Acima de tudo e abaixo de Deus

Compartilhe!

                Acima de tudo e abaixo de Deus é um artigo de autoria do Tenente Coronel Onivan Elias, do serviço ativo da PM/PB.  Nele o autor expressa sua preocupação  com a falta de atenção dos Governantes para com um dos problemas mais sérios vivenciados pelos integrantes dos órgãos de segurança pública, que é a saúde física e mental desses profissionais, em particular dos policiais militares.

        Demonstrando, de forma sintética, os avanços  materiais e técnicos que esses serviços vêm alcançado ao longo das  últimas décadas, Onivan explicita o grande descaso que ainda se tem em relação a saúde desses bravos servidores. Para suplantar essas dificuldades, menciona Onivan de maneira implícita, muitos desses agentes de segurança vêm, talvez de forma inconsciente,  se valendo  de resquícios  dos condicionamentos  obtidos nas suas formações, e deles retiram forças na tentativa de suplantar as agruras que seus cotidianos lhes causam.

     Diante do quadro traçado, o autor do artigo  assume, de forma irônica, uma postura de pessimismo que pode ser traduzido  como um  alerta, não só para os governantes, mas também para  os próprios policias, que, por vezes, não têm consciência da extensão do problema.

        A inquietação  de Onivan com esse tema  já lhe fez  realizar detalhadas pesquisas, levantando números  preocupantes sobre a perspectiva de vida dos policiais militares, em particular dos paraibanos.  Nesse espaço já publicamos alguns desses dados dessas pesquisas.

          Por entender pertinentes com aos temas abordados nesse site,  publicamos na integra o artigo desse valoroso pesquisador.

“Acima de tudo e abaixo de Deus”

Onivan Elias de Oliveira – Ten Cel PMPB Em 15/07/2019 No momento em que assistia ontem (14/07), o programa Globonews Especial “A Saúde Mental da Polícia no Brasil”, me coloquei em algumas reflexões. Entre elas, refleti o quanto as polícias militares, em particular, agregaram de expertise e ferramentas para o trabalho nos últimos 30 anos.

          Nesse sentido, conhecemos e praticamos Explosive Tactical Entry, Close Quarter Battle, Car Combat, High Risk Patrol, Low Light Combat, Moçambique Drill, Speed Rock, Hostage Negotiation, entre outros, além de possuirmos coletes, capacetes e escudos balísticos, computadores, helicópteros, drones, bodycam, viaturas blindadas e com ar condicionado, enfim, muita coisa bacana em inglês e português. Usando as palavras do Firearms Coaching & Instructor Cap PMPB Álvaro “Advanced is the basics well done” (o avançado é o básico bem feito, em tradução livre) e reforçada por um acrônimo usado em treinamentos policiais chamado de K.I.S.S (Keep It Simple Stupid, ou seja, “faça as coisas sem muganga cabra da peste!, em tradução para o sousense uma cidade do interior da Paraíba onde o autor é nascido), constata-se que as coisas SIMPLES e BEM FEITAS podem trazer resultados robustos.

       Aprendemos ainda a gritar em alto e bom som com o queixo erguido, o olhar para o céu, peito estufado de alegria e orgulho, além de punhos fechados: “Caveira!”, “Choque!”, “Cavalaria!”, “Força Tática!”, “ROTAM!”, “Sertão!”, “Ações Táticas!”. No entanto, não aprendemos ou conseguimos gritar nossos sofrimentos e angústias mesmo que “silenciosamente.” Afinal, “estamos acima de tudo e abaixo de Deus.”

     Avançamos ainda no monitoramento e acompanhamento constante dos NÚMEROS de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI) e Crimes Violentos Patrimoniais (CVP), com reuniões semanais e mensais em vários estados tendo as presenças dos Governadores e representantes de outras instituições do Sistema de Justiça Criminal e Defesa Social. Há um RÍGIDO monitoramento desses NÚMEROS e AMPLA DIVULGAÇÃO, principalmente quando favoráveis para a gestão de plantão.

       Num século talvez bem distante deste, teremos o MESMO ACOMPANHAMENTO e MONITORAMENTO dos NÚMEROS com a EXECUÇÃO PERMANENTE de ações e operações quando o assunto for SAÚDE do profissional de segurança pública, com destaque para os policiais militares. Sem contar com a AMPLA DIVULGAÇÃO dos gráficos e planilhas. Num século talvez bem distante deste iremos enxergar que o policial “doente” produz menos ou quase nada para proteger à população. Mas isso, será num século talvez bem distante deste, talvez.

       Fazendo uso das palavras do Maj PMERJ Leonardo Novo, quando de sua palestra no 1º Simpósio de Vitimização Policial, promovido pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro em 13/05/2019, “Chegará o dia em que estarei cansado, minha vontade será de ficar na cama e minha força será pouca. Mas todos os dias quando acordo, digo: HOJE NÃO É ESSE DIA!”

       Aprendemos a nos COMUNICAR e “dialogar” por Skype, Smartphones, IPad, IPhone, Notebook, Tablet e afins. Aprendemos a usar redes sociais diversas para COMUNICAR e “dialogar” com pessoas de várias partes do planeta e distantes. Aprendemos a viajar para a lua. Aprendemos muito como homo sapiens! Mas, me parece que ainda precisamos aprender algo de HUMANO em nós mesmos. Nós, policiais e pacificadores sociais, do Sistema de Justiça Criminal e Defesa Social, num século talvez bem distante deste, aprenderemos que também somos HUMANOS e DEVEMOS CHORAR e falar de nossas inquietudes SEM RECEIOS. É como penso.

       Finalmente, costumo dizer em aulas e palestras: Quem paga a conta, escolhe o cardápio. Contem conosco para as boas práticas (até o dia em que tiver saúde mental e física).

Veja também  Média de vida dos policiais militares da Paraíba falecidos em 2017 foi de 68,7 anos  

Compartilhe!


Deixe um comentário

2 Comentários em "  Acima de tudo e abaixo de Deus"

Notificação de
avatar
Ordenar por:   Recentes | Antigos | Mais Votados
Onivan Elias de Oliveira
Visitante

Comandante,
Fico grato pela cirúrgica interpretação dos nossos sentimentos. De fato, estou inquieto e “PRÉ-ocupado” com a saúde dos nossos pacificadores sociais brasileiros, dada a baixa expectativa de vida quando comparada com a população em geral. Isso sem levar em conta a “saúde” mental. Conte conosco para as boas práticas.