O Museu da Polícia Militar da Paraíba

Compartilhe!

 

O Museu da Polícia Militar da Paraíba foi inaugurado no dia 27 de junho de 2022.  Situado no Parque Solon de Lucena, no Centro de João Pessoa, esse órgão, cuja criação representa um fato marcante na vida dessa Corporação, terá por função resgatar, preservar e, principalmente, divulgar os acontecimentos mais relevantes da sua história.

Para instalação desse Museu foi formalmente constituída uma Comissão composta de um grupo de pessoas versadas em diferentes temas relacionados com a história de Polícia Militar da Paraíba, ou com habilidades técnicas aplicadas à confecção das peças produzidas e pelo professor Francisco Pereira, especialista em montagens de estabelecimentos dessa natureza.

Integraram essa Comissão: Coronel Valber Rufino Tavares, Tenente Coronel Arnaldo Sobrinho de Morais, Capitão Yane Higino de Medeiros, Tenente Roberes Douglas Rodrigues,  Tenente Edson Maria Gomes, Sargento Hermeson Pedro Soares de Oliveira e os Civis Edson Almeida Macedo, servidor civil à disposição do Arquivo  Geral da PM e os Civis voluntários pesquisadores da Segunda Guerra Mundial Odon da Silva Neto e George  Henrique de Vasconcelos. Foi um grupo coeso, comprometido, entusiasmado e competente, que eu tive a honra de presidir.

 
 

Para melhor se compreender a importância da criação e implantação desse Museu é necessário contextualizá-lo no conjunto de fatos que lhe deram origem, ou seja, o lento processo de divulgação da história da Corporação. São esses fatos que passamos a abordar, de forma sumária.

Inicialmente registramos a existência de 3 obras que podemos  considerar como percussoras da história escrita da Polícia Militar da Paraíba: João Pessoa e a Revolução de 1930, de Ademar Vidal; A Campanha de Princesa, de João Lélis e Soldados da Paraíba, de Guilherme Falcone.

Ademar Vidal, que era Secretário do Governo de João Pessoa, retrata com riqueza de detalhes os fatos de 1930 na Paraíba, enfatizando o movimento rebelde de Princesa, e os fatos que resultaram no assassinato de João Pessoa, e no estopim da revolução ocorrida naquele ano.  Ao longo dessa obra são registrados fatos importantes referentes à Força Pública do Estado, que teve um relevante papel naqueles acontecimentos. Lançada no início da década de 1930, a obra contém 539 páginas.

   

 Soldados da Paraíba é a obra de Guilherme Falcone, que era Major da Força Pública e comandou o Batalhão Provisório que participou da luta contra a revolução paulista de 1932. Nesse trabalho Falcone descreve detalhadamente todas as ações dessa tropa, que lutou no setor sul de São Paulo, e os fatos envolvendo o outro Batalhão da Força Pública, que atuou no setor norte daquele estado. É uma obra valiosa  , quer pelo conteúdo quer pela forma. É uma edição de 1935.

   

Na obra A campanha de Princesa, João Lélis registra todos os fatos relativos à participação da Força Pública naqueles acontecimentos. O autor era repórter do Jornal a União, e durante todo desenrolar das lutas acompanhou a Coluna Leste, principal tropa da Força Pública naquelas lutas.  Com muita mestria, João Lélis narra os detalhes de cada combate, a forma de atuação do grupo inimigo, as disponibilidades de meios materiais dos combatentes, e os aspectos políticos que envolviam a questão.

Em 1970 a Inspetoria das Polícias Militares (IGPM), criada no ano anterior pelo Decreto-Lei 667, percebeu que algumas dessas Corporações não tinham um registro formal de sua história e por esse motivo recomendou que cada uma delas procedesse a um levantamento sobre os fatos mais importantes da sua existência.

Na Paraíba, o Padre Eurivaldo Caldas Tavares, que na época era Capitão Capelão da Polícia Militar, foi designado para essa tarefa.  Inicialmente foi feito um levantamento sobre os períodos de cada Comando da Corporação com a finalidade de se criar uma Galeria de Comandantes, o que é obrigatória em todas as Unidades das Forças Armadas.

Como Eurivaldo só conseguiu fotos dos Comandantes a partir de 1912, a Galeria foi montada com os comandantes desde então, sendo inaugurada no dia 10 de outubro de 1970.  

Em 1972, Ademar Naziazene, Coronel Reformada da PMPB, lançou um livro com o título: Polícia Militar da Paraíba: Sua História.  Quando esse trabalho foi escrito, seu autor era Oficial de Gabinete do Senador Rui Carneiro, portando estava longe das fontes primárias. Valeu-se aquele Oficial da sua privilegiada memória, narrando fatos por ele vivenciados durante seu tempo de serviço de 1926 a 1956.

Ele teve importante participação nas lutas em Princesa, em 1930, e em São Paulo, em 1932.Mesmo abordando os temas com pouca profundida e sem contextualizá-los e deixando de enfocar outros acontecimentos importantes, a obra representa o começo da sistematização da história escrita da Corporação.

 

Depois da implantação da Galeria dos Comandantes, o Padre Eurivaldo, que era vinculado ao Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, continuou suas pesquisas com muita competência e dedicação.

No início desse trabalho, o Padre Eurivaldo descobriu o valioso documento que criou a Polícia Militar de Paraíba.  Foi a Ata do Conselho Provincial do dia 3 de fevereiro de 1832.

Até então a Polícia Militar da Paraíba, desde 1935, comemorava o dia 10 de outubro como data de sua criação, o que teria ocorrido em 1831. Esse equívoco se deu por uma interpretação dada a uma informação constante do livro Notas e data para a História da Paraíba, de Irineu Pinto.

De posse de substancial quantidade de documentos, e uma circunstanciada exposição de motivos, o Padre Eurivado propôs ao Comandante Geral que a Corporação passasse a adotar o dia 3 de fevereiro como data da sua criação.

A proposta foi encaminhada ao Instituto Histórico, que nomeou uma comissão para avalia-la, e dias depois, deu parecer favorável, o que foi acatado pelo Comandante, Coronel Adolpho Fernandes de Lira Maia, Oficial do Exército, A partir de 1975 a Corporação comemora o dia 3 de fevereiro como data da sua criação.

O Padre Eurivaldo deu continuidade à sua árdua pesquisa, copilando e comentado volumosa quantidade de preciosos documentos que se relacionavam com a história da Polícia Militar, o que resultou na publicação do Livro “Século e Meio de Bravura e Heroísmo. Volume I”.  Essa obra, com 698 páginas, alcança o período de 1832 a 1896. A pretensão de Eurivaldo era proceder ao levantamento até 1982, quando a Corporação completou 150 anos de criação. Dai o título “Século e meio de Bravura e heroísmos”.   Infelizmente o volume II não foi concluído.

Essa volumosa obra do Padre Eurivaldo Caldas, é, como ele mesmo definia, uma fonte de pesquisa, sobretudo sobre os fatos compreendidos no período por ele enfocado.  É, portanto,  uma obra destinada a pesquisadores.

Em 3 de fevereiro de 1982, quando a Polícia Militar da Paraíba completou 150 anos de criação, foram realizados diversos eventos para marcar a passagem da data. Entre esses eventos constou um concurso literário destinado a premiar um texto sobre a História da Corporação. Foram apresentados 3 trabalhos, mas a comissão julgadora entendeu que nenhum deles merecia premiação.

Esse fato chamou a minha atenção. Parecia que a história da Corporação, mesmo depois da substanciosa obra do Padre Eurivaldo, não despertava interesse entre os  pesquisadores e intelectuais.

Comecei então a pesquisar nos arquivos da PM e em obras que abordavam assuntos relacionados com a história da Corporação, além de temas específicos da história da Paraíba e do Brasil, na busca de contextualizar alguns fatos relevantes da vida dessa instituição. Mesmo sem uma visão geral, fomos fazendo os registros e aos pouco redigindo textos sobre fatos específicos.

Em 1991 teve início o Curso de Formação de Oficiais realizado na Paraíba e ao se estabelecer o currículo, fazendo uma adaptação ao que ocorria em outras Corporações, foi incluída a matéria História da Polícia Militar da Paraíba. Fui então designado para ministrar essa matéria, que depois foi estendida aos cursos de formação de praças. Fiquei nessa atividade por 10 anos, enquanto dava continuidade às pesquisas e fui elaborando apostilhas sobre cada capítulo do programa. Com muito esforço, mesmo com escassos resultados, começamos, desde o início das atividades como instrutor da matéria, a divulgar a história da Corporação.

Assim, muitos integrantes da Corporação conheciam meu interesse pelo tema. Nesse contexto, quando o Coronel Américo José Estrela Uchôa era o Comandante Geral, foi criado um Museu da Polícia Militar (em 1997) e eu, que estava no Comando do 2º Batalhão, fui de lá exonerado para dirigir esse órgão. Mas como não existia o mínimo de condições materiais para se iniciar esse trabalho, nada foi possível realizar.

Pouco depois, mesmo com dificuldades, Edson Almeida Macedo servidor civil à disposição do Polícia Militar desde o ano 2000 e que presta serviço desde então no arquivo geral da Corporação e é portador de habilidade em organização de arquivo e museu, começou a fazer tombamento de material que poderia vir a ser útil na instalação futura de um Museu. Grande parte desse acervo tombado por Edson hoje faz parte do Museu.

No ano 2000, quando eu Comandava o Centro de Ensino da Polícia Militar, as apostilhas que eu utilizava nos cursos foram transformadas em um livreto, com 164 páginas, a que denominamos de “A briosa: A História da Polícia Militar da Paraíba”. Esse trabalho que foi confeccionado nas impressoras do Centro de Ensino, e por essa razão tem um aspecto artesanal, foi lançado no Auditório do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, no dia 2 de fevereiro de 2000, durante as comemorações do aniversário da Corporação e contou com a presença de ilustres figuras do mundo intelectual da cidade. Naquela ocasião fiz uma exposição de todo o conteúdo do livro.

Foi mais uma forma de divulgar a história da Corporação junto aos historiadores do nosso Estado. Pouco depois recebi correspondência de alguns integrantes do Instituto Histórico enaltecendo o trabalho e incentivando a sua continuidade.

Ainda no ano 2000, quando se comemorava os 500 anos do descobrimento do Brasil, o Jornal A União editou um livro contendo artigos de diversos autores enfocando aspectos da história de Paraíba, trabalho esse coordenado pelo Jornalista Nelson Coelho. Nessa obra, intitulada “A Paraíba nos 500 anos do Brasil” foi publicado um artigo nosso em que sintetizamos a história da Polícia Militar da Paraíba. Mais um espaço ocupado para divulgar a nossa história.

No início de 2003 passei para a reserva remunerada, mas continuei as pesquisas. Agora com mais tempo, fui ampliando o conteúdo de cada tema. Nas busca de publicar os resultados das novas pesquisas e dar continuidade à divulgação dos feitos históricos da PM, criei em setembro de 2012 um blog, onde já publicamos 380 textos.

No decorrer de 2009 e 2010, publiquei 77 colunas semanais sobre a história da Polícia Militar da Paraíba, no Jornal A União, na época dirigido pelo Jornalista Nelson Coelho. Foi mais um espaço ocupado para divulgar a história da Corporação.

Ainda objetivando divulgar a história dessa Corporação, realizamos palestras nos Batalhões de Campina Grande, Patos e Guarabira, a convite dos respectivos Comandantes,

A Lei de organização básica da PMPB de 2008 prevê a existência de um Museu, e por esse motivo, em 2013 o Coronel Euller Chaves, Comandante Geral, resolveu iniciar uma espécie de núcleo de um Museu, instalando um memorial no hall de entrada do Quartel do Comando Geral.

Por essa razão fui convidado pelo Comandante para fazer uma nova edição do Livro a briosa. Juntamos todo material das pesquisas até então realizadas e fizemos uma nova edição ampliada, agora com 295 páginas, bem editada pela gráfica A União. Foram editados mil exemplares. A PM pagou 500 e eu paguei 500. Os meus foram vendidos a preço de custo. Restam poucos. O nosso blog, que apresentava dificuldade de acesso e pesquisa, foi transformado em site em 2019, mas continuou com o endereço abriosa.com.br. Ainda com a finalidade de dar visibilidade à história da PM criei um canal no Youtube, em junho de 2019, onde publico vídeos sobre temas relacionados com a história da PMPB.  Registro, por oportuno, que não sou remunerado em nenhuma dessas atividades.

Assim, de forma lenta e gradual a importância da história da corporação foi ganhando corpo ao longo desses 52 anos, e nesse contexto a ideia de instalação do Museu se fortaleceu e, enfim, ai está como mais um valioso instrumento para divulgar a história da nossa briosa Polícia Militar da Paraíba.

  O livro “A briosa: a história da Polícia Militar da Paraíba” foi lançado no Clube dos Oficiais.   Síntese histórica da Policia Militar da Paraíba

Compartilhe!


Deixe um comentário

2 Comentários em "O Museu da Polícia Militar da Paraíba"

Notificação de
avatar
Ordenar por:   Recentes | Antigos | Mais Votados
Ugo Bezerra
Visitante

O Museu da PM é a coroação do esforço de todos os que se preocupam em preservar os valores históricos de sua profissão, em especial do Cel. João Batista de Lima, grande guardião do legado da Briosa!