Troca de balas entre Oficiais dentro do Palácio da Redenção

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          Troca de balas entre Oficiais dentro do Palácio da Redenção é como se pode definir um episódio ocorrido no Gabinete Militar do Governador da Paraíba em 1984. Aqui vamos narrar esse fato.

       A disciplina e a hierarquia são valores que balizam a conduta de todos os militares.  A sadia camaradagem entre os integrantes de todos os níveis hierárquicos de qualquer instituição militar também é um princípio estabelecido nas normas que regulam as atividades desses profissionais.  Entretanto, algumas vezes, atitudes derivadas do convívio de camaradagem podem afetar a disciplina. Essas normas se aplicam também aos integrantes do quadro de inativos

     Quando um superior hierárquico, mesmo que com o nobre propósito de cultuar uma sadia camaradagem, se aproxima de subordinados através de constantes e descontraídas brincadeiras, chegando, por vezes, a fazer gozações, aos pouco vai abrindo espaço para também ser vítima das mesmas brincadeiras. Fatos dessa natureza constituem transgressão disciplinar e acabam gerando consequências para os subordinados.

     Foi o que aconteceu em 1984 no interior do Palácio da Redenção entre um Major Reformado e dois Capitães integrantes do Gabinete Militar do Governador. É esse fato que vamos narrar a seguir.

   O Major Geraldo Viera Cabral foi Chefe do Gabinete Militar do Governador Ernani Sátiro entre 1971 a 1975. Quando exerceu essas funções o Major já estava reformado.

   O Major Geraldo era um homem simpático, sempre sorridente e muito comunicativo. Tinha por hábito distribuir bombons para as pessoas que encontrava, até para quem não conhecia.  Mesmo depois de deixar essas funções ele continuou a frequentar os corredores do Palácio, onde costumava conversar muito com os policiais que ali se encontravam.

   Durante o Governo de Wilson Braga, de 1983 a 1987, o Chefe do Gabinete Militar era o Coronel José Soares de Alencar.  Os Capitães  Germires VVamberto  e Marcílio Evangelista integravam o quadro de Oficiais daquele Gabinete.

   Esses Oficiais, que eram companheiros do CFO, feito na PM da Bahia, eram muito amigos e costumavam tramar gozações com outros policiais militares.

   Naquela época, o Major Geraldo Viera Cabral, já com uns oitenta anos, costumava entrar no Gabinete do Secretário quase todas as manhãs distribuindo bombons, palestrando com os Oficiais e, como era do seu feitio, falando muito alto.

   Germires e Marcílio resolveram aprontar.

   Certo dia, quando o Major entrou no Gabinete, Marcílio lhe prestou continência e se aproximou falando baixinho:

   - Major, eu sei que o Senhor gosta muito de Germires, mas ele não vale nada. Vou trocar bala com agora mesmo.

  O Major se assustou, colocou a mão nos ombros de Marcílio e começou a tentar demovê-lo daquela ideia.

  - Meu filho, disse o Major em tom paternal, tenha calma, converse com ele. Vocês são pais de família. Faça as pazes com ele.

     Resoluto, Marcílio arqueou os ombros, caqueu o coldre e falou bem alto para Germires ouvir:

     - Tem nada disso seu Major. Já resolvi e vou trocar bala com ele agora mesmo.

     A essa altura Gemires estava no birô em frente a eles, rabiscando uma caricatura,  fingindo nada ouvir daquela conversa.

     Marcílio se dirigiu a Germires. O Major lhe seguiu segurando-o pelo braço, ainda tentando evitar a tragédia.

  Marcílio tirou do bolso seis cartuchos de 38, colocou em cima do birô e disse a Germires:

    - Minhas balas estão velhas. Vamos trocar pelas suas que são mais novas e você tem como conseguir outras pra você.

   Gemires pegou as balas de Marcílio e lhe entregou as suas a ele.

    Quando o Major percebeu o que Marcílio queira dizer com troca de balas deu a maior polpa, bateu no ombro de Marcílio e disse:

 - Companheiros, isso é uma falta de consideração. É um desrespeito.  Eu aqui morrendo de preocupado e vocês fazendo palhaçada. Vou comunicar agora mesmo ao Coronel José Geraldo.

   Em seguida o Major se retirou irritado e bateu a porta com violência.

   Germires e Marcílio caíram na risada.

     Pouco depois o Coronel Geraldo Alencar entrou no Gabinete feito uma fera, com ar de nervoso em tempo de explodir, e se dirigiu aos Capitães em tom áspero:

   - Como é que vocês fazem uma coisa dessas, seus irresponsáveis. O pobre do Major poderia ter um ataque de raiva e morrer aqui dentro. Olha o tamanho da confusão que seria. Considerem-se advertidos.

    Depois disso o Coronel, que também era chegado a fazer gozações, foi perdendo a feição de bravo e aos poucos esboçou um tímido ar de riso. O ar de susto dos Capitães também se desfez aos poucos até que todos caíram na risadagem.

   Depois de muito conversarem sobre esses fatos, os Capitães concluíram que o Major Geraldo era uma pessoa tão boa que não merecia uma brincadeira daquela, e por essa razão resolveram procurá-lo para pedir desculpa.

    A cada pedido de desculpa o Major reagia oferecendo um bombom. A o respeito e a amizade   foram refeitas

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