Raimundo Cordeiro de Morais: Um perfil de nobreza, honestidade e competência.

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                    O Coronel Raimundo Cordeiro de Morais foi um dos mais destacados Oficiais da Polícia Militar da Paraíba nas décadas de 1950 e 1960. Neste trabalho  vamos registrar dados que possibilitam a visão do perfil desse homem , o  que revela do seu caráter  de nobreza,  honestidade e competência, 
         Um homem de fino trato, vocacionado, honesto, competente e totalmente comprometido com o engrandecimento da Polícia Militar. Esse é o perfil que, em síntese, poderia se fazer do Coronel Raimundo Cordeiro de Morais.
     Raimundo era natural de São José Egito, em Pernambuco, cidade fronteira com Teixeira, alto sertão paraibano, onde nasceu em 9 de fevereiro de 1921, sendo o primeiro dos nove filhos do casal Antônio Cordeiro de Araújo e Francisca Maria  das Chagas, uma família de humildes agricultores.  Depois de fazer as primeiras letras em sua cidade, ele seguiu o caminho da maioria dos sofridos jovens sertanejos que buscam melhoria de vida em cidades de maior porte, o que ainda ocorre em nossos dias.
       No decorrer da segunda guerra mundial, por recomendação expressa do alto Comando do Exército, havia a preocupação dos Comandos das Polícias Militares de todos os Estados em concentrarem o maior efetivo possível nas capitais. Na Paraíba, como parte dessas medidas, em 1º de outubro de 1940, o 2º Batalhão, que era sediado em Campina Grande, foi transferido para a capital, onde permaneceu até 18 de maio de 1943.
Mas esse efetivo, mesmo somado ao já existente na cidade, era muito pequeno considerando a possibilidade de seu emprego em ações de defesa interna em caso de o país entrar na guerra, como era previsível.  Por esse motivo foi iniciado um processo de inclusão e intensificada a divulgação dessa medida no interior do Estado.
       Em uma passagem pela cidade de Patos no final de fevereiro de 1942, em plena feira livre, Raimundo Cordeiro tomou conhecimento, através de um serviço de amplificação de som instalado no gigante de um caminhão, de que estava aberto mais um alistamento nas fileiras da Polícia Militar.  No mesmo dia ele se inscreveu e, juntamente com muitos outros jovens sertanejos, embarcou no caminhão e seguiu para a capital do Estado onde assentou praça na Polícia Militar no dia 28 de fevereiro de 1942, portanto com 21 anos de idade.
    Depois de concluir o Curso de Formação de Soldados, o jovem Morais, seu nome de guerra na PM, continuou estudando, mesmo com muita dificuldade. Suas atividades iniciais foram na Guarda da Cadeia, que era em um prédio no Bairro do Varadouro, no centro de João Pessoa, onde depois foi sede de uma Secretaria de Estado e posteriormente passou a sediar a Central de Polícia. Como o efetivo para esse serviço era muito pequeno, o Soldado Morais chegou a tirar um serviço que durou 90 dias, sem folga.
Os policiais usavam perneiras, um tipo de calçado com cano longo, parecido com um coturno, e como passavam muito tempo calçados, pegavam tantas freiras que chegavam a temer perder os dedos dos pés. Nesse período tinha um professor preso e o Soldado Morais aproveitou a oportunidade e aprendeu muito com ele.
      Naquela época a radiotelegrafia era uma atividade muito valorizada na Polícia Militar. Muitos policiais prestavam serviço  no setor de comunicações do Palácio do Governo exercendo as funções radiotelegrafistas recebendo mensagens endereçadas por autoridades de todo ao Estado ao Governador ou vice-versa.
Para desenvolver essas atividades era necessária muita habilidade em transmitir e receber mensagens através do sistema do código morse, o que exigia muita memória auditiva.  O quadro de Oficiais e Praças especialistas nessa área era muito amplo e sempre tinha muitas vagas.  O Soldado Morais viu nessas atividades uma forma de iniciar sua carreira profissional e começou a estudar para os concursos internos nessa área.
    Pouco depois ele foi aprovado, sucessivamente, nos concursos de Cabo e de Sargento no Quadro de Operadores de Rádio. No exercício dessas funções o Sargento Morais ganhou a confiança e admiração dos seus superiores, pela qualidade do seu trabalho e pela capacidade de transmitir e receber mensagens em velocidade acima da média.
     Naquela época o Exército promovia cursos para capacitar os Sargentos das Polícias Militares, o que era feito em diferentes regiões do país. O Sargento Morais frequentou o Curso Regional de Aperfeiçoamento de Sargento, (CRAS), em 1949, realizado no 14º Batalhão de Infantaria, sediado em Recife, o que lhe habilitava às promoções até a graduação de subtenente.
      Mesmo graduado, o Sargento Morais continuou estudando e terminou o curso ginasial. Em 1952 houve seleção para mais um Curso de Formação de Oficiais cujas vagas eram exclusivas para Sargentos e um dos requisitos era ter concluído o curso ginasial. Ele, que já era 2º Sargento, foi aprovado, concluiu o Curso e foi declarado Aspirante a Oficial no dia 7 de setembro de 1954 passando a ocupar funções pertinentes aos primeiros postos na carreira de Oficial. Promovido a 2º Tenente em 16 de março de 1955 e a 1º Tenente em 23 de abril de 1960 ele continuou desenvolvendo atividades internas.
Nesse ínterim ele concluiu o curso técnico na Academia de Comércio Epitácio Pessoa, em 1958.
      Em 17 de julho de 1962 o Tenente Morais alcançou o Posto de Capitão, passando, a partir de então, a exercer funções de Delegado de Polícia em Itabaiana, Santa Rita, Guarabira, Souza, e Campina Grande, em períodos alternados com o desenvolvimento de atividades no âmbito da Corporação.
      Graças aos seus conhecimentos técnicos específicos, ele chefiou o serviço de Comunicações da Polícia Militar em 1964, momento em que essa atividade se tornou ainda mais importante em razão da situação política vivenciada no país.  Ainda como Capitão ele foi instrutor de Radiotelegrafia e de Instrução Policial, no Curso de Formação de Sargento, realizado em 1966.
     Dotado de habilidades para o ensino, o Capitão Morais, em 1965 se habilitou pela UFPB para o ensino de Geografia nos cursos colegiais e no ano seguinte se habilitou pata ministrar a disciplina Organização Social e Política Brasileira (OSPB), através de certificado conferido pela Faculdade de Filosofia da Paraíba (FAFI). Naquela época essa disciplina se tornou obrigatória no curso ginasial, e havia escassez de professores para ministrá-la.
    Em 4 de junho de 1967 o Capitão Morais foi promovido a Major, por merecimento, e em seguida nomeado para a Chefia de Gabinete do Comandante Geral.  O exercício dessa função exigia o conhecimento do funcionamento organizacional da corporação e muita habilidade no relacionamento interpessoal, uma vez que o seu ocupante era o responsável pela triagem de tudo que poderia chegar o Comandante.
     Era também o responsável pela correspondência do Comandante. Nessas funções, ele recebeu delegação do Comandante para despachar com o Governador João Agripino os assuntos de caráter administrativo. Por conta desses serviços ele foi elogiado pelo Comandante Geral em fevereiro de 196.
      O Major Morais tinha exercido as funções de Delegado de Polícia em diversas oportunidades e percebeu que para melhor desempenhar tais atividades era imprescindível a obtenção de mais conhecimentos específicos na área de investigação policial e por essa razão ele frequentou o Curso de Investigação Criminal promovido pela USAD (Agencia dos Estados Unidos para o desenvolvimento internacional), com parceria da Secretaria de Segurança da Paraíba, realizado em dezembro de 1967.
     No segundo semestre de 1968 o Major Morais fez o Curso de Aperfeiçoamento de Oficias na Polícia Militar de Pernambuco e no primeiro semestre do ano seguinte, ele seguiu para o Estado da Guanabara onde frequentou o Curso Superior de Polícia, concluído em novembro de 1969. No CSP ele teve oportunidade de conhecer as Polícias de São Paulo e Paraná, onde fez muitas amizades.
   Em junho de 1969 foi criada a Inspetoria Geral das Polícias Militares (IGPM) e o Comando do Exército estava coletando dados para instrumentalizar esse novo órgão o que era feito através da captação de documentos elaborados por Oficiais das mais diversas Polícias Militares.  Ao retornar do CSP o Major Morais foi encarregado pela IGPM para elaborar um desses documentos, que era sobre. Trabalho de Comando, o que foi feito dentro do prazo estabelecido.
        Na busca de uma melhor capacitação para enfrentar os desafios impostos no cotidiano da Administração Pública ele fez treinamentos sobre esses temas na UFPB, em 1970 e na URNE (Universidade Rural do Nordeste), em Campina Grande, em 1975.
      Depois da revolução de 1964 os Cursos promovidos pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) ganharam importância e conferiam status aos seus frequentadores.  Em 1970 o Major Morais foi dos alunos desse curso.
      Em 15 de fevereiro de 1971 ele foi promovido a Tenente Coronel, e voltou a ocupar as funções de Chefe de Gabinete do Comando da Corporação. Nessa atividade ele foi elogiado mais uma vez. Desta feita por ocasião da passagem de Comando do Coronel Ozanan de Lima Barros para o Coronel Glauber Cabral de Vasconcelos, em março de 1971. Terminava o Governo de João Agripino e começava o de Ernani Sátiro.
      No novo Comando o Tenente Coronel Morais foi designado para as funções de Fiscal Administrativo, e como tal, responsável pelo controle de todo material do Quartel do Comando Geral, que na época era no prédio onde atualmente está sediado o Comando do 1º Batalhão.   Ainda nessas funções, ele foi designado para elaborar um anteprojeto de Instrução Provisória sobre Trabalho de Comando e Estado Maior.
        Ainda em 1971, no mês de setembro, o Tenente Coronel Morais foi nomeado Delegado de Polícia em Campina Grande.    No dia 1 de novembro de 1971 ele assumiu o Comando do Batalhão Especial de Polícia, que tinha sido criado em 1969.  Pouco depois essa Unidade policial passou a ser denominada de 1º Batalhão.
    No início da década de 1970 a IGPM começou um trabalho para unificar a legislação das Polícias Militares e uma das primeiras preocupações foi com o Estatuto do pessoal. Na Paraíba havia sido sancionado um Estatuto em 1970. Antes desse período toda legislação da Polícia Militar de Paraíba era concentrada em uma só Lei. Era o Regulamento Geral da Força Pública. Na busca de se adaptar às propostas da IGPM, foi criada uma Comissão Especial para Elaborar uma proposta de Estatuto do Pessoal, e o Tenente Coronel Morais foi um dos integrantes dessa comissão designada no dia 11 de janeiro de 1973.
     Esse trabalho, realizado em regime de dedicação exclusiva, resultou na Lei 3.909, sancionada em 14 de julho de 1977, e que está em vigor até nossos dias.
      No decorrer de 1973 e 1974 o Tenente Coronel Morais foi Delegado de Polícia de Guarabira e de Sousa, em diferentes períodos.
      No dia 18 de maio de 1975 ele assumiu o Comando do 2º Batalhão, em Campina Grande, onde realizou um trabalho voltado para a integração da Polícia com a comunidade, e construiu um vasto círculo de amizade. Nessa função o Tenente Coronel Morais permaneceu até a sua passagem para a reserva, com os proventos de Coronel, o que ocorreu no dia 14 de outubro de 1977, portanto, depois de mais de 35 anos de ininterruptos serviços prestados à Corporação.
     Em 1950, quando o então Sargento Morais prestava em Alagoa Grande, conheceu a jovem Josefa Sobral de Morais, mais conhecida com Zelí, por quem se apaixonou e contraiu matrimônio. Dessa união nasceram Hamilton, Roseli, que é médica, Ramilson técnico em eletricidade aposentado pela SAELPA, e Ronaldo, analista de sistema do grupo Vicunha.
        Ramilton Sobral Cordeiro de Morais, o primeiro filho do Coronel Raimundo Cordeiro, também ingressou na Corporação, alcançou o Posto de Coronel e foi Comandante Geral no período de 1997 a 2003.
     Dos oito irmãos de Raimundo, cinco também seguiram a carreira militar. Um deles foi Cabo (Raimundo), três foram capitães do Quadro de Administração (Daniel, Severino e Amaro) e um foi Coronel (Manuel Cordeiro). Dos outros, um se tornou comerciante em Patos (Antônio), outro se dedicou à agricultura (José) e a única mulher (Lurdes) se formou em Direito e ingressou no Serviço Público, sendo aposentada pela Justiça Federal.
     Depois de passar para a reserva o Coronel Morais exerceu ainda as funções de Delegado do DOPS, em 1978, quando foi homenageado pela impressa policial como “o melhor do ano”. Em 1980 ele assumiu a direção da Penitenciária do Roger, e mais uma vez foi reconhecido pela imprensa como “o melhor do ano”. Sua última função pública foi como Chefe do Setor de Segurança na UFPB, sendo responsável pela segurança da cidade universitária. Nessa função ele foi aposentado em 1991.
      Com muita justiça, no dia 20 de agosto de 1997, o Coronel Raimundo Cordeiro de Morais, foi agraciado com a Medalha Elísio Sobreira, pelo Comandante Geral, o Coronel Américo Estrela Uchôa.
      No dia 17 de outubro de 1999, portanto depois de 12 anos de reformado e gozando de muita atenção e carinho dos companheiros do serviço ativo com quem ele conviveu, o saudoso Raimundo Cordeiro de Morais foi atropelado por uma bicicleta e veio a óbito.
     Um dos traços marcantes na personalidade do Coronel Raimundo Cordeiro de Morais era a forma sempre polida e cavalheiresca como tratava as pessoas.   Era um homem vaidoso e como tal preocupado com sua aparência física. Tinha o habito de está sempre penteando os cabelos.  Fardado ou a paisana, sempre estava bem apresentado. Era calmo, discreto e muito ético ao falar sobre as coisas da Corporação. Em conversas informais costumava fazer comentários elogiosos aos antigos companheiros ressaltando suas qualidades.
       Sua postura profissional e sua larga experiência inspiravam a confiança de todos com quem ele convivia. Bom ouvinte e bastante atencioso, ele sempre tinha uma palavra amiga, um alento, ou um conselho aos mais jovens.  Deixou um valioso legado à Corporação.
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1 Comentário em "Raimundo Cordeiro de Morais: Um perfil de nobreza, honestidade e competência."

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Ugo Bezerra
Visitante

Exemplo de vida! Orgulho da Corporação. Parabéns, Cel. João Batista por enaltecer aqueles que servirão sempre de exemplo para os mais jovens. A Polícia Militar, como sempre, abre as portas para aqueles que desejam progredir de forma honesta na vida. Viva o policial militar!