Reflexos da formação militar na vida do Presidente João Pessoa

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 Os reflexos da formação militar na vida do Presidente João Pessoa podem ser observados em diversos aspectos da sua trajetória como magistrado e como político.  Nas suas atitudes  austeras com relação à coisa pública, no seu caráter disciplinado,  nas suas ligações afetuosas com os militares que lhe prestavam assessoria e até mesmo em sua postura física,  detectamos sinais de condicionamento próprios das pessoas que passam pela formação militar.
        Anualmente, no dia 26 de julho, são prestadas homenagens a um dos mais ilustres paraibanos: João Pessoa Cavalcante de Albuquerque, Presidente da Paraíba, que era a denominação de Governador na época.  Nessas ocasiões sempre surgem discussões em torno dos fatos que resultaram na morte desse homem público, e dos méritos que lhe são atribuídos. Muito se tem publicado sobre a vida dessa figura e em particular da sua atuação como Chefe de Estado, assim como da conjuntura política da sua época. Contudo, a formação militar do jovem João Pessoa, fato que por certo muito contribuiu para forjar sua personalidade, é um aspecto da sua vida que tem sido pouco evidenciado.
      João Pessoa nasceu em 24 de janeiro de 1878, na cidade de Umbuzeiro e em 1890, portando com 12 anos de idade, iniciou o curso clássico, equivalente ao ensino médio atual, no Liceu Paraibano. Ao terminar esse curso, em 1894, ele assentou praça como soldado voluntário no 27º Batalhão de Caçadores, Unidade do Exército que era sediada na capital paraibana. Nessa situação o Soldado Pessoa permaneceu até 1896, quando ingressou na Escola Militar em Realengo, no Rio de Janeiro, onde pretendia fazer o Curso de Formação de Oficiais do Exército.  No início de 1897, quando o Cadete João Pessoa iria iniciar o segundo ano do curso, ocorreu uma rebelião em Quartéis do Exército, no Rio de Janeiro, na qual alguns cadetes tiveram participação.  Independente de uma apuração mais profunda que pudesse identificar o grau de envolvimento da cada cadete, todos que tinham iniciado o curso no ano anterior, inclusive João Pessoa, foram expulsos e degredados para a cidade de Belém do Pará.  Em junho de 1897, João Pessoa ingressou outra vez no Exército, como Soldado, no Batalhão de Artilharia de Posição, sediado na cidade de Belém. Nessa nova condição de soldado, ele permaneceu até abril de 1898, quando foi licenciado por incapacidade física.
       Anos depois, em 1910, João Pessoa ingressou na Justiça Militar da União. Seguindo a carreira no magistério, ele chegou a Ministro do Superior Tribunal Militar, onde permaneceu até 1928, situação em que, por certo, teve oportunidade de desenvolver seu espírito militar.  Esses fatos demonstram a obstinação de João Pessoa em fazer carreira militar. Foram mais de dois anos como soldado, mais de um como cadete e dezoito como Ministro do Tribunal Militar.
       Em qualquer curso de formação militar, de praça ou de oficial, nos primeiros dias são desenvolvidas atividades destinadas a criar nos alunos o necessário condicionamento para absorver o intenso rigor disciplinar a que serão submetidos ao longo da carreira.   Normalmente nessas situações os alunos que apresentam uma maior aptidão para a vida militar conseguem se adaptar com maior facilidade o que faz com que os valores por eles introjetados nesse período tenham uma repercussão maior nas suas vidas.  A insistência de João Pessoa em seguir a vida militar, mesmo depois de ter sido expulso do Exército e de uma forma que ele considerava injusta, é indício de que ele tinha aptidão para o convívio com a disciplina. É, pois, possível que essas experiências tenham marcado muito sua vida.
        Portanto, é natural que essa formação militar de João Pessoa, mesmo que de forma tumultuada, tenha contribuído para o desenvolvimento da sua personalidade, o que pode explicar parte da forma austera como governou o Estado, a rejeição que ele fazia a movimentos revolucionários, a discordância com a política adotada pelo Governo Federal, e a sua intransigência com os atos de desordem praticados por grupos armados a mando do Deputado José Pereira, com o objetivo de obter uma intervenção federal na Paraíba.
        É possível também que os resquícios dessa formação militar de João Pessoa tenham muito contribuído para facilitar suas relações com a Polícia Militar, onde ele era verdadeiramente venerado por seus integrantes.
       Na obra “João Pessoa e a revolução de 30” o seu autor, Ademar Vidal, ao traçar um perfil da figura física de João Pessoa, afirma, entre outras coisas. “Fisicamente era João Pessoa de média estatura - porte marcial num metro e setenta e cinco - busto bem plantado. Andando ou de pé, conservava de ordinário as mãos pra trás ......” Esse detalhe, que lembra a postura do militar na posição de “descansar” da ordem unida, parece também resquícios de um condicionamento adquirido na sua formação militar.
Veja também
A Campanha de Princesa: O nego, a morte de João Pessoa, o nome da cidade e a bandeira.
 
 
 
 
    O quadro que retrata o Presidente João Pessoa, exposto no salão nobre do Palácio de Redenção, sede do Governo da Paraíba traduz essa postura traçada por Ademar Vidal.
Veja também A Campanha de Princesa: O nego, a morte de João Pessoa, o nome da cidade e a bandeira.        

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1 Comentário em "Reflexos da formação militar na vida do Presidente João Pessoa"

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Ugo Bezerra
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Muito interessante! Vale lembrar que era irmão do grande paraibano, introdutor do culto a Caxias, dos tanques no exército, idealizador da AMAN e de Brasília, condecorado na primeira guerra mundial pela França, o iluste Marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque.