A restauração do prédio do Primeiro Batalhão da PM da Paraíba

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A restauração do prédio do Primeiro Batalhão da PM da Paraíba era uma antiga aspiração de todos os policias militares que ali serviram. Na busca desse objetivo, desde o início da década de 1980, muitos dirigentes da Corporação desenvolveram  esforços junto ao escalão do governo responsável  por esse tipo de atividade.  Ao longo desse período, algumas obras de manutenção foram realizadas. A de maior porte, entretanto, foi a realizada no decorrer de 2015, mesmo que ainda reste muita coisa a fazer.  Aqui vamos fazer um breve relato desses acontecimentos.

 No decorrer do segundo semestre de 2015, o Arquivo Geral da PM voltou para o prédio do Primeiro Batalhão, que, aliás, recentemente passou por uma grande restauração, o que será objeto de alguns registros mais adiante.  Agora o acervo de documentos históricos da nossa corporação está no espaço onde durante muitos anos foi um auditório onde eram realizadas importantes reuniões, instruções, palestras, atos solenes e confraternizações. É no primeiro andar do pavilhão onde foi o Rancho do pessoal do Batalhão e do Quartel do Comando Geral. Esse prédio, localizado no pátio do Batalhão, foi construído no final da década de 1960, com o emprego de mão de obra da corporação, sob o Comando do Coronel Antônio Farias, que era o Fiscal Administrativo da Polícia Militar. 
O antigo auditório
     Uma característica marcante dessas instalações são as paredes revestidas de madeira até a altura de um metro e meio, assim como era e ainda é o corredor onde fica atualmente o Gabinete do Comandante do Primeiro Batalhão, e que na época era o Gabinete do Comandante Geral.
Assim também é o Gabinete do Comandante do Segundo Batalhão que igualmente foi obra do Coronel Farias. Nesse mesmo padrão são as sala que constituíam o chamado Estado Maior, um conjunto de pequenos alojamentos localizados no corredor à esquerda de quem entra no Quartel. Era o local que também servia de prisão especial.
   Esse auditório, onde agora é o Arquivo Geral era anexo às salas onde funcionava a Diretoria de Ensino do Comando Geral. Em fevereiro de 1977, quando o Comando Geral passou para o seu prédio atual, esse espaço passou a ser ocupado pela Terceira Seção do Primeiro Batalhão.
   Nas minhas infindáveis pesquisas sobre a história da Polícia Militar, sempre visito o arquivo geral da PM. No final de dezembro de 2015 lá estive, e encontrei a sala ainda em arrumação, sempre sob a direção do competente e dedicado Edson, um servidor civil especialista em arquivo que lá trabalha há mais de dez anos.
Feitas as consultas que tinha programado para aquele dia, comecei a observar o local e suas cercanias e fui tomado por uma avalanche de lembranças que resolvei registrar pela possibilidade de tais registros tomarem conotações históricas.
     O Auditório contava com um pequeno palco, moldurado por uma vistosa cortina na cor vinho, um razoável serviço de som e era mobiliado com quarenta e oito carteiras do tipo hoje conhecidas como universitárias. Um mapa do Estado, medindo aproximadamente dez metros quadrados, ficava por trás da cortina que era aberta para exposições do Comandante Geral ou do Batalhão, quando ocorriam inspeções da IGPM.  
Nesse mapa se visualizava a área de atuação de cada Batalhão.    O piso da sala era em taco e estava sempre muito polido, assim como os revestimentos das paredes, de forma que passava a melhor impressão aos que ali chegavam.   Cada Companhia do Batalhão tinha um dia da semana reservado para reunião e instrução. Em datas importantes para a Corporação eram realizadas palestras alusivas aos fatos comemorados. Essas palestras, algumas vezes, eram proferidas por autoridades convidadas.
Os Oficiais que faziam cursos fora do Estado, ao voltarem faziam exposições de temas relativos ao curso.  No final de 1977, nesse auditório foi realizado um jantar de confraternização dos Oficiais e esposas. Foram cerca de quarenta casais, o que representava quase o total dos Oficiais que serviam na Capital.  Aliás, essa era uma prática muito comum nos fins de ano, mas nesse local essa foi a única vez que foi feito. Lembro-me de outro jantar que foi realizado em 1978 no refeitório do Quartel do Corpo de Bombeiros, em Marés e outro, anos depois, no Clube dos Oficiais, na época Presidido pelo Coronel Marcilio Chaves, já na sua sede atual no retão de Manaíra.
  Nesse jantar de 1977 lembro-me de um fato curioso. Naquela época tinham plantado vários pés de castanhola no pátio do Batalhão, e os faxineiros tinham o maior cuidado na sua preservação.
Tinha uma dessas árvores em frente à subida para o auditório, já com cerca de dois metros de altura, mais ainda nova, e muito viçosa, pois o pessoal do Rancho tinha muito carinho com ela, pelo que colocaram um gradeado de madeira em sua volta para protegê-la. O Capitão Francisco Duarte, conhecido por ter muito força física e o dorso das mãos calejado de praticar o golpe conhecido por “takle”, era uma pessoa muito querida por todos os Oficiais. Depois do jantar, aproximadamente a meia noite, o Capitão Chico Duarte, como era mais conhecido,  ficou conversado com uns amigos em volta da castanhola.
De repente Duarte deu um golpe na grade de proteção da jovem árvore e quebrou todas as seis tábuas que constituíam as travessas, mas não atingiu a árvore.  Depois do golpe ele nem olhou para mão, e saiu do local bem tranquilo.
O fato foi comentado como uma coisa engraçada, mas no dia seguinte o próprio Duarte providenciou a recuperação da grade e passou a ser um dos guardiões daquela arvorezinha.
Anos depois, já no decorrer da década de 1980, era na sombra que essa árvore projetava na calçado no Rancho, onde se reuniam muitos Oficiais do Primeiro Batalhão e do Comando Geral, nos momentos que antecediam a abertura do Rancho e depois do almoço, se prolongando, às vezes, até às duas da tarde.
Conversava-se sobre amenidades, coisas da caserna, e principalmente, se faziam muitas gozações, algumas que hoje seriam consideradas politicamente incorretas, ou seja, “buling”.  Tudo em clima de muita afetividade o que fortalecia as amizades e o espírito de corpo e revelava o nível de comprometimento de cada um com a corporação. Era comum alguns Oficiais e Praças, mesmo os que saiam de serviço, passarem o dia todo no Quartel, por necessidade administrativa, ou por opção, o que lhes permitiam um maior envolvimento com todas as atividades da corporação. 
Como eram poucos Oficiais e todos praticamente se viam diariamente, havia uma forte integração entre eles.
Nessa visita constatei que, infelizmente, a tal castanhola de Chico Duarte foi sacrificada, e só ficou a marca do canteiro. A sua companheira, bem mais antiga, ao pé da escada que dá acesso ao pátio do Batalhão, continua lá, firme e forte. Mas o pátio está sempre lotado de Viaturas e veículos particulares, o que causa uma aparência de caos, mas que reflete as inexoráveis transformações econômicas que o passar dos anos trouxe. 
Os pavilhões demolidos, as Oficinas e a cantina
Duas outras lembranças me ocorreram naquela ocasião: uma sobre os prédios que foram demolidos no pátio interno e outra sobre uma macabra superstição que circulava no Quartel até o final dos anos 1980.  Vamos por parte.
          No local onde atualmente existe uma Quadra de Esporte, que me parece subutilizadas agora, existiam dois prédios onde funcionavam as Oficinas de Serralheria, Carpintaria e Pintura, e que prestavam serviços para a Corporação. 
     A Quadra foi inaugurada setembro de 1978 e nela foram realizadas muitas competições de Futebol de Salão e de Voleibol, até o início da década de 1990.
   No prédio onde atualmente está instalado um Batalhão do Corpo de Bombeiros, funcionava, até o final dos anos 1960, um armazém reembolsável, ou seja, uma cantina que vendia gêneros alimentícios fiados aos policiais. O processo utilizado para a venda e cobrança desses gêneros era frágil e gerava muitas denúncias.
      Os sapatos, coturnos e fardamentos utilizados pelos policiais eram confeccionados na própria corporação. A oficina era no local onde atualmente está instalada a Banda de Música. 
Uma superstição macabra
   Quanto à superstição, contava-se o seguinte. Os portões de trás do Batalhão são de madeira, muito alto, largo e pesado. Muitos policiais acreditavam quando eles batiam um no outro, fazendo um grande barulho, era sinal que um policial iria morrer.  Em determinada época do ano sopra um vento forte nos corredores do Quartel e mexe com esses portões. Como eles são muito pesados, fica difícil se movimentarem o suficiente para bater um no outro. 
       Mas, por via das dúvidas, o Soldado Batista, um simpático moreno que foi faxineiro do Batalhão durante vários anos, e era um dos que acreditava nessa superstição, tomava todo cuidado para evita o “desastre” e mantinha sempre um paralelepípedo encostando cada um dos portões. Eu costumava fazer gozações com Batista com essa história, mas ele, em sua crença, sempre lembrava diversos exemplos que comprovam a superstição.  Certa tarde eu estava no Quartel quando ouvi os portões baterem.
    Quando eu ia saindo do Quartel encontrei com Batista com ar de muita preocupação, o que me inspirou a mais uma gozação. No dia seguinte quando cheguei ao Quartel recebi a notícia que no dia anterior tinha falecido um policial em Bayeux. 
    Meu xará me olhou com pesar, e disse “viu aí Tenente?”.  Fiquei sem ter o que dizer. Ainda hoje muitos policiais acreditam nessa superstição.
O portão do mau  agouro -  Visto do pátio 
Visto de dentro para fora 
Fechado por dentro - As pedras da década de 1970 ainda estão lá
A restauração
As obras de restauração desse prédio vêm se arrastando por muitos anos. É um prédio histórico, com mais de duzentos anos de construído e que com o passar do tempo foi sofrendo os naturais desgastes. Nas décadas de 1970 e 1980 todos os Comandantes que por ali passaram deram uma parcela de contribuição para, pelo menos, amenizar esses desgastes, mesmo sem contar com recursos para esses fins. 
 Havia problemas no telhado, e em parte das instalações elétricas, hidráulicas e sanitárias, assim como no piso, cujas vigas que separam os andares são de madeira. As muitas portas e janelas, de material e forma bem especial, que igualmente estavam muito desgastadas, era outro problema sério.  No Comando do Tenente Coronel José Batista do Nascimento, em 1980, foi feita uma grande reforma no telhado para evitar infiltrações. Depois o Coronel João Valdevino, em 1982, também investiu no telhado e em instalações elétricas e sanitárias.  Mas como os recursos eram muito limitados, o que se investia sempre era insuficiente para resolver os problemas.
No ano 2000, o Coronel Ramilton Cordeiro, na época Comandante Geral, tentou fazer uma grande intervenção nesse imóvel através da SEPLAN, mas todos os esforços foram em vão, pois sempre se alegava que o custo era muito alto.  Sem desistir Cordeiro tentou uma ajuda do Banco do Brasil para onde encaminhou um amplo projeto, recebendo a promessa de que no ano seguinte as obras seriam iniciadas, o que não veio a acontecer. 
Mas recentemente o Coronel Luís Antônio, que Comandou o Batalhão, também, deu uma importante contribuição nesse sentido e conseguiu certo avanço, com uma nova pintura externa.
No atual Comando vem sendo feito um grande esforço nesse sentido e se conseguiu uma considerável restauração de todos os andares do velho casarão, inclusive dos pisos, portas e janelas, mesmo sem obedecer aos padrões originais, o que se presume, tenha sido autorizado pelo patrimônio histórico.
As obras do 2° andar ainda não foram concluídas e parece que ainda existem problemas no telhado, pois continuam existindo infiltrações. A pintura externa, mesmo me parecendo muito escura, deu uma nova feição ao prédio.
O estado moral da tropa que ali serve por certo se fortalece ao ver seu Quartel limpo, bonito, e com a restauração das instalações internas, o que propicia mais conforto para os que ali trabalham.
É mais dignidade para o homem e mais respeito às tradições históricas da corporação.  Para os que ali serviram com entusiasmo, garra e muita dedicação, ver o prédio restaurado é particularmente muito gratificante. 
Parabéns a todos que contribuíram com essa obra.
Pátio interno do Batalhão - Vista do 2º andar - Dezembro de 2015
O histórico prédio do Primeiro Batalhão. Uma construção do tempo imperial   O Primeiro Batalhão da PM da Paraíba completou 96 anos

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1 Comentário em "A restauração do prédio do Primeiro Batalhão da PM da Paraíba"

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Mariadetefreitas Freitas
Visitante

Eu Mj Macena R/R, fico muito feliz ver uma realização como essa?