Campina Grande 1983: A greve dos Sargentos

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  1. A eclosão do movimento
  1. O estopim

O Capitão Reformado Gonçalo Ferreira Lopes, um velho militante em defesa das causas dos policiais militares, tinha fácil acesso à imprensa e, mesmo residindo em João Pessoa, de vez em quando ele ia à Campina Grande e fazia contato com a redação dos jornais da cidade. A partir do mês de março de 1983 começaram a surgir notas no Jornal Gazeta do Sertão, que circulava em Campina Grande, fazendo referência à situação de penúria em que viviam os policiais militares. Aos poucos essas notícias foram despertando preocupações nos dirigentes da Polícia Militar e os ânimos da tropa em Campina Grande foram se inflamando.

É possível que a essa altura tenha havido articulações entre os Sargentos e até os Oficiais, mas isso não ficou comprovado nos autos do IMP que apurou os fatos.

O Governador Tarcísio Buriti tinha criado duas empresas estatais na tentativa de oferecer serviços mais baratos à população: A Empresa de Transporte Setusa, que atuava no transporte urbano na Capital e o Balcão da Economia, que comercializa gêneros alimentícios em diversas cidades do interior. No dia 3 de junho de 1983, o Sargento Francisco Leite Rolim, integrante do Segundo Batalhão, e estando fardado, fez uma feira no Balcão da Economia, instalado em Campina Grande, e, alegando que não tinha dinheiro e estava com a família passando fome, disse ao gerente que pagaria depois, deixando o seu nome e matrícula. O Gerente disse que não tinha ordem para vender fiado e que iria comunicar o fato aos escalões superiores. Esse fato acabou chegando ao conhecimento do Coronel Benedito Lima Junior, Comandante Geral, que terminou ao Comandante do Batalhão, o Tenente Coronel Jacinto da Costa Serpa, que recolhesse o Sargento Rolim ao Xadrez. Entretanto Rolim ficou apenas detido informalmente no âmbito do Quartel, e concorrendo à escala de serviço.

  1. Um dia de tensão

As notas sobre a situação de penúria dos policiais militares e a possibilidade de uma paralisação continuaram a ser publicadas na Gazeta do Sertão. No dia 5 de junho de 1983, um domingo, o mesmo jornal publicou que a Polícia Militar poderia entrar em greve na quarta-feira, dia 8 daquele mês.

Mas no dia 7, uma terça-feira, a manchete daquele periódico era que a Polícia entraria de greve no dia seguinte. O Comandante do Batalhão só tomou conhecimento do conteúdo dessa nota quando um repórter da Gazeta do Sertão lhe procurou no Quartel para uma entrevista, aproximadamente às 9 horas da manhã daquele dia. A partir de então o Comandante do Batalhão resolveu procurar saber o que estava realmente acontecendo e, aproximadamente às dez horas determinou que fosse feita uma reunião com os policiais que estavam em atividade no interior do Quartel. Para esse fim foi ordenado e executado o toque de corneta para formatura geral. Normalmente ao ouvir esse toque todos os policiais que estiverem no Quartel, devem se deslocar ao pátio interno do Batalhão e entrar em forma.

Ao ser informado dessa decisão do Comandante do Batalhão, o Capitão José Gumercindo Fernandes, Comandante da Companhia que prestava todos os tipos de serviço em Campina Grande, propôs que antes da formatura geral fosse feita uma reunião com os Oficias, o que foi acolhido prontamente. A reunião ocorreu na sala denominada de Salão Nobre do Quartel, localizada no primeiro andar, ao lado do Gabinete do Comando. Naquela oportunidade o Tenente Coronel Jacinto Serpa tentou colher informações sobre o que estava sendo noticiado, mas os Oficiais nada sabiam a respeito, segundo lhe disseram.

Em seguida o Comandante e demais Oficiais desceram para o pátio e não encontraram a tropa formada como imaginavam, o que gerou revolta do Comandante que mandou tocar novamente formatura geral e aos gritos determinou que todos entrassem em forma. Entretanto, um grupo de Sargentos permaneceu no alojamento alegando que só entraria em forma se o Comandante fosse falar com eles lá, o que não ocorreu, pois o Comandante disse que não estava pedindo, estava ordenando e quem não entrasse em forma imediatamente seria severamente punido.

Todos entraram em forma, inclusive os Sargentos do alojamento, e o Comandante fez uma preleção sobre os riscos de expulsão e processos criminais que cada um dos policiais militares corriam se tentassem paralisar as suas atividades.

Naquela oportunidade alguns Sargentos disseram ao Comandante que no dia seguinte só iriam para o serviço se houvesse a garantia de que as vantagens que a Lei 4410 concedia aos policiais militares seriam implantadas. O Comandante argumentava e os Sargentos contra argumentavam de forma contundente. Foram momentos de muita tensão. O Comandante disse que iria comunicar esses fatos ao Comandante Geral, deixou a tropa em forma e seguiu para o seu Gabinete, onde se ligou com o Coronel Benedito Junior.

Pouco depois o Tenente Coronel Jacinto Serpa voltou ao pátio e comunicou que por ordem do Comandante Geral haveria expediente naquela tarde e determinou que fosse escalado um Pelotão para ficar de Prontidão. Em seguida a tropa foi liberada. Já passava do meio dia. Esses fatos foram presenciados por repórteres que estavam postados nos muros do prédio da Central de Polícia, vizinho ao Quartel.

Aproximadamente às dezessete horas daquele dia, o Tenente Coronel Paulo Romero, Comandante do 31º Batalhão de Infantaria, sediado em Campina Grande, chegou ao Segundo Batalhão e se dirigiu ao seu Comandante. Pouco depois houve uma reunião com os Oficias, ocasião em que o Tenente Coronel Paulo Romero expos suas preocupações com as notícias sobre a possibilidade de uma paralisação dos policiais daquela Unidade, e que iria comunicar essa situação aos escalões superiores.

Registre-se, por oportuno, que naquela época a IGPM ainda tinha muita influência no controle das atividades das Polícias Militares, mesmo que o Comando dessas Corporações já pudesse ser exercido por seus Oficiais. Portando, é possível que essa situação tenha chegado ao conhecimento do Alto Comando do Exército. Registre-se, também que ainda vivíamos um Governo Militar, que era presidido pelo General João Batista de Figueiredo.

A repercussão desses fatos provocou uma reunião de emergência do Comando da PM com o Governador e seus auxiliares imediato, na qual foi determinado que o Subcomandante Geral da PM e o Chefe do Gabinete Militar do Governador seguissem imediatamente para Campina Grande levantar informações adotar providências. O deslocamento desses Oficiais foi feito no avião do Governo, no fim da tarde do dia 7 de junho.

Pouco depois que o Tenente Coronel Paulo Romero saiu do Quartel do Segundo Batalhão, ali chegou o Coronel Marcílio Pio Chaves, Subcomandante Geral da Polícia Militar, acompanhado do Coronel José Geral de Alencar, Chefe do Gabinete Militar do Governador, para cumprirem a missão que receberam do Governador. Começava a anoitecer. Ainda naquela noite o Coronel Marcílio Chaves reuniu os Oficiais e se pós a par dos acontecimentos, recebendo na oportunidade a lista dos Sargentos que poderiam estar incitando a tropa a não assumir o serviço no dia seguinte. A lista aqui mencionada é a seguinte: Francisco Leite Rolim, Osvaldo Barros Soares, Antônio Oliveira Neto, Edmundo Alves, Antônio Batista de Lima Neto, Niulando Gomes Barbosa, João Urtiga de Souza, Vicente Freire de Oliveira Filho, Orlando Vieira de Melo Neto, Rubens Silva Neto, Cícero Pereira Filho e Aloísio Honorato. (Continua na Página 3)

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3 Comentários em "Campina Grande 1983: A greve dos Sargentos"

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Niulando Gomes Barbosa
Visitante
Gostei da Publicação, apesar de alguns detalhes que não vão fazer diferença, mesmo assim vou expô-lo: Na parte no que tange ao dia em que o Cel Marcílio Pio Chaves então Sub-Cmt da época, chegou ao Qel. do 2º BPM, foi ele que se dirigiu aos Sargentos pedindo que os mesmos fossem ao Salão Nobre que fica no primeiro andar e o esperasse, pois ele ia fazer uma preleção com a tropa, nesse momento cumprimos a determinação e subimos pra o Salão Nobre , ficamos lá o esperando, passado mais de uma hora e nada do Cel. Marcílio chegar, nesse… Leia Mais »
Niulando Gomes Barbosa
Visitante
Gostei da Publicação, apesar de alguns detalhes que não vão fazer diferença, mesmo assim vou expô-lo: Na parte no que tange ao dia em que o Cel Marcílio Pio Chaves então Sub-Cmt da época, chegou ao Qel. do 2º BPM, foi ele que se dirigiu aos Sargentos pedindo que os mesmos fossem ao Salão Nobre que fica no primeiro andar e o esperasse, pois ele ia fazer uma preleção com a tropa, nesse momento cumprimos a determinação e subimos pra o Salão Nobre , ficamos lá o esperando, passado mais de uma hora e nada do Cel. Marcílio chegar, nesse… Leia Mais »