A aplicação de conhecimentos da Neurolinguística nas Atividades da Polícia Militar

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A aplicação de conhecimentos da Neurolinguística nas atividades da Polícia Militar é uma forma de facilitar a administração de conflitos e de contribuir para modificar a imagem negativa que considerável parcela da sociedade tem dessas instituições.

Esse tema vem sendo estudado há alguns anos pelo Tenente Coronel Onivan Elias de Oliveira, da Polícia Militar da Paraíba e  transmitido aos seus alunos nos diversos cursos realizados nessa Corporação.

    No artigo que abaixo transcrevemos o Tenente Coronel Onivam expõe de forma sintética e didática a essência desses conhecimentos recomendados na aplicação de procedimento padrão adotado nas atividades operacionais da PM da Paraíba.

As Atividades das Polícias Militares e a Mensagem Subliminar: uma âncora à luz da Programação Neurolinguística

                                                                                                                     Onivan Elias de Oliveira1

INTRODUÇÃO

A morte do afro-americano George Floyd provocada por policiais do Departamento de Polícia de Minneapolis – EUA, em 25 de maio de 2020, novamente eliciou discussões sobre a violência policial. Em dias um pouco antes e um pouco depois, no Brasil, policiais militares realizaram partos dentro de viaturas trazendo à vida novas crianças.

Na Polícia Militar da Paraíba, desde o ano de 2005, este autor ministra conteúdos de Programação Neurolinguística (PNL), especificamente para o Curso de Formação de Sargentos (CFS), numa disciplina cujo o título é Neurolinguística e Inteligência Emocional Aplicada, com a carga horária de 30 h/a.

Entre as provocações feitas aos alunos para suscitar debates e aprendizagem mútua na sala de aula, uma delas tem o seguinte questionamento: mesmo a Polícia Militar realizando uma série imensa de intervenções pacíficas no dia a dia e raras são as intervenções com o uso de força (inclusive letal), por que gera tanto afastamento/repulsa/antagonismo com parte considerável da população?

Em geral as respostas dos alunos vão na direção de responsabilizar parte de setores da imprensa e outra parte pela carência de um setor de marketing e comunicação social das próprias polícias militares mais atuante em fazer ampla divulgação dos bons feitos diariamente.

Como dito acima, na disciplina mencionada ao Curso de Formação de Sargentos (CFS), são abordados os conteúdos da PNL tais como: histórico e conceitos da PNL, os pressupostos básicos, formulação de objetivos, níveis de aprendizagem, sistema representacional, pistas oculares de acesso, espaço corporal, rapport, calibração/calibragem, submodalidades, metamodelo e âncoras.

Desses, um conteúdo é apresentado de forma a mostrar aos alunos quão desafiante é trabalhar a imagem das forças policiais e em especial, da Polícia Militar por ser a Corporação que está em contato permanente com a população e exercendo atos que de certo modo, podem ser entendidos como restritivos de direitos ou do gozo “pleno” dos bens. Esse conteúdo é o de âncora/ancoragem.

         Nesse sentido, esse artigo tem por objetivo refletir sobre os conceitos de âncora/ancoragem estudados na Programação Neurolinguística (PNL), alinhavando- os com a atividade da Polícia Militar.

ÂNCORA À LUZ DA PROGRAMAÇÃO NEUROLINGUÍSTICA

No instante em que se pronuncia a palavra “âncora” para as pessoas que de algum modo trabalham com barcos, canoas, navios, enfim, que labutam com embarcações, provavelmente virá à mente delas que a âncora mantém a embarcação parada, estacionada, ou seja, permanecendo no mesmo lugar.

Por outro lado, na PNL, âncoras “são gatilhos visuais, auditivos, ou cinestésicos que se tornam associados a uma resposta ou a um estado específicos” (O’CONNOR, 2003, p. 88).

Um dos experimentos de Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) mais conhecidos e realizado no século passado, se baseava em demonstrar o momento em que o cão salivava ao escutar o som do sino que era tocado todas nas vezes que a alimentação era colocada à sua disposição, pode ser entendido como a base para o processo de ancoragem à luz da PNL. Então, “De acordo com Pavlov, o requisito fundamental é que qualquer estímulo externo seja o sinal (estímulo neutro) dê um reflexo condicionado e se sobreponha à ação de um estímulo absoluto” (LA ROSA, 2003, p. 45).

Conforme Longin (1996, p. 32, grifei), “Todos os organismos biológicos, estimulados de qualquer maneira que seja, demonstram uma reação comportamental reflexa, a partir do cérebro primitivo. Trata-se de uma reação involuntária, muitas vezes inconscientes.” Isso, de certo modo, reforça os achados de Pavlov mundialmente difundidos e até o momento atual motivo para discussões e estudos no campo da psicologia e ciências afins.

Para Dilts (1993, p. 63), âncora é:

Um processo de estímulo-resposta no qual algum estímulo externo é associado a um estado interno ou a um conjunto de representações. Uma âncora que ocorre naturalmente é, por exemplo, uma canção que nos leva de volta a uma experiência anterior sempre que a ouvimos. [...] Um estado interno pode ser associado a um toque externo, a um som ou a algo que a pessoa possa ver. A partir do momento em que essa associação é criada, a pessoa pode vivenciar a experiência quando quiser.

Afirmam Seymour e O’Connor (1995, p. 69), na PNL “o estímulo que está ligado a um estado fisiológico e que o faz disparar é chamado de ‘âncora’.” Continuam os autores acrescentando que “a âncora é qualquer coisa que dê acesso a um estado emocional.” (SEYMOUR e O’CONNOR.1995, p. 70)

Damasio (apud EAGLEMAN, 2012, p. 78), afirma que:

[...] as sensações produzidas por estados físicos do corpo guiam o comportamento e a tomada de decisão. Os estados corporais tornam-se ligados a resultados de acontecimentos no mundo. Quando algo de ruim acontece, o cérebro aciona todo o corpo (batimento cardíaco, contração dos intestinos, fraqueza muscular e assim por diante) para registrar essa sensação, e tal sensação torna-se associada com o evento. Quando o evento é objeto de reflexão, o cérebro essencialmente passa uma simulação, revivendo as sensações físicas do acontecimento. Essas sensações então servem para dirigir, ou pelo menos influenciar, a tomada de decisão subsequente. Se as sensações de determinado evento são ruins, elas dissuadem da ação; se são boas, a encorajam.

O’Connor e Seymour (1995, p. 70), explicam como o processo de ancoragem acontece:

Primeiro, por repetição. Se vemos constantemente a cor vermelha associada ao perigo, ela se torna uma âncora. Temos então a aprendizagem simples: vermelho significa perigo. Em segundo lugar, e muito mais importante, é que se pode criar uma âncora instantaneamente, se a emoção for forte e o momento certo. A repetição só é necessária se não houver nenhum envolvimento emocional. Pense em sua época de escola (que por si só já é uma âncora poderosa), e lembre-se como era fácil aprender um assunto interessante e estimulante. No entanto aqueles que não lhe interessavam exigiam muita memorização. Quanto menos envolvimento emocional, mais repetições necessárias para estabelecer uma associação.

Mlodinow (2013, p. 211-212), assevera fazendo uma complementação que “Por causa dos processos subliminares, a fonte de nossos sentimentos costuma ser um mistério para nós, assim como os próprios sentimentos. Sentimos muitas coisas de que não temos ciência.”

Jung (1964, apud Mlodinow, 2013, p. 9, grifei), entende que “Há certos eventos que não percebemos de modo consciente; eles permanecem, por assim dizer, abaixo do limite da consciência. Eles aconteceram, mas foram absorvidos de maneira subliminar.”

Podemos entender que subliminar é o não dedicamos a atenção, o foco a concentração devida para o que está ocorrendo com o indivíduo. Um exemplo é o batimento cardíaco que, enquanto realizamos alguma tarefa no dia a dia, não lembramos que, concomitantemente, o coração continua pulsando. Caso venhamos a sentir um desconforto (dor), é que teremos a consciência que o nosso coração existe e está dentro de nós.

Ainda de acordo com O’Connor e Seymour (1996, p. 248), âncora é “qualquer estímulo associado a uma reação específica. As âncoras podem ocorrer naturalmente. Elas também podem ser criadas intencionalmente.”

Afinal, ao que podemos atribuir uma espécie de âncora “negativa” deixando assim a Polícia Militar no pensamento coletivo de forma que, mesmo realizando inúmeras boas ações diariamente, causa antagonismos com a população em geral?

Costumamos dizer em sala de aula que, no instante que as pessoas acionam o número de emergência, 190, ou solicitam os policiais militares quando estão em rondas ostensivas pelas cidades, o resultado final desse (des) encontro será a

Como protocolo operacional padrão, recomendamos que a equipe policial militar ao chegar no local do fato, retire as pessoas envolvidas para outra área próxima, fazendo com que elas se desloquem (mesmo que andem alguns passos apenas) para um ambiente “neutro”, diminuindo dessa forma, os estados emocionais anteriormente citados ou encontrados na cena inicial e com isso, potencializar a possibilidade de resolução de forma mais pacífica e amistosa.

Adotar a conduta de se identificar pelo nome, sem mencionar inicialmente o nível hierárquico ou função, cumprimentar as pessoas com um aperto de mão (quando a pandemia do Coronavírus encerrar e esse procedimento não for mais desaconselhado pelas autoridades de saúde), e, de algum modo abrir um sorriso, embora esteja usando a máscara de proteção, para ativar o neurônio espelho  das pessoas que estão envolvidas, acrescido de um tom de voz e gestos congruentes, muito provavelmente vão arrefecer, não resolver por completo, os estados emocionais já anteriormente mencionados.

Outra forma do estabelecimento de âncoras que as polícias militares adotam é o uso de símbolos, uniformes e distintivos empregados para designar as Organizações Policiais Militares (quarteis, grupos, etc.), conforme mostra as figuras abaixo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cada policial militar, vinte e quatro horas por dia, em serviço ou fora dele, é o que este autor chama de “âncora humana ambulante”, ou seja, onde quer que esteja e fazendo qualquer coisa, irá carregar a “âncora” da Corporação ou o vice-versa, a âncora da Corporação o precederá. Portanto, consideramos por demais necessário às policiais militares conhecerem mais das estratégias da Programação Neurolinguística, entre elas o processo de ancoragem, focando cada vez mais em aperfeiçoar e melhorar a interação com a população. Afinal, “A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta.”

1Tenente Coronel da Polícia Militar da Paraíba. Practitioner em Programação Neurolinguística. Autor do livro “Você Sabe com Quem Está Falando?” Usando a Programação Neurolinguística na Aplicação da Lei.

2Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/05/05/policiais-militares-fazem-parto- dentro-de-casa-de-gravida-na-zona-leste-de-sp.ghtml>. Acesso em: 30 jun. 2020.

3Disponível em: <https://agenciapara.com.br/noticia/20128/>. Acesso em: 30 jun. 2020

Referências

DILTS, Robert; EPSTEIN, Todd A. Aprendizagem Dinâmica 1. Tradução de Denise Maria Bolanho. São Paulo: Summus, 1999.

EAGLEMAN, David. Incógnito: as vidas secretas do cérebro. Tradução de Ryta Vinagre. Rio de Janeiro: Rocco, 2012.

LA ROSA, J. Psicologia e educação: o significado do aprender. Porto Alegre: EDiPUCR, 2003.

LONGIN, Pierre. Aprenda a Liderar com a Programação Neurolinguística. Tradução Heloísa Martins Costa. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1996.

MLODINOW, Leonard. Subliminar: como o inconsciente influencia nossas vidas. Tradução de Claudio Carina. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

O’CONNOR, Joseph. Manual de Programação Neurolinguística: um guia prático para alcançar resultados que você quer. Tradução de Carlos Henrique Trieschmann. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003.

O’ CONNOR, Joseph; SEYMOUR, John. Introdução a Programação Neurolinguística: como entender e influenciar as pessoas; Tradução de Heloísa Martins-Costa. São Paulo: Summus, 1995.

           . Treinando Com a PNL: recursos para administradores, instrutores e comunicadores. Tradução de Denise Maria Bolanho. São Paulo: Summus, 1996.

OLIVEIRA, Onivan Elias de. “Você sabe com quem está falando?” Usando a programação Neurolinguística na aplicação da lei. João Pessoa: Ideia, 2017.

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