A atuação da PM da Paraíba no movimento estudantil de abril de 1968 em João Pessoa

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  Os dias seguintes
        No dia seguinte, 5 de abril, uma sexta-feira, houve a procissão do Senhor dos Passos, que percorre ruas do centro da cidade durante a tarde. Os estudantes passaram o dia no CEU fazendo discursos inflamados, enquanto a Policia Militar se mantinha de prontidão no Quartel. Depois das dezoito horas, quando a procissão já tinha sido encerrada os estudantes, mesmo debaixo de chuva, se dirigiram ao Ponto de Cem Reis, onde fizeram manifestações e em seguida rumaram em direção ao Palácio do Governo. Temendo uma invasão ao Palácio, os policiais que ali se achavam de serviço fizeram disparos para o alto o que fez os manifestantes se dispersar e seguir para o CEU, onde os discursos continuaram.
Diante desse quadro a PM recebeu ordem para desalojar os estudantes do CEU, o que foi feito, ainda naquela noite, com uso da força, mas sem registro de feridos. A partir de então a PM ocupou o CEU. Com a ocupação daquele espaço pela PM, o Reitor da UFPB, através do Restaurante Universitário, passou a oferecer alimentação aos estudantes que antes faziam refeições no CEU. Para esse fim foram colocados ônibus a disposição dos estudantes e que partiam do Parque Solon de Lucena. O Departamento Central dos Estudantes (DCE) passou então a ser o ponto de reunião dos estudantes para organizar as manifestações.
Na manhã do sábado, dia 6 de abril, a polícia encontrou e apreendeu, nas proximidades de Igreja de São Francisco, cerca de cem pedaços de vergalhões de ferro, do tipo usado em construções, medindo aproximadamente um metro cada. Segundo um vigia que trabalhava naquelas proximidades, esse material teria sido ali deixado por um grupo de estudantes, que o havia trazido da Cidade Universitária, onde várias construções estavam em andamento.
         Na apuração preliminar desses fatos a polícia foi informada que os estudantes estavam fazendo coquetel molotofe e se armando com armas curtas para enfrentar a polícia e retomar o CEU. Uma foto das barras de ferro apreendidas foi publicada nos jornais locais. Com essa descoberta a polícia recebeu ordem para montar barreiras nas vias de acesso à Cidade Universitária para fazer buscas pessoais nos estudantes que de lá saiam. Essa operação da PM teve início depois da dezesseis horas daquele dia.
Barras de ferro apreendidas

       Ainda como medida preventiva a PM reforçou a Guarda do Quartel e interditou o trânsito nas suas proximidades. Em entrevista conjunta à imprensa o Comandante da PM, o Secretário de Segurança, o Delegado do DOPS e o Assistente Jurídico da PM informaram que essa medida era apenas preventiva e defensiva, e que seria suspensa tão logo a situação se normalizasse.

              Ainda na tarde daquele dia o Comandante da PM e o Secretário de Segurança passaram em um veículo em frente ao Cine Municipal, onde atualmente existe uma Igreja Evangélica na esquina da Rua Visconde de Pelotas com a Rua Barão do Habyai, e foram vaiados por estudantes que se achavam no local. Um grupo de policiais que estava em frente à DOPSE, na Praça Rio Branco, reagiu e dispersou os estudantes à força deixando diversas pessoas feridas, inclusive algumas que entravam ou saiam do cinema.

  Nesse confronto um Soldado foi ferido na face e foram presos os estudantes: Josué Leonardo Diniz, Luiz Gonzaga Passos e Osmar Marques de Almeida. Pouco depois desses incidentes, no Parque Solon de Lucena, onde a polícia ocupava o CEU, fazendo uso inclusive de barricadas, o Advogado Trabalhistas José Gomes de Lima quis forçar a passagem no local ameaçando passar com seu veículo por cima dos policiais, e foi detido e conduzido para o DOPSE, onde foi autuada e passou uns dias em prisão especial no Quartel da PM. Os dois dias seguintes transcorreram sem manifestações.  

No dia 8 de abril, em entrevistas à imprensa, o representante dos estudantes anunciou uma trégua e a cidade voltou ao clima de tranquilidade. A barreira policial montada nos acessos da Cidade Universitária foi suspensa e o CEU foi devolvido os estudantes. Durante esses acontecimentos o Coronel Ozanan de Lima Barros, o Coronel João Gadelha de Melo e o Major Brigadeiro, Firmino Ayres, Secretário de Segurança, afirmaram à imprensa, em diversas oportunidades, que a polícia só estava agindo por ordem do Governador. (Matéria reproduzida abaixo)

Por outro lado o Governo emitiu duas notas se pronunciando sobre os fatos, que foram publicadas na imprensa e que aqui republicamos a seguir. Durante esses acontecimentos, como em muitos outros registrados anteriormente, ficou constatada a precariedade de meios e dos treinamentos da polícia para atuar em situações daquela natureza.

Possivelmente por essa razão, no dia 10 de junho de 1968 o Governador João Agripino recebeu a visita do Coordenador do Ponto Quatro (Um programa da USAID destinado a apoiar as polícias e treinar policiais de todo continente sul-americano), o Senhor Theodore Byown que se comprometeu a fornecer material de apoio operacional para as Polícias Militar e Civil. Mas esse é tema para uma próxima postagem.

      Os Jornais O Norte e Correio de Paraíba publicaram, em diversas edições,  amplas matérias  sobre esses fatos, das quais reproduzimos alguns textos e fotos.

  Movimentos de Outubro de 1968 Findos os movimentos de abril de 1968, os ânimos dos estudantes serenaram por alguns meses, mas em outubro do mesmo ano ocorreram novas manifestações e dessa vez ainda mais violentos, e também em solidariedade aos movimentos estudantis reprimidos nos sul do país.  

No dia  12 de outubro ocorreu em São Paulo a prisão de cerca de mil estudantes que participavam do XXX Congresso Nacional da UNE (União Nacional dos Estudantes), inclusive José Dirceu, que dirigia uma das entidades estudantis.  Esse fato deu margem à manifestações em todos os estados do país, onde foram reprimidas com energia, em particular na Guanabara e São Paulo onde houve até morte de estudantes.

Entre esses estudantes estavam alguns representantes  da Paraíba, entre eles o filho do Professor da UFPB Otacílio Queiroz, que depois foi Deputado Federal. No dia 17 de outubro os estudantes da UFPB declararam  greve por três dias em protesto às prisões dos seus colegas.  O Reitor, Guilhardo Martins, suspendeu as aulas na UFPB como forma de acalmar os ânimos.

No dia 23 de outubro houve uma manifestação estudantil que partiu da Igreja Catedral em direção ao Ponto de Cem Reis, onde ocorreu um confronto com a Polícia.  Nessa ocasião um estudante e o Professor Otacílio Queiroz ficaram feridos e o movimentos foi dispersado.  Participaram dessa operação   cerca de 300 policiais.

 

No dia seguinte, 24 de outubro,  o movimento foi o mais violento já ocorrido nesta cidade. Liderado por um estudante vindo de Minas Gerais, um grupo investiu contra os policiais que faziam policiamento no Ponto de Cem Réis de queimaram uma Viatura da PM. Logo após esse fato chegou ao local uma tropa de choque das PM e os estudantes foram dispersados e em seguida uma tropa do Exército ocupou o Ponto de Cem Réis.

O mesmo estudante mineiro insuflou um grupo de colegas a invadir o Quartel da PM, mas foi dissuadido pela presença de um forte contingente policial. Esse fato levou o Comando da Tropa Federal a reforçar a segurança nos Quartéis.

Movimentos de abril 
MOVIMENTOS DE OUTUBRO
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