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A PM da Paraíba luta contra tropa do Exército

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       A PM da Paraíba nos combates em Recife, em 1931 foi mais um dos muitos episódios na foi história dessa corporação em que ela prestou relevantes serviços às Forças Armadas em defesa da legalidade. Foi uma operação de apoio a uma tropa do 22º Batalhão de Caçadores, atual 15º Regimento de Infantaria,  que reprimiu um movimento armado que eclodiu em um Quartel do Exército na cidade de Recife e que teve de curta duração, mas de expressiva importância na restauração da ordem pública. Vamos narrar como se deu essa luta.

1. A origem do movimento revolucionário

      Um movimento revolucionário foi deflagrado em Recife em 1931, quando um Quartel do Exército foi tomado por civis. Esse fato decorreu de uma série de outros correlacionados ,os quais enfocaremos de forma sucinta para melhor se entendê-lo

    As bruscas mudanças nos costumes políticos provocados pela Revolução de 1930 criaram, para o povo uma grande expectativa de melhoria na qualidade de vida. Segmentos populares e correntes políticas que ajudaram a fazer a Revolução, já no início do novo Governo começaram a externar suas frustrações. Até mesmo nas Forças Armadas esse descontentamento ficou consignado já em 1931, quando grupos de revolucionários tomaram o Quartel do 21º Batalhão de Caçadores, em Recife.

    Por essa época também, começavam a circular pelo País, natural­mente de forma sutil, ideias preconizadas pela filosofia Marxista-Leninista. Luiz Carlos Prestes, que depois da desativação da Coluna Prestes, ficou conhecido como o "Cavaleiro da Esperança", começou a estabelecer contatos com o Governo da Rússia, absorver a doutrina Comunista, e irradiá-la clandestinamente ao Brasil. Essas ideias obtiveram penetração nos meios militares, onde Prestes gozava de grande prestígio, fomentando descontentamento com o Governo e instigação à revolta.

     Na madrugada do dia 29 de outubro de 1931, as Praças do 21º BC, situado na Rua do Hospício, em Recife, sob a liderança de Pedro Calado, mataram o Comandante da Unidade, Capitão Nereu Guerra, prenderam todos os Oficiais e se apossaram do Quartel. Ao mesmo tempo, Praças do Quartel de Soledade (Recife) e do Quartel General (QG), sede do Comando da 7ª Região Militar, aderiram ao movimento. A Pretensão dos insurretos era a deposição do Interventor de Pernambuco, Carlos Lima Cavalcanti. O Grupo Revolucionário cortou a ligação telegráfica de Recife com o restante do País.

     Informado do movimento, o Interventor Lima Cavalcanti se deslocou para o Quartel do Derby, Comando da Polícia Militar de Pernambuco, na época com a denominação de Brigada Militar. No Derby, Lima Cavalcanti, organizava a resistência. Um emissário do Governo Pernambucano, ainda naquela madrugada, foi enviado à Paraíba, a fim de comunicar o fato as autoridades e pedir apoio.

     O Interventor da Paraíba, Antenor Navarro, e o Major Alberto Mendonça, Comandante do 22º Batalhão de Caçadores, sediado em João Pessoa, foram avisados pelo emissário de Pernambuco, decidindo essas autoridades enviar, imediatamente, Tropas ao Recife, objetivando combater os revolucionários.

2. O deslocamento da tropa paraibana

     Em caminhões requisitados pelo 22º BC, e cuja indenização foi efetuada pela Prefeitura de João Pessoa, deslocou-se ao Recife, um Contingente formado por todo efetivo do Batalhão de Caçadores e mais uma Bateria de Artilharia de Dorso, que era aquartelada naquela Unidade Militar.

      O Comandante de uma das Companhias do 22º BC era o 1º Tenente José Arnaldo Cabral de Vasconcelos, que ainda na década de 1930 Comandou a Polícia Militar da Paraíba.   O Comandante da Bateria era o Tenente Ernesto Geisel, que, como General, assumiu a Presidência da República, no período de l974/l978.

    O Destacamento Militar, sob o Comando do Major Alberto Mendonça, partiu de João Pessoa, aproximadamente às 16 horas do dia 29 daquele mês, acantonou em Goyana aonde chegou às 20 horas e de lá partiu às 2 horas da manhã seguinte. Depois de efetuar prisões em Igarassu e Paulista, o Destacamento chegou a Olinda às 5 horas do dia 30 de outubro.

       A 2ª Companhia do lº Batalhão de Regimento Policial, denominação da Polícia Militar na época, por determinação do Interventor Antenor Navarro, também se deslocou para Recife, em apoio ao Destacamento Comandado pelo Major Alberto Mendonça.

      O Comandante da 2ª Companhia da Milícia Paraibana era o Capitão José Maurício da Costa, que contava com um efetivo formado pelo 1º Tenente Ademar Naziazene, e os 2º Tenentes Lino Guedes e José Domingos Ferreira, além de mais de 96 Praças, totalizando 100 homens.

     Depois de muitas dificuldades para mobilizar transportes, a 2ª Companhia partiu de João Pessoa aproximadamente as 18 horas do dia 29 de outubro.  Em virtude de ter enfrentado problemas com diversas panes nos caminhões que a transportava, a 2ª Companhia não fez altos e só chegou ao Destacamento do Major Alberto Mendonça, às 5 horas da manhã do dia 30 de outubro.

3. A luta

    A partir de Olinda, todo Destacamento, inclusive a Companhia Comandada pelo Capitão José Maurício, seguiu à pé, enfrentando constantes tiroteios dos amotinados que haviam se entrincheirado em diversos pontos, no aguardo das Forças advindas da Paraíba.  A marcha foi iniciada às 7 horas.

     Nesse deslocamento, a missão da Companhia da Polícia era guarnecer a Bateria de Artilharia, e custodiar os Revolucionários que fossem presos no percurso. Na vanguarda da Tropa marchava uma Companhia Comandada pelo Tenente José Arnaldo. Na entrada do Recife, a resistência dos Revolucionários foi maior. A Tropa Legalista precisou fazer a travessia de uma ponte, sob intenso tiroteio, o que foi feito sem baixas.   Com emprego de tiros diretos da Artilharia, contra as instalações do Quartel do 21º BC, os Legalistas foram tomando posições e finalmente, depois de vencer a resistência dos revolucinários, ocuparam aquele reduto, às 12 horas, após 5 horas de cerrado tiroteio.

     Com a tomada do 21º BC, alguns revolucionários deslocaram-se para o Largo da Paz, sendo perseguidos e derrotados pelos Legalistas aproximadamen­te às 16 horas.

       Vencidos os rebeldes revolucionários, a 2ª Companhia de Polícia se instalou no 21º BC, onde recebeu a visita do Interventor de Pernambuco, Carlos Lima, que ali compareceu para externar sua gratidão aos comandados do Capitão José Maurício, pela participação naquele importante momento da vida Nacional.   Desses combates resultaram 16 civis mortos e 23 feridos. Entre os Militares, 20 ficaram feridos e o Capitão Nereu Guerra morreu no 21º BC,   outro Oficial e 02 Soldados daquela Unidade Militar, e o 2º Tenente Francisco Fortunato de Andrade, da Polícia Militar de Pernambuco, também foram a óbito.

       O Comandante do levante, o civil Pedro Calado, e mais 40 homens, que o acompanhava, foram presos nas proximidades da Cidade de Paudalho.

      Ao tempo em que a Tropa Paraibana se deslocava para o Recife, também com o mesmo fim, era acionado o 20º BC sediado em Maceió e o 29º BC aquartelado em Natal. Essas Unidades chegaram a travar lutas com os rebeldes no Largo da Paz.    Grandes Contingentes das Forças Armadas, sediadas em outros Estados, começaram também a se mobilizar, porém não houve necessidade do seu emprego.     A 2ª Companhia de Polícia Paraibana permaneceu em Recife, durante toda a noite do dia 30 de outubro, reforçando o policiamento da cidade, garantindo o clima da ordem restaurada.

     Na madrugada do dia seguinte, os comandados do Capitão Maurício retornaram à Paraíba.

4. O relatório do Capitão José Maurício

       Com o retorno da 2ª Companhia, o Capitão José Maurício emitiu o circunstanciado Relatório, que a seguir transcrevemos:

I -  Em cumprimento a uma ordem direta e pessoal do Exmo. Senhor Interventor Federal neste Estado, o Dr. Antenor Navarro, transportei-me para Recife, Capital de Pernambuco, Comandando a 2ª Cia do 1º  Btl.     O transporte foi feito em caminhões desta Capital até a Cidade de Olinda-PE.

II - A Missão a ser Cumprida:

   Deflagrada a Intentona de cunho Comunista, naquela capital pernam­bucana, pelo 21º BC, começando por bárbaros assassinatos, sendo sacrificado o Comandante da Unidade e outros Oficiais Subalternos e Praças, fiéis à legalidade, isto na madrugada do dia 28 para 29 do expirante, prontamente partiu da Paraíba para Recife, as Unidades Federais sediadas em nossa Capital, compostas do 22º BC e da 1ª Cia de Artilharia de Dorso.

III - A marcha, em caminhões, foi feita até a cidade de Olinda, e daí por diante a 2ª Cia. sob meu Comando, marchava a pé, fazendo a cobertura da Bateria que constantemente variava de deslocamentos, mudando de posições para se acobertar contra os tiroteios rápidos e violentos dos rebelados. A Cia. para atacar necessitava de ângulo de tiro, livre.  A luta era em setor urbano. A Tropa sob o meu Comando apresentava disciplina e ânimo forte. As forças tinham duas pistas de acesso para atingir Recife, e isto apresentava no momento, sérios problemas.  A primeira pista, a reta calçada em paralelepípedo num aterro estreito, ladeado de mangue e com sucessivos cruzamentos de pequenos canais, para disciplinamento dos fluxos e refluxos das marés; a segunda pista, a estrada carroçável, com pequenos pontilhões, até atingir a área da "FÁBRICA DA TACARUNA", onde começa a Av. Bernardo Vieira, que dá acesso para Peixinhos e Encruzilhada.

IV - Esse detalhe descritivo quanto às duas vias de acesso ao Recife, o faço dada a ocorrência de feitos a se seguir sobre as ações da Bateria de Dorso e da 2ª Cia PM, sem deixar dúvidas dos bravos feitos da vanguarda das Tropas sob o Comando do 1º Tenente José Arnaldo Cabral de Vasconcelos, onde se comprovaram tática, bravura e destemor assegurando segurança das nossas marchas até a vitória final, com assédio e fortes e demorados combates aos Quartéis do Comando da 7ª RM e do 21º BC defronte a Praça da Faculdade de Direito.

V - A vanguarda fizera designar pequenas formações de Tropas logo a começar a ação contra Recife, aproveitando o aterro da linha de bondes, até atingir a Av. Bernardo Vieira, Encruzilhada e imediações, limpando o terreno do inimigo audaz, a fim de ocupar o centro do bairro de Boa Vista, onde ficam aqueles Quartéis. E assim foram combatidos os rebeldes. E tão logo a marcha da Bateria foi reiniciada, após a ação da Tropa de vanguarda, transpondo a ponte de Tacaruna fazia pequenos altos nas bifurcações das ruas do bairro de Santo Amaro, tendo dois Pelotões da 2ª Companhia, apoiando a marcha.  Antes da ponte citada, tornara a surgir focos rebeldes do lado da Fábrica da Tacaruna, atacando, mas foram repelidos pelos meus Comandados.

VI - A estas alturas, do lado leste do eixo de marcha, o inimigo apoiado pelos velhos bastiões da Fortaleza do "BURACO" (em ruínas), encravada no istmo que há do Brum a Olinda e que é interrompido por um pequeno canal, atacava furiosamente com fogo de metralhadoras e fuzis "HOTCHKISS" e "Mauzer".   A disposição de Marcha passava a ser pelas barrancas oeste da estrada com alguma dificuldade devido à maré se achar em preamar. Só assim evitávamos ser atingidos perigosamente.  Em virtude da ação dos rebeldes comunistas, dificultando a marcha das tropas, o Comandante da Cia 1º Tenente Ernesto Geisel, determinou que fossem dados alguns tiros indiretos, e como não cessassem a ação do inimigo, cujo fogo nos inquietava, esses disparos foram diretos atingindo ao alvo, em cheio, resultando a fuga precipitada dos revoltosos, pelos terrenos das praias, abandonando armas e munições.

VII - Após a ação da Cia chegava ao local o Oficial de Ligação entre a vanguarda e Artilharia, apoiada pela 2ª Companhia PM, o 1º Tenente Adauto Esmeraldo, com a missão de verificar os resultados dos tiros da Bateria e de dar instruções de ordens do Comandante das Forças em operações, o Major Mendonça, para que um Pelotão da 2ª Companhia reforçasse a linha de combate do 1º Tenente José Arnaldo, que dada à resistência dispôs-se a fazer um assalto aos Quartéis do Comando da 7ª RM e do 21º BC. Determinei ao 2º Tenente José Domingos, avançar e ficar ligado ao 1º Tenente José Arnaldo.  Em seguida, a Bateria deslocou-se e tomou posição na Praça 13 de Maio, contínua a Praça da Faculdade de Direito, com dois pelotões da 2ª Companhia fazendo a cobertura.  A Companhia e os Pelotões eram alvejados de diferentes pontos.  Dirigi, pessoalmente, os contra-ataques desfecha­dos pela 2ª Cia visando os rebeldes bem firmados nos altos dos prédios dos Quartéis já descritos e do "Congresso Estadual", e os que não fugiram renderam-se.

Foram feitos mais de 100 (cem) prisioneiros, entre Oficiais, Sargentos, Cabos e Soldados, que ficaram sob o controle e guarda da 2ª Companhia.

VIII - Ocupamos o Quartel do QG da 7ª RM, durante toda a noite, às escuras. Pela manhã recebi, e a Tropa sob meu Comando, a visita do eminente Dr. Carlos de Lima Cavalcanti, Interventor Federal no Estado de Pernambuco, que compareceu ao nosso aquartelamento mantendo pales­tra e se fazendo agradecer, em seu nome e no do povo Pernambucano, a atuação da 2ª Cia da Polícia Militar da Paraíba, que havia cooperado de forma valente e aguerrida, ao lado das Tropas Federais, para aniquilar a rebeldia comunista do 21º BC.  Agradeci, penhorado, as palavras de Sua Excelência, que se retirou após cumprimentar a Oficialidade e Praças em geral.

IX - Hoje, Sr. Comandante, recebi ordem de regressar a esta sede, o que fiz na mais perfeita ordem e disciplina. Não tivemos perda a lamentar. Cumprimos com o nosso dever ao lado do glorioso Exército Brasileiro.

Os 1º Tenente Ademar Naziazene e 2º ditos Lino Guedes e José Domingos Ferreira, por tudo que praticaram em combates e nas marchas de deslocamentos da 2ª Cia, em indo e regressando do Recife, cumprindo religiosamente as minhas ordens, merecem louvores, bem assim, toda a Tropa que tive a honra e prazer de comandá-la, na árdua missão de defender o regime político-administrativo-militar do nosso País, ameaçado por comunistas inimigos da família e das Instituições Cristãs e Democráticas em que vivemos.

João Pessoa, 31 de outubro de 1931

JOSÉ MAURÍCIO DA COSTA

Capitão Comandante da 2ª Cia. 1º Btl. PM.

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