Cangaço depois da morte de Lampião

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O Cangaço depois da morte de Lampião, ocorrida em 1938, continuou causando pavor na população no interior do nordeste, embora com menor intensidade. Na Paraíba, por exemplo, um bandido conhecido por Zé Luiz, comandando um grupo com cerca de 10 homens, causou terror na região do brejo, praticando assaltos e violentos homicídios de homens, mulheres e crianças.

        Uma das estratégias adotadas por esse grupo era obter informações sobre as ações da Polícia e assim evitar os confrontos diretos com ela. Porém quando isso não era possível se evitar, os bandidos buscavam fugir se embrenhando nos matagais em terremos de difícil acesso, e que eram bem conhecidos por eles. Situações como essa foram registradas diversas vezes.

        Uma das muitas barbaridades cometidas pelo Grupo de Zé Luiz foi o assassinato cruel de três jovens mulheres e o ferimento do pai delas, o Senhor Antônio Velho da Cruz, proprietário do Sítio Gameleira, na cidade de Ingá. Em seguida a propriedade foi saqueada pelos bandidos. Esse fato ocorreu em meados de setembro de 1942, e o terror da população que já era grande foi ampliado e se estendeu por outras regiões do Estado. O Interventor Rui Carneiro determinou que o Chefe de Polícia, o Dr. Manuel Morais adotasse medidas enérgicas para capturar o famigerado bandido e o esforço nesse sentido foi intensificado.

          No dia 2 de outubro daquele ano, em Barra de Santa Rosa, uma Patrulha da Polícia Comandada pelo Tenente João Faustino da Costa, prendeu o bandido conhecido por Jararaca, um temido integrante do grupo de Zé Luiz.  Com essa prisão, os demais bandidos de Zé Luiz deixaram o grupo temendo captura. No interrogatório, Jararaca forneceu dados que permitiram a montagem de piquetes na região por onde Zé Luiz trafegava.

Um dos possíveis pontos de passagem de Zé Luiz era uma estrada que dar acesso à zona rural de Lagoa Seca. Ali foi montado um piquete no dia 27 de outubro. No efetivo do piquete estavam o Dr. Ivaldo Falcone, Delegado de Ordem Social, o Capitão Brasil, o Tenente Mangueira e o Sargento Francisco Estevam de Andrade.

         Zé Luiz se aproximou da entrada da cidade e ao perceber o piquete se juntou com um grupo de ferreiros tentando ludibriar a Polícia, mas foi reconhecido. Ao ser abordado o bandido reagiu e no esforço para fugir, caiu da burra que montava e saiu correndo. Foi perseguido, mas, escapou. Pela forma como ele caiu da montaria e o modo como correu, cogitou-se a possibilidade dele ter ficado ferido, por bala ou da queda.

      No animal deixado pelo bandido foi encontrado um Rifle, um bornal cheio de balas e artigos roubados da Propriedade Gameleira, que ele havia saqueado dias antes.

      Passaram-se uns dias sem notícias do bandido. No dia 17 de novembro Zé Luiz, que estava escondido no lugar conhecido por Torre, Distrito de Campina Grande, procurou um cidadão que ali residia e lhe pediu para procurar um médico para tratar do seu braço que estava luxado. Ao invés disso, o homem comunicou o fato à Polícia.

      Com essa informação a Polícia resolveu agir com astúcia e mandou que o Tenente Faustino da Costa, disfarçado de médico e sem apoio de uma tropa, se dirigisse ao local indicado pelo informante, para efetuar a prisão do perverso bandido.

       No dia 18 de novembro, às oito horas da noite, o Tenente Faustino, montado a cavalo, vestido como se médico fosse, e conduzindo uma pasta usualmente portada por esses profissionais em ações desse tipo, acompanhado do informante foi ao local do esconderijo, uma área deserta em meio a um matagal, mas o bandido, astuciosamente lá não se encontrava.

    Quando o corajoso Tenente começou a sua retirada do local, Zé Luiz gritou de uma casa nas proximidades, mandando o médico entrar. Tomando por medo, o informante retirou-se apressado.

     Faustino entrou na casa e Zé Luiz estava sentado na cama com um braço na tipoia.  Faustino abriu a pasta, dela retirou um revolver e deu voz de prisão ao bandido. Zé Luiz, mesmo com a mobilidade reduzida, pulou da cama, sacou um revolver que conduzia à cinta e efetuou dois disparos que não acertaram Faustino. O único tiro do Oficial atingiu a testa do bandido. Era o fim do terror do brejo.

     O corpo foi conduzido para a Capital e ficou no necrotério onde foi identificado por muitas vítimas de assaltos e testemunhas de assassinatos.

        O Tenente João Faustino alcançou o Posto de Major no serviço ativo, e passou para a reserva  no Posto de  Tenente Coronel. Na  sua cidade,Teixeira, ele era conhecido por Dão Faustino.

     Esses fatos foram matéria de uma página inteira do Jornal A União, que teve como ilustração a foto abaixo:

 

                                                      Perfil do Capitão João Faustino da Costa

        João Faustino da Costa, filho de José Faustino da Silva e Mariana Faustino da Costa, nasceu no dia 23 de dezembro  de 1905,  na cidade de Teixeira e ingressou na Polícia Militar, como Soldado, no dia 23 de janeiro de 1921, portando com 16 anos de idade.

         Com era de baixa escolaridade Faustino frequentou compulsoriamente a Escola Venâncio Neiva, que funcionava no interior do Quartel e ministrava o curso de alfabetização para os policiais.  O Curso de Soldado foi concluído no dia 7 de março e Faustino passou a participar de diligências na área do brejo paraibano.

       Em 1922 ele ficou prestando serviço como Telefonista no Quartel do Gravatá, na Maciel Pinheiro, enquanto continuava frequentando a Escola Venâncio Neiva.

         De 1923 a 1927 o Soldado Faustino prestou serviço nos Destacamentos do Sertão, demorando mais tempo em Patos e Cajazeiras. Em janeiro de 1928 Faustino foi aprovado no Concurso de Cabo, sendo promovido no mesmo mês. Em seguida ele passou a ser Ordenança do Chefe de Polícia.  Em maio do mesmo ano ele foi promovido, por concurso à graduação de Terceiro Sargento, sendo designado para exercer as funções de Sargenteante.

        A partir de 1929 o Sargento Faustino foi nomeado Subdelegado das Cidades de Santa Luzia, Brejo do Cruz, São José da Lagoa Tapada, Salgado de São Felix, e Mogeiro. No dia 28 de fevereiro de 1930 ele foi promovido à graduação de Segundo Sargento.

          Por motivos que não constam nos registros, o Sargento Faustino foi excluído no início de 1931. Quando a Polícia Militar começou a mobilizar efetivo para enviar para as lutas contra os revolucionários de São Paulo, em 1932, Faustino se alistou no Batalhão de Voluntários e participou daqueles combates.

            Ao término das lutas, quando o Batalhão voltou, todos os seus integrantes foram excluídos, como previa a Lei que criou aquela Unidade Militar.

              Em janeiro de 1934 Faustino requereu seu retorno à Corporação, em pedido feito diretamente ao Governador, narrando inclusive sua participação nas lutas em São Paulo. O pedido foi deferido e Faustino voltou, porém como Soldados.  Era um recomeço da carreira.

           Como Soldado Faustino prestou serviço como Armeiro na Escola de Instrução.  Em outubro de 1934 ele foi promovido a Cabo e em janeiro do ano seguinte foi Terceiro Sargento.  Quando Gratuliano de Brito deixou o Governo, em 1935, fez consignar um elogio ao Sargento Faustino, ressaltando o seu espírito aguerrido.

         O Terceiro Sargento Faustino foi Subdelegado de Fagundes, Ingá, Cabaceiras e Queimadas, onde, em 1936, no sítio Cacimba, travou combate com o temido ladrão de cavalos conhecido por Eliseu Barbosa. Nessa refrega Faustino foi baleado e Eliseu foi a óbito.

        Em Fevereiro de 1938 Faustino foi promovido à graduação de Segundo Sargento e em maio do mesmo ano alcançou o Oficialato no posto de Segundo Tenente. Agora na condição de Oficial Faustino foi Delegado de Patos e Areia.

           Promovido ao posto de Primeiro Tenente em fevereiro de 1940, Faustino foi Ajudante Secretário do Primeiro Batalhão e Titular da Segunda Delegacia Distrital de João Pessoa.

           A partir de 1941 o Tenente Faustino foi Delegado de Umbuzeiro, Princesa (duas vezes), Araruna, Teixeira, Bananeiras, Guarabira, Patos (mais duas vezes), Bonito de Santa Fé, Cuité e Pilar.

          No dia 20 de novembro de 1942 o Tenente João Faustino foi designado pelo Chefe de Polícia para realizar a diligencia que foi narrada nesse artigo.

        Por força da legislação federal baixada em 1935 com carência de 5 anos para a sua aplicação,  os Oficiais das  Polícias Militares só seriam promovidos se fossem portadores de cursos especificados na Lei.  Por essa razão, em março de 1943, o Primeiro Tenente Faustino foi aprovado em uma seleção para o Curso de Aperfeiçoamento de Oficias, que foi realizado no segundo semestres daquele ano.

         Sempre que Faustino era exonerado de uma Delegacia e não era imediatamente nomeado ‘para outra, ele passava a exercer funções administrativas próprias de Oficiais Subalternos no Primeiro ou no Segundo Batalhão.

           Em agosto de 1945 Faustino foi promovido a Capitão e nesse posto foi Comandante Interino da Companhia de Bombeiros, Subcomandante do Segundo Batalhão, unidade em que também foi Comandante Interino.

          Durante seu tempo de serviço, Faustino foi elogiado 5 vezes pelos Comandantes da Corporação, uma pelo Chefe de Polícia e uma pelo Governador.

     Casado com Dona Maria das Neves Araújo, em 13 de julho de 1929, Faustino comunicou à administração da Polícia Militar o nascimento do seu filho João Faustino Filho, em 1º de setembro de 1943.

     Depois de 30 anos de bons serviços prestados à sociedade paraibana, o Capitão João Faustino da Costa  passou para a reserva no Posto de  Major, no dia  30 de janeiro de 1951, e voltou a residir em Teixeira, sua trera natal, onde era conhecido por Dão Faustino

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