1º de maio de 2016: Vinte anos do falecimento do Major José Vicente

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           O Major José Vicente dos Santos foi um dos mais vibrantes oficiais da sua época. Com aptidão para as atividades operacionais e dotado de elevada capacidade de liderança, o Major Vicente era um Oficial que gozava de boas relações com a tropa  e com os escalões mais elevados da corporação.  Neste trabalho vamos resgatar alguns dados sobre essa figura que foi um dos melhores amigos que tive nessa corporação.
        Muitos já disseram, e é verdade, que não podemos escolher os irmãos, mas podemos escolher os amigos. Foi isso o que ocorreu comigo em relação ao Major José Vicente dos Santos.  Conheci Zeca, como ele era mais conhecido, em meados da década de 1960, nos “assustados” e peladas jogadas com os pés descalços e em campo sem gramas, lá no Bairro dos Novais onde éramos vizinhos.
      Éramos Joca, o filho de João Catota, e Zeca, o filho do Cabo Barril.  Naquela época dirigimos uma sociedade recreativa que promovia esportes e festas dançantes nos finais de semana, o que nos tornou muito conhecidos no bairro.
    Em 1972 ele terminou o Curso Técnico de Construção de Estradas na Escola Técnica Federal e eu o Curso Científico no Liceu Paraibano.
    Nascido em 15 de julho de 1950, na cidade de Itambé, Vicente era filho de Severina Maria da Conceição e Manuel Vicente dos Santos, mais conhecido por Cabo Barril, que exerceu por muito tempo as funções de Comissário de Polícia em Bairros da cidade João Pessoa.
     No final de 1972 fizemos a Seleção para o Curso de Formação de Oficiais da PM, que pela primeira vez exigia o segundo grau completo.   Aprovados, seguimos para Academia de Polícia Militar de Pernambuco, na época ainda instalada no Bairro de Jangadinha em Recife.
      Agora éramos o Aluno Batista e o Aluno Vicente.  José Augusto Nery de Oliveira completou o grupo de representantes da nossa corporação naquele curso.   No ano seguinte passamos para as novas, amplas e modernas instalações da Academia, agora na cidade de Paudalho, onde terminamos o curso no mês de outubro de 1975. Foram três anos de convívios e de constante troca de ajuda, o que fortaleceu a nossa amizade.
   Fomos Aspirantes, segundo e Primeiro Tenentes e Capitão nas mesmas datas, e nesses postos servimos no Primeiro Batalhão.  De 1976 a 1982 comandamos operações com empregos de grande efetivos em toda área da grande João Pessoa, o que seria atualmente feito pelos grupos especiais da corporação. Eram, por exemplo, manifestações estudantis, greves de bancários e de motoristas de coletivos e reintegrações de posse envolvendo grande quantidade de ocupantes.  Fazíamos treinamentos e operações de controle de distúrbios civis, com o uso de escudos de alumínio e cassetes tamanho família.
     Nessas atividades, nas instruções da tropa e nas formaturas, nossa participação era marcada pela vibração, entusiasmo e muita dedicação, o que contagiava nossos comandados.  Por certo, muitos dos que vivenciaram esses momentos se lembram.  O Tenente Vicente estava sempre bem humorado e fazia muitas gozações com seus amigos de caserna ou fora dela, mas também era alvo dessas mesmas gozações.  Como ele tinha o peso acima do normal para a sua baixa estatura seus amigos chamavam-no, carinhosamente, de "Jarrão".
       Era impressionante a facilidade que Vicente tinha para fazer amizades. Onde quer que ele estivesse, no quartel ou fora dele,  estava sempre rodeados de amigos e fazendo gozações com alguém ou sendo alvo delas.
      Seus subordinados lhe tinham muito carinho, atenção e respeito. De maneira informal e descontraída, ele tratava quase todo mundo por “amarelo”.   Esse seu jeito brincalhão, entretanto, não lhe tirava o espírito disciplinador. Era “caneteiro”, como diziam, ou seja, não tolerava indisciplina.  Mas, também era muito disciplinado.
    No final de 1982 ele foi promovido a Capitão de designado para Comandar o Núcleo de Policiamento de Santa Rita, que depois foi transformado em Companhia e     atualmente é o 7ª Batalhão de Polícia Militar.
    Durante muitos anos Vicente foi instrutor da disciplina Operação de Defesa Interna e Territorial, mas conhecida por ODIT, nos diversos cursos de formação de Praças, na qual havia muitas aulas práticas, ocasião em que ele demonstrava seu entusiasmo e qualidades de liderança.
   No início de 1978 o Tenente Vicente se casou com Evânia Maria de Souza, natural do Rio de Janeiro e que residia no Bairro dos Novais. Desse casamento nasceram quatro filhos: Kelly, Kelson, Kleison e Kelvia.
    Em março de 1987, no início do Governo Burity e com a PM sob o Comando do Coronel Marden Alves da Costa, o Capitão Vicente assumiu o Comando da Companhia de Trânsito e ali permaneceu até 14 de março do ano seguinte, quando foi designado para fazer um Curso de Trânsito Urbano e Rural na Polícia Militar de São Paulo. Foi a época em que o Governo Federal começou a incentivar a criação de Batalhões de Trânsito Rodoviário, que na Paraíba foi criado, mas não foi ativado. A partir de então ele começou a ministrar instrução de trânsito, matéria que dominava bem.
       Como Capitão Vicente foi ainda, entre outras funções, Comandante da Companhia de Choque, Chefe do COPOM, Coordenador de Cursos de Formação, no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP) e Subcomandante do 1º Batalhão.
     Em 1990 o Capitão Vicente fez o Curso de Aperfeiçoamento de Oficias na Academia de Polícia Militar da Bahia, se habilitando para as promoções aos postos de Oficial superior. Na busca de melhorar a sua capacidade como instrutor ele, juntamente com outros Oficiais, fez o Curso de Metodologia do Ensino, na UFPB, ainda em 1990.
     Em agosto de 1991 ele foi promovido a Major e nesse posto foi Chefe da 2º Seção do Comando Geral, Coordenador da Operação Manzuá e Vice-diretor da DAL, no decorrer de 1992/93.
    No dia 14 de março de 1994 o Major Vicente voltou a assumir o Comando da Companhia de Trânsito. Quando se encontrava no exercício dessas atividades, na manhã do dia 9 de dezembro de 1994, nas proximidades do Colégio Liceu Paraibano, ele sofreu um acidente de trânsito, quando se deslocava de sua residência para a Companhia de Trânsito em uma Viatura da Corporação.    Naquela oportunidade Vicente, que estava com o cinto de segurança, sofreu uma contusão no tórax e uma forte compressão abdominal.   Por essa razão ele foi dispensado das funções de Comandante da Companhia de Trânsito em 12 de dezembro de 1994.
      Depois de medicado no Hospital Edson Ramalho, ele ficou em convalescência em sua residência durante cinco meses e voltou à suas atividades no dia 13 de maio de 1995, agora como Subcomandante do 5º Batalhão.    Em dezembro daquele ano ele começou a perder peso de forma muito rápida e voltou a buscar ajuda médica.  Depois de diversos exames, foi constatado, que possivelmente em decorrência do acidente de trânsito, ele teve sérios problemas abdominais que resultaram ou agravaram a existência em um câncer que lhe levou a óbito no dia 1º de maio de 1996, quando ainda não tinha completado 46 anos de idade.
     A PM da Paraíba perdeu um grande Oficial e eu perdi um grande amigo.
                          2º Ano do CFO - 1974 - Academia do Paudalho - Nº 1 Batista - Nº 2 Nery - Nº 3 Vicente
                        Cadetes Batista e Vicente  - 7 de setembro de 1975                     CFO 73/75 na sala da armas na Academia do Paudalho
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6 Comentários em "1º de maio de 2016: Vinte anos do falecimento do Major José Vicente"

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Vaumir Fernandes
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Dois valorosos companheiros,tanto Batista como Vicente.Coube-me a responsabilidade de, sob a presidência da Junta Médica Especial da PM, proceder à Reforma por Invalidez, no posto de Ten Cel, do memorável companheiro Vicente, tendo Laudo Médico sido publicado exatamente no dia de sua passagem para o plano superior. Tenho na memória, inúmeros memoráveis momentos vividos com nosso saudoso Vicente. Agradeço ao Camarada Batista a edição desta matéria em sua homenagem. Um grande abraço e que Deus nos dê vida longa para continuarmos nossa jornada.

coronel batista
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Obrigado camarada Vaumir. Com certeza vc teve um convívio muito intenso com o nosso grande amigo. Oportunamente conversaremos sobre esses memoráveis momentos. E lá se foram vinte anos…

Cel Josman Albuquerque
Visitante

Parabéns Batista pela justa homenagem ao saudoso Maj Vicente!

coronel batista
Visitante

Obrigado Josman. Estamos apenas cumprindo um dever de amigo.

Marcus Vinícius Barros de Azevedo
Visitante

Tive pouco contato com o Maj Vicente. Ele foi nosso instrutor de Policiamento de Trânsito, salvo engano, na APMCB, em 1993 ou 1994.

José da Silva Monte
Visitante

A história sempre foi escrita da forma como tão bem testualizou o Coronel João Batista. Como bem disse o Beatles JOHN LENNON todo lider termina sempre tragado pelo inusitado. E assim, o vaticínio se cumprirá, inexoravelmente!