A guerra fria e os reflexos na Polícia Militar da Paraíba

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      A Guerra fria causou reflexos na Polícia Militar da Paraíba, assim como em todas suas coirmãs, principalmente no decorrer da década de 1970. Aqui vamos registrar fatos que ilustram  bem a influência da política norte americana sobre os órgãos de  Segurança Pública  no Brasil, e, particular na PM da Paraíba, na difusão da doutrina anticomunista.
     Os primeiros 10 anos do período revolucionário brasileiro, iniciado em 1964, foram marcados por intensas manifestações políticas, populares e estudantis, contrárias ao regime então vigente no país.  A Paraíba, e em particular a cidade de João Pessoa, foi palco de muitos desses acontecimentos.  Nesse período também teve inicio o processo de industrialização em todo país, o que provocou o aumento da população dos centros urbanos, e com ele o começo do crescimento da violência. Esse fenômeno também atingiu a Paraíba. Fase as essas circunstância, os meios que a PM dispunham para cumprir seu papel já não eram suficientes,
       Naquele período, no âmbito internacional vivia-se a permanente tensão da guerra fria. Os Estados Unidos, preocupados com a possibilidade de crescimento do socialismo, buscava doutrinar seus aliados contra essa ideologia. Como parte desse objetivo, em 1968, a Aliança para o Progresso, através da USAID ( Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) começou a promover cursos destinados a Oficiais das Polícias de todos os países sul-americanos. Esse treinamento, com duração média de três meses, era denominado de Curso Geral de Polícia e neles eram abordadas novas técnicas de policiamento incluindo práticas de tiro de defesa, metodologia de investigações e outros temas diretamente relacionados com a missão policial.
Como em toda América do Sul estava ocorrendo muitas manifestações públicas, foi dado ênfase às técnicas de controle de distúrbios civil.  Mas na essência o curso se destinava a doutrinar os Oficias contra a ideologia socialista, que era a tônica da política da guerra fria desenvolvida pelos Estados Unidos.
      Entre 1968 e 1970, no Governo de João Agripino, a PM da Paraíba, sob o Comando de Ozanan de Lima Barros, Oficial do Exército, encaminhou oito Oficiais para fazer esse treinamento.  O próprio Coronel Ozanan também passou por um estágio nos Estados Unidos.  Foram fazer esses treinamentos  os então Majores, Lindemberg Patrício, Geraldo Cabral de Vasconcelos, Geraldo Gomes da Silva, , Antonio Costa Filho e Ivanile  Lopes Lordão,  o Capitães, Jorge Pereira de Lucena e os Tenentes  e Ambrósio Agrícola Nunes e José Geraldo Soares de Alencar. 
No Comando do Coronel Glauber Cabral de Vasconcelos (1971/1975) foram encaminhados para frequentar o mesmo curso os Capitães Ednaldo Tavares Rufino, Hélio Leite de Albuquerque, Paulo Marcelino e Manuel Paulino da Luz.    Ao retornarem dos cursos esses oficiais ministravam palestras como forma de reproduzir as informações e conhecimentos adquiridos.
         Nesse contexto foi criado na Polícia Militar, em 25 de fevereiro de 1969, o Batalhão Especial de Polícia, mais conhecido por BEP. Essa Unidade Policial, que ficou responsável pelo policiamento da cidade de João Pessoa, era formada por quatro Companhias destinadas a atividades específicas: Companhia de Controle de Distúrbios Civis (CCDC); Companhia de Policiamento Ostensivo (CPO); Companhia de Policiamento de Guardas e Companhia de Policiamento de Trânsito. A CCDC recebeu treinamentos específicos para atuar nos casos de manifestações públicas em que houvesse quebra da ordem pública. 
      Nesses treinamentos foi empregada a doutrina de um manual escrito em espanhol e que foi trazido dos Estados Unidos pelos Oficiais que lá estiveram fazendo o Curso Geral de Polícia. São as práticas de controle de tumultuo, onde os policiais fazem uso de granadas de gás ou de efeito moral, capacetes especiais, cassetetes e escudos. Os policiais empregados são distribuídos em linhas em forma de cunha, escalação à direita ou à esquerda, e outras variações. Até hoje essas técnicas são utilizadas por todas as polícias do mundo.
        Em 1971,   no Comando da Corporação o Coronel Glauber Cabral de Vasconcelos, Oficial do Exército, a CCDC, mesmo continuando a realizar as ações de controle de tumultuo, foi transformada em Companhia de Radia-Patrulha. Dessa forma teve início esse tipo serviço, depois da aquisição da primeira frota de veículos equipados com Rádios Transceptores e da montagem de uma Central de Comunicações.  A frota operacional era composta por sete Fuscas, e dois veículos tipos TL, usados para condução de presos. Os veículos eram brancos com detalhes pretos e com o escudo da Companhia bem destacado nas laterais e no capô.
O então Governador Ernani Sátiro se empenhou pessoalmente na aquisição desse material tendo em vista o avanço que essa medida representava para a Polícia Militar.  A Central de Comunicações foi instalada no Primeiro Batalhão e deu origem ao COPOM e ao atual CIOP.  O Primeiro Comandante dessa Companhia foi o então Capitão Manuel Paulino da Luz, que depois ingressou na Magistratura e se aposentou como Desembargador. Na mesma época foi criado em Campina Grande um Pelotão de Rádio Patrulha que teve como primeiro Comandante o então Tenente Ramilton Sobral Cordeiro de Morais.
       A Companhia de Trânsito foi instalada em dependência do prédio onde funcionava o DETRAN, em Jaguaribe e em 1977 mudou-se para seu atual Quartel, no bairro do Roger, onde, em 2012 se transformou em Batalhão de Trânsito. Para instalar essa Companhia foi designado o Tenente Francisco Martins, que pouco depois deixou os quadros da Polícia Militar e ingressou na carreira de Professor Universitário, na UFPB. O Tenente Martins é irmão do Coronel Francisco de Assis Silva, atual Presidente do Clube dos Oficiais. 
     A Companhia de Guarda e a CPO foram instaladas na sede do Primeiro Batalhão, onde permaneceram até mudarem de denominações em 2008, com o advento da Lei que deu nova organização à Polícia Militar.
           Com a criação do BEP, o Primeiro Batalhão, que era sediado em João Pessoa e que até então fazia o policiamento da capital e das demais cidades do litoral e do brejo, deixou de executar essas atividades na Capital. O restante do Estado era policiado pelo Segundo Batalhão sediado em Campina Grande.  Em 03 de fevereiro de 1974, o Primeiro Batalhão, que continuava instalado em João Pessoa, foi transferido para Guarabira, e em 1975, no dia 20 de agosto, passou a ser denominado de Quarto Batalhão.   Na mesma data o Batalhão Especial passou a denominar-se de Primeiro Batalhão. Dessa forma, a Unidade Policial atualmente sediada na Praça Pedro Américo, em João Pessoa, é originária do BEP, criado em 1969. 
 
 
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