A inatividade seria uma doença contagiosa?

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 A inatividade seria uma doença contagiosa? Esse é o título de uma mensagem de autoria do Coronel Kelson Chaves, ex-comandante Geral da PM/PB, publicada em um grupo whatsapp de Oficiais dessa corporação, no dia 24 de janeiro de 2020. Nesse texto o autor externa um sentimento generalizado dos integrantes do quadro de inativos da Polícia Militar da Paraíba, pelo que, com a devida vênia do autor, passamos a publicar na íntegra.

O TEXTO A SEGUIR PODE SER INÚTIL PARA ALGUNS, MAS SENTI A NECESSIDADE DE ESCREVÊ-LO...

INATIVIDADE: SERIA UMA DOENÇA CONTAGIOSA?

Permeio essa minha fala, do fundo do meu coração e das profundezas de minha alma, entremeada por sentimentos de saudade, falta e uma dor imensa que nem os mais fortes conseguem suportar e conter. Refiro-me a um estágio de vida, que não é o final, não é o passado, muito menos o futuro, mas o presente desatinado de alguns, sublevado por boas histórias, muitas lutas e lidas, esforço, cansaço, suor, lágrimas, risos, vitórias, derrotas, mas e, sobretudo, histórias de vida: A INATIVIDADE.

E a ela chegar e entrar é um privilégio - embora admita que alguns sequer a tolerem ou aos seus iguais -, uma dádiva para cada um de nós que, lá no início e durante trinta longos anos, se prendeu ao juramento de defender à sociedade com o risco de suas próprias vidas.

Anos a fio, em uma labuta diária sofrida, estressante, consumidora de todas as energias que um ser humano pode produzir, de altos e baixos, dedicação exclusiva - no passado bem mais exigida que nos tempos atuais -, de parcos recursos logísticos, de baixa remuneração e, o mais grave, de insignificante reconhecimento por parte dos maiores beneficiários de seus serviços: a sociedade.

Somos, e ninguém pode negar isso, a maior massa humana armada deste país, espalhada pelos seus quatro cantos, de norte a sul, de leste a oeste, do Monte do Cabrai ao Arroio Chui, da Ponta do Seixas à nascente do Rio Moa, vistos por nossas fardas e insígnias, nas mais diversas situações, em cidades, distritos, vilas, bairros, ruas, travessas, becos e vielas, nos morros, nas palafitas, nos escombros, desastres, incêndios, servindo, protegendo, ajudando, acudindo, aconselhando, orientando, corrigindo e punindo quando necessário.

Mas, e quem faz isso é só o ativo? O inativo não fez? Somente o ativo faz e quando for inativo, não lembrarão que um dia fizera? Afinal, o inativo fez o que? Nada? Passou trinta anos na atividade e nada fez?

Não é possível. Se nada fez, como o Estado pagou sua remuneração durante todo o seu tempo de serviço sem reclamar? Ora, se nada fez na ativa porque o Estado lhe encaminhou formalmente à inatividade? Porque publicou o ato respectivo? Será que o fez por obrigação? Sim, foi por obrigação. Afinal o ativo de hoje será o inativo de amanhã. É um ciclo. Faz parte do sistema.

Esse mesmo sistema que não o reconhece, que não o valoriza e respeita, que o despreza, que não o enxerga. A propósito, onde está o inativo? Direi. O inativo está ali, bem ali. Está, como sempre esteve, disposto a servir, a se doar, a contribuir, a colaborar, mas desejoso acima de tudo de ser visto, cumprimentado, lembrado e respeitado como deveria, e cioso que todos alcancem a inatividade, quem sabe, para também sentir que todos existem e que não são nenhuma doença contagiosa.

Em, Jan/2020

Kelson de Assis Chaves

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