Tráfico de drogas: Aliciamento de jovens

Compartilhe!


      O Tráfico de drogas  se alimenta do aliciamento de jovens, o que  é notório e inconteste. E  quando tratamos de questões relacionadas com a violência, nos dias atuais, a ficção e a realidade se entrelaçam com tanta frequência e intensidade que, por vezes, temos dificuldades em distingui-las. O relato que passamos a fazer ilustra como o maldito tráfego de drogas está capturando os jovens em nossas escolas, de uma forma real, mas que parece ficção.
          No primeiro dia da aula do semestre a professora ficou admirada com o nível de aproveitamento que aquele aluno apresentava. O texto estudado procurava despertar a atenção dos alunos para o crescimento da violência naquela comunidade.  Aparecida estava ensinando naquele Colégio há cinco anos e ainda não tinha visto alguém com tanta capacidade crítica.  Na opinião do aluno a melhor forma de se reduzir a criminalidade nas preferias da cidade, sobretudo os homicídios contra jovens e os crimes relacionados ao uso e tráfico de drogas, era o Governo investir em políticas públicas, dando emprego, educação, saúde, transporte e lazer para os jovens. O vocabulário, a facilidade de expressão, a pertinência dos argumentos e a objetividade do aluno impressionaram a jovem e entusiasmada professora.  O fato foi objeto de muitos comentários na sala dos professores, onde foram relatadas outras boas participações de Raminho, como o aluno era conhecido.
           Loiro, magro, alto, cabelo encaracolado, Raminho tinha um porte físico que lhe fazia parecer ter mais idade do que seus dezesseis anos. Mas as ralas penugens do bigode que começavam a surgir lhe conferiam a aparência de menino. Estava naquela Escola há três anos e sempre tirava boas notas. Dona Zenir, a sua mãe, era separada do marido, trabalhava em uma sapataria no centro da cidade e participava de todas as reuniões de pais no Colégio onde ficava muito orgulhosa das alusões que os professores faziam sobre seu filho.
         Mesmo sem ter muita habilidade para a prática de futebol, Raminho integrava a equipe da sua classe. Na quadra, nos corredores e na pracinha em frente ao Colégio ele estava sempre rodeado de amigos, e algumas namoradinhas, atraídas pelo seu porte físico e pela forma sempre bem comportada de se vestir. Quando Raminho estava na Pracinha, de vez em quando apareciam dois jovens, em uma moto, que não eram alunos do Colégio. As visitas e as conversas desses rapazes com Raminho foram se tornando mais frequente.
         Aproximava-se o término do campeonato, a gincana cultural e as provas finais.
         Raminho começou a faltar aulas ou chegar atrasado. Nas poucas aulas que assistia se mostrava apático. Os seus cabelos, antes bem cuidados, estavam em desalinho. As roupas já não eram tão bem cuidadas. Nos intervalos de aulas ficava isolado em um canto. As suas notas começaram a cair. Essa situação foi notada por todos do Colégio. Na reunião dos professores, o assunto foi discutido. Raminho foi chamado para dar explicações. Foi uma decepção geral. Ele não era o mesmo. Nada explicou, e se sentiu perseguido e descriminado.  Acabou agredindo verbalmente a todos. Dona Zenir foi procurada e chegou ao Colégio chorando. Também tinha notado a mudança no comportamento de Raminho e não conseguia uma explicação.
        No dia do jogo decisivo do campeonato interno do Colégio, uma sexta-feira, Raminho não compareceu. Como ele não fazia falta ao time, pelo seu baixo nível técnico, a turma não se incomodou. Na semana seguinte foi realizada a gincana.  A Turma “b” da 8ª série contava com ele para as tarefas que exigiam conhecimentos gerais. Ele não apareceu. Os amigos e os professores começaram a se preocupar. No reinicio das aulas, Dona Zenir, no seu horário de almoço, compareceu ao Colégio informando que fazia oito dias que Raminho tinha desaparecido. Já preocupados com esse fato, professores, funcionários e muitos alunos foram para a Diretoria ouvir o relato de dona Zenir.
       Naquele momento um aparelho de TV existente na sala, apresentava o noticiário policial. Uma manchete provocou um choque em todos que estavam no local. “Encontrado corpo de jovem desaparecido”.  A cena foi chocante. Mesmo com o rosto encoberto por uma tarja, todos reconheceram o corpo do rapaz.  O nefasto tráfico de drogas tinha consumido a vida de mais um jovem.
Veja também

Compartilhe!


Deixe um comentário

Seja o Primeiro a Comentar!

Notificação de
avatar