Ministério natimorto da segurança pública

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       Ministério natimorto: é assim que o Coronel Reformado da PMPB Arnaldo da Silva Costa considera o Ministério de Segurança Pública, recentemente criado pelo Governo. Esse tema é tratado em um artigo com o título: “Ministério natimorto da segurança pública” e nele o autor faz severas críticas, bem ao seu estilo, sobre essa iniciativa governamental. É esse o artigo que passamos a expor

                                         Ministério natimorto da segurança pública

                                                                               Arnaldo Costa (*)

      O Brasil talvez esteja passando pelo pior período de desordem pública. O brasileiro já não aguenta mais ouvir, ver e até ser vítima de atos contra a sua vida, de seus entes queridos e do seu patrimônio. Não vamos aqui enumerar causas dessa onda de tanta violência. Isso fica para um próximo momento.

     O fato atual é o anúncio pelo Palácio do Planalto da possibilidade de criação de mais um ministério, o da Segurança Pública. Pergunta-se: por que só agora essas bisonhas autoridades federais estão se preocupando com essa ideia? Pessoalmente, tenho algumas respostas para tal, mas vamos nos restringir a apenas essas duas:

    - Seria a oportunidade para a criação de muitos cargos comissionados a serem distribuídos aos “dignos” Senadores e Deputados Federais sedentos que estão para ocuparem mais espaços que possam distribuir aos seus asseclas. E a ocasião seria altamente oportuna para o atual Presidente de plantão conseguir aprovação de suas propostas, como a famigerada Reforma Previdenciária.

   - Esse ministério é um natimorto(**), ou seja, uma ideia que já nasce morta. Por dois motivos bem cristalinos: primeiro, pela sua desnecessidade ocasional. Estamos num final de governo totalmente desacreditado. É temerário criar um ministério com tantas expectativas num cenário contrário. Segundo, anunciaram a provável convocação de comandantes das Forças Armadas, além de outros nomes insignificantes para uma reunião inicial. O que sabem esses comandantes das FFAA sobre Segurança Pública? Eu respondo com toda convicção de minha alma: NADA!

     Em vez desses nomes indevidos, por que não convocar os reais atores da ópera: profissionais em segurança pública? Por que não convocar Dirigentes gabaritados das Polícias Militares e das Polícias Civis, representantes de centros e núcleos de estudos sobre segurança pública e violência?

     Esses é que são os verdadeiros personagens que deveriam ser ouvidos sobre a viabilidade ou não para a eventual criação de um Ministério da Segurança Pública. Não vá a Presidência da República convocar um político sem mandato ou um general de pijama para ser o titular dessa Pasta. Se isso acontecer, acabaram-se minhas poucas esperanças em coisas sérias deste país.

     Convocar pessoas erradas para estudos sobre a criação de um ministério duvidoso, a Presidência da República parece se esquecer de um velho, mas sempre atual, pensamento de Maquiavel: “O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta”.

A ideia da criação de um Ministério da Segurança Pública pode até ser boa, mas não é oportuna, apesar de todo clima de agitação social, de toda a desordem pública verificada nos últimos tempos. Há de considerar, sobretudo, o atual cenário nacional, onde a classe política passa por total descrédito, ao lado dos Poderes Executivo e Judiciário. Estamos vivendo um período seríssimo de crises nos aspectos político, ético e de gestão.

     Essa pressa toda em agir, como a criação de um novo ministério, não seria também uma forma de “calar” os rumores populares? Creio que sim, pois a população menos esclarecida e carente de atuação governamental se sentiria menos abandonada. Assim, os governantes anunciam tal medida, mas continuam sem governabilidade.

     Criar um ministério de expectativas tão sérias como o de segurança pública nesse clima desfavorável seria o mesmo que criar um bebê dentro de um lamaçal ou convivendo com os hábitos e valores de um bordel.

    E se não bastassem transtornos e inconveniências previsíveis ainda tem o agravante de que esse Ministério abrigará diretamente Corporações de grandes efetivos e de administrações complexas e importantes como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal, além da Secretaria Nacional de Segurança Pública que mantém vínculo com as polícias civis e militares, sem falarmos no sistema prisional brasileiro, área de tremenda complexidade.

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(*) Professor de Administração Pública. Coronel RR da Polícia Militar. Pós-Graduado em Filosofia.

(**) Natimorto: denominação dada ao feto que morreu no útero ou durante o parto, depois da 20ª semana de gravidez. Ou bebê que não tiver batimentos cardíacos ao nascer.

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