Infiltrados impunes

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   Souza entrou correndo no alojamento onde seus colegas jogavam dominó, e gritou:

    - Corre minha gente. O sargento mandou chamar. Os estudantes estão vindo ai.

   De imediato, todos ficaram a postos. Fizeram uma fileira de doze homens na calçada do Palácio. Só a sentinela, que se conservava no seu posto, por trás da fileira, estava armado. Temiam uma invasão.

   Os manifestantes vinham do lado do Ponto de Cem Reis. Estranhamente, na frente do grupo vinha uma Marinete, que fazia a linha de Jaguaribe.

   O barulho era grande. Palavras de ordem ecoavam em ritmo cadenciado.

   - Meia tarifa é direito. .... meia tarifa é direito.

   Souza estava terminando o Ginásio no Colégio Antônio Pessoa e pretendia fazer o Curso de Sargento. Aquele era o seu primeiro serviço. Meio assustado ele perguntou ao amigo, que estava à sua direita:

  - Eles querem o que?

 - Sei lá. Parece que querem pagar meia passagem nos ônibus. Respondeu o amigo, com a vista voltada para a manifestação.

 - Mas eles estão certos. Isso é Lei. Comentou Souza.

 - Mas os Empresários não querem atender. Explicou o aborrecido amigo.

 - Então o Governo tem de agir. Retrucou Souza.  Mas suas palavras foram abafadas pelo barulho da manifestação.

   A marinete, que tinha sido sequestrada no Ponto de Cem Reis, parou em frente ao Palácio.   O motorista desceu e saiu correndo.

  - Pega essa safado!! Gritavam os estudantes

  Três rapazes, todos de blusão, saíram do ônibus e correram pra pegar o motorista, mas desistiram ao chegar ao Pavilhão do Chá. Voltaram e se integraram aos manifestantes.

   Pouco depois, em meio às palavras de ordem, começaram a jogar pedras na Marinete. Um dos rapazes de blusão gritou:

   - Vamos tocar fogo!!

   O Sargento acenou para seus comandados evitar a depredação.

   Os policiais se aproximaram para afastar os manifestantes do veículo. As pedras agora eram contra os policiais. Um deles foi atingido no capacete, que caiu no chão, o que causou euforia no grupo de estudantes.

   Assustado com a agressão sofrida pelo amigo, a sentinela fez um disparo para o alto, querendo intimidar os manifestantes. Muitos se afastaram correndo. Surgiram tiros vindos dos manifestantes. Um Soldado foi atingido no peito. Caiu sangrando na calçada do Palácio.   Morte imediata. O triste espetáculo apavorou os estudantes que se dispersaram em direção à Praça 1817.  O local ficou vazio. Era o dia 24 de outubro de 1963.

   O velório do Soldado José Luiz de Souza foi no hall do Palácio.

Veja também O Sub Lima e um achado misterioso no Palácio da Redenção. Um tiro no lampião evitou invasão do Palácio da Redenção

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