O Policiamento Ostensivo à pé: Resquício de ação preventiva

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O Policiamento Ostensivo à pé é  um resquício de ação preventiva executada pela Polícia Militar.  Com as mudanças na forma e intensidade da criminalidade nos últimos anos, as polícias tiveram de desenvolver outras formas de atuação o que deu origem às mais diversa modalidade de policiamento, que na essência têm caráter repressivo. Com isso  o policiamento a pé, que é a mais tradicional forma de policiamento preventivo, se constitui em um mero resquício desse tipo de serviço. É esse é o tema que aqui abordamos.

O policiamento à pé, graças à sua maior aproximação com os destinatários desse serviço, e pela facilidade de acesso à locais que outra modalidade de policiamento não alcançaria,  é a forma de atuação mais eficaz na prevenção de crimes nos centros comerciais. Mas, é uma atividade geralmente evitada pelos policiais porque nela se exigi um esforço físico maior por parte dos seus executantes, uma vez que eles ficam parados em pé ou circulando, durante toda jornada, geralmente de seis horas.  No decorrer da década de 1980 esse serviço, executado no centro comercial das grandes cidades, era uma das mais principais atividades desenvolvidas pela PM.  
      Uma das preocupações do Comando com essas atividades era com a adoção de um uniforme que desse uma apresentação digna aos policiais. Segundo a doutrina vigente, e atualmente ainda válida, essa era uma forma de impor respeito à autoridade representada pelos policiais e assim dissuadir os pretensos infratores de suas práticas delituosas, o que constitui a essência da prevenção do crime.
 
 
      Nesse contexto, o capacete de vibra, a camisa de mangas longas, a gravata, o talabarde e o cadarço brancos eram o que de melhor  a PM podia fazer uso nessas atividades.  Esse uniforme tinha outro efeito.  É que os policiais se sentiam diferenciados, o que lhe fortaleciam o ego, gerando um importante incentivo na execução do serviço, cuja importância era reconhecida pela população. Passavam semanas e semanas sem que os policiais aplicados nessas atividades tivessem necessidade de ações repressoras, mas eles continuavam lá, sentido prazer e orgulho pelos resultados dos serviços.  Na época já existia o policiamento motorizado, com as mesmas características do atual, apenas em menor escala, mas não havia por parte dos policiais uma procura assim tão grande por esse serviço, com ocorre hoje.
 
 
    Mas, o tempo fez essa realidade mudar.  Atualmente a maioria dos policiais gosta de atuar de forma repressiva, fazendo prisões, perseguições, diligências, abordagens, até mesmo a ronda motorizada, e outras ações dessa natureza. Agindo assim eles se sentem mais policiais, pois entendem que só dessa forma são mais úteis à sociedade.  Quando assim agem os policiais revelam o natural sentimento de herói que existe dentro de cada um deles, fruto da nossa cultura. Esse estado de espírito é propulsor da capacidade de iniciativa, fator de elevada importância na consecução dos objetivos do policiamento.  Portanto é salutar que o policial pense a aja dessa forma, assim como também é louvável que os diversos escalões de comando incentivem tais procedimentos, uma vez que o papel da PM atualmente é, basicamente, repressor.
 
 
     Essas mudanças decorrem da inversão do papel da Polícia Militar nos últimos anos, principalmente em razão do descontrolado aumento da criminalidade em todas suas formas.  Conforme as estatísticas criminais demonstram, a PM não está conseguindo desempenhar seu papel preventivo com a devida eficácia.
 
 
       O policiamento motorizado, que constituiu a principal forma de policiamento adotado atualmente, e que em princípio teria um papel preventivo, já não evita mais a prática dos delitos que mais afetam a sociedade, como é caso dos crimes violentos contra a vida e os crimes contra o patrimônio.   Por essa razão o papel repressivo da PM vem se tornando mais intenso a cada dia.
 
 
      Mas, como o policiamento à pé ainda é uma atividade essencialmente preventiva, o policial nessa situação tem poucas oportunidades de agir de forma operacional no sentido repressor do termo,  o que, para eles,  torna o serviço monótono e desestimulante.
 
 
     Assim, muitos policiais se sentem quase sempre castigados quando são escalados para esse tipo de serviço.  Às vezes se ouve reclamação como: “Naquela rua não precisa de policiamento. Lá é muito tranquilo, eu passo o dia todo lá e não acontece nada que precise de policia”. Mas é indispensável que os executores desse tipo de serviço tenham em mente que naquele local não acontece fatos que exijam ação policial exatamente porque ele está lá para prevenir.  Ele não precisa reprimir o crime porque o evitou simplesmente com a sua presença.  Ou seja, cumpriu o principal papel da polícia militar. É o resquício das ações preventivas da PM.
 
 
     Se o crime puder ser prevenido, não há mérito na sua repressão. O problema é que a prevenção fica cada vez mais difícil. Assim, caminhamos, a passos largos, para o exercício de atividades meramente repressivas, ou seja, correndo atrás do prejuízo, agindo depois que o crime ocorre, com adoção de medidas reativas.

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