A força moral da farda

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A força moral da farda, ou seja, o respeito que ela impõe nas ações preventivas ou repressivas da Polícia Militar é algo concreto e pode ser observada na rotina policial. Vivenciamos uma situação em que essa força  ficou por demais demonstrada. Aqui vamos narrar esse fato como proposta de reflexão e estudo de caso.
         Na busca de divulgação da beleza de areia vermelha, um banco de areia situado a cerca de dois quilometros da Praia do Poço,  em Cabedelo, cidade vizinha a João Pessoa, o Governador Tarcísio Buriti resolveu   investir no carnaval que foi realizado naquele local em 1982.
       Para esse fim foi contratada uma famosa artista da Rede Globo, que estava no elenco da novela das oito.  A promoção ganhou amplo destaque na imprensa local.
      O Comandante da Polícia Militar, o Coronel Severino Talião de Almeida, determinou que fosse destacado um policiamento para o evento. Como o local das atividades tornava inviável o uso do fardamento comumente utilizado pela Polícia Militar, foi criado um uniforme mais adequado à situação.
Era um calção preto e uma camiseta branca com a inscrição “Polícia Militar”, na frente e nas costas.  Foram também utilizados cintos de Guarnições, cassetetes de borracha e aparelhos de rádio.  Como se tratava de uma grande concentração de público os policiais não portavam armas. Era a primeira vez na Paraíba que a Polícia Militar se utilizava de um uniforme desse tipo.
       Foi escalda uma Patrulha de vinte homens, sob o comando do 1º  Tenente Batista, todos integrantes da equipe de futebol da Companhia de Radiopatrulha. Eram policiais de bom porte físico e que tinham muita experiência em serviços operacionais.
      Durante a folia, a ordem foi mantida a custo de algumas intervenções da Patrulha. Quando os foliões começaram a voltar para a praia, o barco que transportava a comitiva da atriz global, a imprensa e uma enorme quantidade de penetras, encalhou durante alguns minutos, enquanto a maré subia, gerando momentos de muito pânico.
      De volta à Praia do Poço a Patrulha estava vibrando com o êxito da missão. Passava das quatro da tarde. Na beira da praia, com a tropa em forma e em atitude bem típica dos militares, o Tenente começava a agradecer o trabalho dos policiais quando uma multidão, nas proximidades das casas de veraneio acenou para os policias em gestos desesperadores.
Por ordem do Tenente todos correram para lá. Pelos relatos de algumas pessoas, um grupo de veranistas tinha sequestrado um policial e levado para o interior de uma residência localizada naquelas proximidades.   Sem maiores indagações a Patrulha se dirigiu ao local apontado.
    Era uma casa de arquitetura típica do local, com a frente para a praia, baixa, sem muros, terraço aberto e com o piso em cimento queimado. Na porta tinha uns cinco homens, em trajes de banho e com ar de arrogância. O Tenente perguntou pelo Policial. Um dos homens respondeu ”ele está lá dentro, e vocês podem ir embora”.
A Patrulha invadiu o terraço. Cerca de dez outros homens foram saindo do interior da casa e entrando em confronto com os policiais. O local era estreito para tanta gente. Não tinha como se fazer uso de cassete.  Lutaram durante uns dez minutos. Eram tapas, muros e pontapés para todo lado. Todos batiam e apanhavam. Em volta a gritaria era grande. Um rádio transceptor ficou espatifado.
     De repente dois policias fardados, ostentando no peito o escudo da Radiopatrulha, chegam ao local. Era um Sargento que em razão da sua idade era conhecido por “Tio Neco”, e um Soldado apelidado de “Penha Maga”, que era uma alusão ao seu porte físico. Ficaram parados e de braços cruzados na entrada do terraço.
     Quando os caras da casa viram esses policiais fizeram careira casa à dentro. A Patrulha entrou e resgatou o Policial. Era um Cabo da CPTran que estava em um quarto sentado em uma cama, bem tranquilo. Quando o Tenente lhe interpelou ele disse que estava interditando uma rua, ali próximo, quando um veículo desobedeceu a sua ordem e ele sacou seu revolver para intimidar o condutor.
Os ocupantes dos carros que vinham atrás achando que ele estava bêbado, lhe pegaram, tomaram sua arma e o levaram para dentro da casa onde aguardaria a chegada de uma Viatura Policial. Os caras da casa disseram que não sabiam que o grupo Comandado pelo Tenente era polícia e por isso reagiram.  A arma do Cabo foi devolvida e o caso dado por encerado. Nos corpos dos integrantes dos dois grupos viam-se marcas da briga.
     Dois policiais fardados, sem necessidade de uso da força física, resolveram um problema que vinte outros milicianos à paisana e usando os punhos, não conseguiram resolver. Ficou constada a força moral da farda.
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