Enfraquecimento da cultura organizacional na Polícia Militar

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        O enfraquecimento da cultura organizacional na Polícia Militar  ocorre com a rapidez com que se verifica a quebra dos valores que constituem a essência dessa instituição. Aos poucos são deixado de se observar normas regulamentares e costumes que é seu conjunto representam o espírito da corporação.

       Todas as instituições, públicas ou privadas, na busca de alcançar seus objetivos institucionais, desenvolvem, de maneira formal ou informal, no âmbito interno e tendo como alvo seus integrantes, um conjunto de valores ou crenças que as ciências sociais denominam de cultura organizacional.  São esses valores que diferenciam as instituições dotando-as de uma identidade própria.

        O uso da toga pelos magistrados, a cerimônia de colação de grau no meio acadêmico, o fardão na Academia de Letras, o juramento proferido por todos os servidores ao tomar posse em cargo público, inclusive o Presidente da República, os desfiles cívicos, o uso de uniformes pelos empregados de empresas privadas, a adoção de logomarcas em todos os tipos de organizações sociais, as cores, hinos e escudos das equipes esportivas de todas as modalidades e os rituais dos cultos religiosos, são exemplos de elementos formadores dessa cultura organizacional.
      O uso desses valores, detectado em todos os tipos de organizações sociais e em todas as fases da civilização, alcança diferentes níveis de percepção de acordo com a natureza da instituição em que se aplica, o que muitas vezes ocorre de forma sutil. Para os estudiosos desse tema ele é constituído de quatro elementos básicos que se combinam e se completam.
        São os mitos, os símbolos, os arquétipos e os ritos, que podem assumir diferentes formas de expressão conforme o tipo de organização onde se desenvolvem. São elementos de formas mutáveis, conforme registra a história, porém, em sua essência conservam o sentido original. Segundo o psicanalista sueco Carl Gustav Jung, a força dessa cultura se dá em razão dela resultar da experiência do inconsciente coletivo na busca do melhor caminho para as organizações.
        A adoção desses elementos, que formam a cultura organizacional, tem por objetivo criar, renovar, fortalecer ou modificar o vínculo afetivo e o comprometimento dos integrantes da instituição com os propósitos organizacionais. Através deles se obtém, por exemplo, o sentimento de pertencimento, o espírito de equipe, a busca pela produtividade ou pelo desenvolvimento da organização e o fortalecimento da sua imagem junto ao público externo, a defesas dos interesses institucionais e outros valores favoráveis à organização, aos seus integrantes e a sociedade como um todo.
         Podemos facilmente detectar traços dessa cultura nas igrejas de todas as crenças, nas maçonarias, nos clubes de serviços, nas associações, nos eventos esportivos, nos serviços públicos em geral e em particular nas corporações militares onde essa cultura é mais fácil de se perceber pela forma como seus elementos se manifestam.
       Nas corporações militares, alguns símbolos e ritos enaltecem a importância da instituição e, portanto, despertam  sentimentos coletivos, como, por exemplo, nos cantos de hinos com letras alusivas a valores da organização e nas homenagens a vultos ou fatos históricos.  Outros buscam fortalecer sentimentos individuais, como, por exemplo, o uso de medalhas, insígnias e distintivos de cursos.
         Quando qualquer organização despreza os valores estabelecidos por essa cultura, sem substituí-los por outros igualmente compatíveis com os objetivos da organização, a tendência natural é o enfraquecimento gradual ou abrupto da instituição. Esse fenômeno está ocorrendo na Polícia Militar da Paraíba e suas consequências são imprevisíveis.
        O abandono desses símbolos e ritos pode ser facilmente percebido no âmbito dessa corporação. Nos Quartéis não existem mais Corneteiros e em consequência deixaram de existir os ritos em que os toques de cornetas eram utilizados.
       Igualmente não ocorre mais, com a mesma frequência de antes, a passagem de serviço em forma, a leitura diária do boletim, a revista de apresentação pessoal, as rendições de paradas seguidas das preleções do Comandante da Unidade, a continência ao Comandante pela da guarda do Quartel, a rendição de guarda em forma, a sentinela das armas, a cerimônia de juramento ao primeiro posto, e nem a continência à bandeira. São valores próprios da cultura das organizações militares, e, portanto, que as identificam.
         Isso tudo pode parecer supérfluo, no que concordamos em parte. Mas já se percebe situações que começam a provocar prejuízos irreparáveis à Corporação e que podem ser decorrentes do desprezo ao culto desses valores, como, por exemplo, o afrouxamento da disciplina, em todos os níveis e a falta de comprometimentos de muitos Oficiais e Praças com os interesses da Corporação. O espírito de corpo, expresso pela forma entusiasmada como os policiais se dedicam ao serviço e como defendem os interesses da Corporação está declínio.
           Curiosamente, à medida que o emprego dos símbolos e ritos que enaltecem o espírito coletivo começa a perder a importância pelo desuso, o inverso ocorre com os que enaltecem o sentimento individual. A cada dia aumenta o uso de distintivos de cursos, medalhas, insígnias e outros símbolos que fortalecem o ego dos seus portadores.
         Alguns policiais exageram no uso desses símbolos, o que acaba por vulgarizá-los. Estão sendo fortalecidos os espíritos individuais, que contemplam pessoas, em detrimento de sentimentos coletivos, que engrandecem a corporação.
      É natural que entre os elementos que formam a cultura de qualquer instituição, existam grupos contrários aos valores adotados, o que forma, na percepção dos estudiosos do tema, a subcultura organizacional. Mas, esses grupos, de maneira informal, dispersa, impessoal e subliminar, tentam substituir os valores por outros que melhor atendam aos interesses da organização, o que é salutar por introduzir as necessárias mudanças que o natural desenvolvimento exige.
        Mas o que vem ocorrendo na Polícia Militar é o surgimento de um conjunto de situações informais, que estão simplesmente extinguindo os seus valores culturais, sem substituí-los por outros.
           Ressalte-se que no Centro de Educação, onde se formam se especializam e se aperfeiçoam os recursos humanos da Corporação, todos esses valores são preservados. Mas, infelizmente os policiais que por ali passam não estão conseguindo transmitir essa valiosa cultura organizacional no âmbito das Unidades onde servem.
     Urge, portando, como providência prioritária em qualquer projeto de desenvolvimento da Polícia Militar, a restauração dos valores compatíveis com o caráter e os fins da Corporação, mesmo que eles sejam expressos por novos símbolos e ritos. 
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