marcílio, no COPOM, e pedi para ele comunicar ao Coronel Marcelino e ao Coronel Marden que o Governador estava no Quartel aguardando por eles.

        Pouco depois o Coronel Marcelino chegou.  Voltei a sala de Gilberto que estava de serviço no COPOM e ia saindo. Pedi a ele para permanecer e fazer o assessoramento ao Comandante durante a presença do Governador. O Capitão George também estava presente nesse momento.

              As três e quarenta o Coronel Marden ligou para o COPOM querendo falar comigo. Subi para atender. Expliquei o que estava acontecendo e ele pediu para que eu passasse o telefone para o Governador.

       Informei que iria fazer a ligação do Gabinete. Desci e comuniquei o fato ao Coronel Marcelino. A ligação foi feita e o Coronel Marden conversou com o Governador. Às quatro horas o Coronel Marden chegou e entrou no Gabinete. Ficaram apenas os três no Gabinete (Marden,  Marcelino e o Governador).

           Pouco depois o Governador saiu do Gabinete com o Coronel Marcelino e se dirigiu para o pátio do Quartel. Em seguida, entramos no Gabinete, eu, Marcílio, Gilberto, George e o Coronel Marcelino que tinha voltado.

      O Coronel Marden perguntou quem tinha convocado a reunião e o Coronel Marcelino confirmou que foi ele. Conversamos mais um pouco, porém sem entrar em detalhes sobre os últimos acontecimentos.

      Despedimos-nos do Coronel Marden e ele saiu. No pátio percebi que o Coronel Marden tinha ido ao Quartel em uma Brasília vermelha ano 78 que era dirigida por seu filho. O Coronel Marcelino foi embora.         Ficamos eu, Marcílio, George e Gilberto nos perguntando, e aí ? Parecia que o Coronel Marcelino tinha sido confirmado no Comando.  Dispersamo-nos as 10 para as cinco.

        No dia seguinte o Diário Oficial publicou a exoneração de Mardem e a nomeação de Marcelino.         Ainda hoje não sei quem foi que inventou a história de que a reunião do sábado foi para exigir a volta do Coronel Marden.  Depois disso, muitas águas rolaram, e a minha cabeça  também, por seis anos, pois o novo comando me  considerou como um dos fiéis a Marden  e contra os Coronéis.  Foi o preço do legalismo.

       A sequência desses fatos foi acompanhada pela imprensa local que, por vezes, apresentava versões distintas. Seguem alguns recortes de jornais retratando os fatos.

Veja também A criação da Operação Manzuá O Comando e a crise Marden    

    VEJA TAMBÉM Visita de Sarney e prisão de Vital do Rego  

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Fernando Dutra B da Silva
Fernando Dutra B da Silva
6 anos atrás

Prezado Coronel Batista. Sou irmao do Coronel Dutra e de a muito acompanho seu trabalho como historiador da PM PB. Se possivel eu gostaria de lhe solicitar um exemplar de seu livro sobre a historia de nossa briosa PM. Sou professor de historia e pesquiso a policia no Brasil. Meu endereço e: Rua Maria Santiago. 276 Bairro Popular Santa Rita PB CEP 58301-060. Obrigado pela atençao.