A revolta da fome

Compartilhe!


          A revolta da fome foi como ficou conhecido um conjunto de ações de um grupo de policiais militares da PMPB que resultou em queda da disciplina e processo. Esses fatos podem ser resumidos da forma que passamos a relatar.
    Até o mês de julho de 1990 todos os servidores do Estado recebiam seus vencimentos no Banco do Estado, o PARAIBAN.  Em decorrências de problemas administrativos, em agosto daquele ano o Banco entrou em liquidação extrajudicial, ou seja, fechou suas portas. Em consequência, o Governo, de início, teve sérias dificuldades para efetuar o pagamento dos servidores.
      No dia 25 de agosto estava previsto o pagamento do pessoal do serviço ativo da Polícia Militar. Todos os policiais militares que prestavam serviço na Capital iriam receber seus vencimentos no Quartel do 1º BPM, o que seria efetuado pela Caixa Econômica. Era comum, nos primeiros dias de pagamento, se formar grandes filas de policiais militares nas Agências do Paraiban, antes do Banco abrir suas portas. 
       Portanto, para que a Caixa Econômica pudesse efetuar esse pagamento no Quartel era necessário se preparar uma logística que atendesse a essa demanda. Os dirigentes da Caixa não procuraram o Comando de Polícia Militar para adoção de medidas que pudessem facilitar a execução desse trabalho.  E nem o Comando da Polícia procurou a Caixa para esse fim.
     A partir das sete horas da manhã do dia 25 de agosto começaram a chegar ao pátio do Primeiro Batalhão, dezenas de policiais militares das diversas Unidades da Capital. Todos fardados. Ninguém sabia como seria feito o pagamento.  O próprio Comandante do Batalhão não tinha informações concretas. Aos poucos já eram mais de duzentos policiais, que começaram a se agitar com a falta de informações.
     Já eram quase dez horas da manhã quando os servidores da Caixa Econômica chegaram ao Batalhão, onde não havia uma estrutura física própria para as atividades que iriam desenvolver.  Começaram a adaptar um espaço.  Houve necessidade de adoção de medidas burocráticas para identificar a quem se deveria pagar naquele dia. E foi aumentando a agitação do pessoal.
      Eram mais de duas horas da tarde e não tinha começado o pagamento. O pessoal revoltado foi para a Praça Pedro Américo, onde muitos policiais começaram a verbalizar a insatisfação do grupo e proferir palavras insultuosas ao Governo e ao Comando da Polícia Militar.  Alguns poucos tinham ingerido bebida alcoólica. A exaltação era intensa. E o pior é que ninguém dava informação.
     Comentava-se que o motivo do atraso era por que o dinheiro que foi repassado para a Caixa Econômica não seria suficiente para pagar a todos. Começaram a gritar “Polícia Unida, jamais será vencida” e  caminhar em direção ao Comando Geral em busca de uma solução.
      Repentinamente mudaram de direção e seguiram para o prédio do Correios e Telégrafos, depois se voltaram para o Batalhão. Pareciam sem rumo.  Ninguém aparecia para dá uma explicação.
      Na época existiam pequenos gradeados de madeira que protegiam os canteiros da praça em volta dos goitizeiros. Essas grades foram quebradas a chutes pelos policiais nos deslocamentos que faziam naquele momento.
      Ao tomar conhecimento do andamento da situação, o Comandante Geral resolveu se dirigir ao grupo e se colocou na calçada do Quartel de frente para o grupo, próximo aos mastros das bandeiras do Brasil, do Estado, e da insígnia do Comando, que estavam hasteadas. Pediu calma e tentou transmitir algumas informações, mas a tropa revoltada começou a gritar “Queremos nosso dinheiro. Estamos com fome”.
     O Comandante desistiu, entrou no Quartel e mandou que a Guarda fechasse as portas. Um grupo retirou a insígnia do Comando do mastro e a rasgou. Outro grupo ficou chutando a porta do Quartel que estava fechada. Não conseguiu abrir a porta, que é muito resistente, mas provocou alguns danos. O desespero era grande.
    Em seguida o grupo se dirigiu para o Batalhão onde foi informado que o pagamento iria começar o que efetivamente foi feito em clima de muita tensão e durou até as dez horas da noite, aproximadamente.
       Como era natural, esse fato ganhou destaque no noticiário, onde foi tratado como a  revolta da fome ou a grave da fome. A partir de então o Governo adotou medidas que evitaram o desespero dos demais servidores e os pagamentos foram transferidos para o Espaço Cultural onde se deram sem anormalidades.
     No dia seguinte aos fatos, foram tomadas as medidas disciplinares com a abertura de uma Sindicância que foi transformada em IPM e vinte e oito praças e um Oficial foram denunciados.
    Ao ser ouvido na Auditoria o Comandante disse que não tinha condições de identificar os acusados. Todos foram absolvidos.
     Nesses fatos não se fazia alusão a aumento de vencimentos. Os Policiais queriam apenas receber o dinheiro do mês. Mas, curiosamente, no mês seguinte o Governo anunciou o maior aumento, em termos percentuais, da história da Corporação (135% retroativo a agosto e mais 60% a partir de setembro). 
  VEJA TAMBÉM   As greves na PM da Paraíba de 1997 e 1999
 

Compartilhe!


Deixe um comentário

Seja o Primeiro a Comentar!

Notificação de
avatar